TIP Talk: Indivíduo vs Empresa fora de Portugal

Quando falamos de indivíduos portugueses a trabalhar noutros países, a lista de qualidades parece não ter fim. Por outro lado, quando o assunto são empresas portuguesas a operar além-fronteiras, o caso muda de figura e a penetração no mercado é muito mais complexa. A visão é de António Coimbra, CEO da Vodafone Espanha, que contou a sua experiência no país vizinho – e não só – na mais recente TIP Talk organizada pela Marketeer, subordinada ao tema TIP on Experiences… de Portugal para o Mundo. A ele juntou-se Mário Guerreiro, vice-presidente do Grupo Volkswagen na América, numa conversa em que o mundo da gestão dentro e fora de Portugal deu o mote.

Na verdade, embora o objectivo fosse comparar os modelos de gestão em Portugal com os praticados no estrangeiro, o foco acabou por iluminar os portugueses e o que os distingue dos restantes profissionais nas mais diferentes áreas. Se sempre ouvimos dizer que o português é “desenrrascado”, António Coimbra é mais específico e diz que é mestre da arte de adaptação. Entre as vantagens que os portugueses exibem, o CEO da Vodafone Espanha destaca a excelente preparação académica e, acima de tudo, a facilidade de adaptação ao ambiente que o rodeia, seja a Alemanha ou o Japão. Mário Guerreiro concorda e fala em capacidade de improviso e sobrevivência. Segundo o vice-presidente do Grupo Volkswagen na América, a facilidade de adaptação deve-se à necessidade de sobreviver num meio estranho, tendo de provar o seu valor – não por ser de Portugal mas simplesmente por ser de outro país.

Quanto a empresas, o consenso vai para a dimensão dos recursos. Se em Espanha, por exemplo, o mercado é maior a par dos recursos disponíveis, em Portugal os recursos acompanham também o tamanho do país e são mais reduzidos. Contudo, esta mesma realidade contribuiu para a tal capacidade de adaptação. É que os portugueses parecem ter aprendido a fazer mais com menos e a tirar partido do que têm à disposição.

Há ainda outra desvantagem nas empresas portugueses, além dos parcos recursos: a formalidade. Tanto Mário Guerreiro como António Coimbra apontaram o excesso de fomalidade como um obstáculo na gestão das empresas e no seu desenvolvimento. Adicionalmente, lembra Mário Guerreiro, Portugal tem uma cultura de pessimismo que é já crónica e que impede, muitas vezes, de mergulhar na piscina de oportunidades – metáfora que empregou para explicar as diferenças entre portugueses e outras culturas de negócio.

A finalizar a TIP Talk, voltámos ao início. «Ser português não é uma limitação», disse António Coimbra mas o mesmo não se aplica às empresas portuguesas. O CEO da Vodafone Espanha deu o exemplo do País vizinho para referir que é muito mais fácil, em Portugal, uma empresa estrangeira competir com as nacionais do que em Espanha, que é um mercado mais proteccionista, ainda que aberto ao mundo. Posto isto, é difícil para as empresas portuguesas serem portuguesas até em Portugal, quanto mais noutros destinos.

Texto de Filipa Almeida

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