Um problema de naming
Terminámos mais um Festival do Clube Criativos Portugal, o 23.º. Para quem não conhece, o Clube Criativos é uma associação sem fins lucrativos criada para promover a excelência e a união entre os profissionais da criatividade comercial em Portugal. Mas o CCP tem um problema de naming desde a fundação. Tem sido confundido com um clube dos criativos, uma espécie de clube do bolinha dirigido aos que se sentam nos departamentos criativos das agências de publicidade. Essa percepção não podia estar mais errada e há anos que tentamos corrigir, mostrando que somos um clube que quer agregar todos os que trabalham com a criatividade comercial em Portugal, seja qual for a cadeira em que se sentem. Para isso desenvolvemos muitas iniciativas, sendo o festival e a entrega de prémios uma delas. Para quem não pode estar presente, vou tentar resumir aqui o que aconteceu no Festival deste ano..
Sete grupos de júri votaram em sete categorias, primeiro em casa e depois em reuniões presenciais, os cerca de 950 trabalhos a concurso, um recorde histórico de inscrições na história do festival. Nestes grupos estiveram representadas dezenas de empresas portuguesas através dos seus criativos, estrategas, gestores de projecto e marketeers, mas também profissionais que trabalham noutros mercados, como Japão, EUA, Brasil ou Países Baixos. Contámos com um grupo de júri extra, jornalistas de meios generalistas e da especialidade, que escolheram entre todos os ouros o que foi para eles o melhor trabalho do festival.
Como resultado das votações, atribuímos um grande prémio ao “O Ídolo” da Uzina para a Samsung, que coincidiu com o grande prémio dos jornalistas, e um grande prémio para o bem para “Preenchido pela Paralisia” da Havas para a APCL. A agência do ano global foi a Solid Dogma e o anunciante do ano foi a Betclic. Além disso, escolhemos as agências, os estúdios e os anunciantes que melhor se destacaram em cada subcategoria, num retrato do mercado que se pautou pela diversidade.
Atribuímos o prémio Carreira ao João Nunes, ex-director criativo da Euro-RSCG e hoje guionista de referência, que fez um bonito discurso de homenagem aos invisíveis da profissão, esses que asseguram que existem agências, trabalho de dia-a-dia e indústria. E atribuímos as primeiras bolsas Zona II, resultado do programa de diversidade e inclusão promovido pelo clube, em parceria com a ETIC, a FLAG, a EDIT, a Lisbon Digital School e a Academia CCP.
Anunciámos os vencedores dos Briefs Abertos CCP, uma iniciativa dirigida a jovens criativos com menos de 30 anos, que responderam a desafios de marcas reais. Abrimos o festival ao público com o Presidentes ao Palco, onde os seis presidentes de júri falaram de transformação na primeira pessoa. O Pedro Pires, da Solid Dogma, falou de grandes saltos transformativos nas artes, a Luciana Cani, da AKQA, da importância dos soft skills na criatividade, a Cláudia Cristóvão, do programa RARE da Google, onde trabalha, o Nuno Cardoso, da Nossa, da importância de formar a geração que virá a seguir a nós, o Augusto Fraga, da Krypton, falou do que é mais importante para ele sempre que começa um projecto e o Rodrigo Albuquerque, da Arena Media, da transformação que o consumo recente de meios em Portugal tem sofrido.
Voltámos a organizar uma Ilustra Hackathon com a ajuda da EDP, da ETIC e do Jorge Silva, da Silva Designers. Desta vez fizemo-lo num novo formato, com 33 novos ilustradores vindos de escolas de todo o país, que ilustraram ao vivo o tema do festival. O resultado está exposto no site do clube.
Inaugurámos as tertúlias Trabalho e Conhaque, na House of Hope and Dreams. Organizámos quatro conversas com jantar. Na primeira noite, em “como internacionalizar o nosso trabalho?”, ouvimos o Frederico Martins, a Joana Astolfi, o João Coutinho, o Armando Ribeiro e tantos outros sobre o que é preciso para trabalhar para outros mercados. Na segunda, falámos de “como atrair e reter talento”. Ouvimos quem contrata, como o Erick Rosa ou o Edson Athayde, mas também quem fica e quem se vai embora, como o Ruben Barros e o João Araújo, a Mariana Reis e a Teresa Pinho. Na terceira, falámos sobre “como organizar as novas equipas de trabalho pós-pandemia”. Ouvimos directores criativos e responsáveis de negócio, mas também o Pedro Almeida, psicólogo, professor do ISPA e especialista em liderança e gestão de equipas. Na última noite, sobre “as poucas mulheres nas lideranças criativas”, começámos com a Susana Sequeira e ouvimos 40 mulheres falarem dos seus percursos, dificuldades e oportunidades. Os resumos das 4 noites serão publicados em breve.
Acabámos o festival no dia 1, numa gala transmitida em directo no site do clube, apresentada pelo Bruno Aleixo e pelo busto, e animada pela música do Gohu, alter-ego do Hugo Veiga. Acabámos cansados, mas com a sensação de missão cumprida. Até para nós é incrível o que conseguimos fazer mais um ano. Só não conseguimos resolver o nosso problema de naming.
Susana Albuquerque
Directora criativa da Uzina
Susana.albuquerque@uzina.com
Artigo publicado na edição n.º 303 de Outubro de 2021