Vale a pena dar atenção a este Boato

Há um Boato a correr por Lisboa e começa na Rua Rodrigues Sampaio. A culpa é do chef Manel Perestrelo que o abriu em 2019 e que lhe tem vindo a conferir saber e sabores, numa carta entretanto renovada e que cruza o tradicional português com influências do mundo.

Para começar, O Boato é bonito. Numa sala com luz, a decoração é de aconchego moderno, renovada durante o confinamento. Para seguir, quem recebe é simpático e de uma atenção natural. Depois, bem depois há a comida. E se há coisa que se diga e se retenha é… perfeição. Tudo que chegou à mesa estava no ponto, mais que correcto.

Logo de início, umas guiosas de camarão, repletas de sabor e textura, com cozedura ao minuto. Não ficou uma no prato para contar história. Ainda em jeito de entrada, uns peixinhos da horta com tempura de choco. Estranha-se? Pois, mas estes também se entranharam. O feijão verde correctamente cozido e a pome envolvente leve, com sabor qb a conferir diferenciação sem atropelar ou estragar. Pois, e também nesta entrada, não houve um único exemplar que regressasse no prato até à cozinha.

Garanto-lhe que para final de tarde já começa a ficar satisfeito. E, é um facto, feliz.

Mas a sugestão do chef foi que se experimentasse uma das suas criações que mais tem merecido aplausos e repetição. Lá está, novo cruzamento de geografias e culturas: risotto de quinoa e vieiras. As vieiras são aquela coisa que nem sempre fica como deve. Por vezes quase borracha, outras meias cruas. Não foi o caso, ou não tivessem sido servidas suculentas e bem harmonizadas com o referido risotto.

Ainda há espaço para atum? Já não houve, pelo que seguimos em frente para as sobremesas. Umas uvas com calda de lima e sorbet de limão e um praliné com cobertura de chocolate amargo. Se algum dia for ao Boato – que merece visita, acredite – e tiver que escolher, diria que fica melhor pelo primeiro. Logo eu, que sou dos chocolates…

Ah, e se não quiser nada disto, sente-se ao balcão, peça umas ostras ou umas amêijoas. Que apesar deste Boato estar bem no centro de Lisboa, os sabores, por aqui, são muito a mar.

Texto de M.ª João Vieira Pinto

 

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