«Falta ao povo português a capacidade de se vender bem», diz Carlos Moedas em TIP Talk com Nuno Gama
Autenticidade e imitação é uma dicotomia que costuma acompanhar o processo criativo, seja ele de que área for, e foi precisamente a questão “Somos autênticos ou cópias?” que lançou a mais recente TIP Talk da Marketeer. Para Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a única forma de sermos originais vem da inovação.
«As sociedades que criam riqueza são aquelas que são inovadoras. Ser inovador é ser diferente do sistema, é construir algo que os outros nunca pensaram e com isso vender produtos e criar empresas. A inovação é um processo e cruza diferentes disciplinas com diferentes formas de pensar», afirma o autarca da capital portuguesa, salientando que foi isso mesmo que o designer Nuno Gama fez com a sua carreira.
Nascido na margem Sul do Rio Tejo, em Azeitão, Nuno Gama cedo demonstrou paixão e aptidão pela moda, criando as suas próprias peças de roupa ainda na adolescência. Tudo se efectivou quando tomou a decisão de ir estudar moda para o Porto e saiu de casa dos pais e da Avó Bina, colocando de parte os comentários negativos que foi ouvindo das pessoas ao longo dos anos.
Para o criador português, a inovação vem da capacidade de acreditar em si mesmo, na sua paixão e na sua natureza, não esquecendo, contudo, o que os outros têm para dizer. No fundo, uma auto-confiança interior, oriunda especialmente das experiências de vida que concedem força para avançar.
Humanidade vs. Tecnologia
«Sou da velha guarda. Sou do papel, da esferográfica, dos lápis de cor… O desenho tira-me o stress, a desenhar encontro novas soluções. Actualmente, já recorro a mais meios tecnológicos, mas noto que quando exageramos no veículo não-humano perde-se muita coisa. Prioridade, por exemplo. O factor humano ainda é uma coisa muito importante. Tanta coisa pode acontecer numa conversa…», sugere Nuno Gama.
E Carlos Moedas não poderia estar mais de acordo, referindo que «o que resta para nos diferenciarmos é o lado humano» num Mundo onde quase tudo pode ser transformado em zeros e uns e, consequentemente, digitalizado. De facto, a moda vai além do digital, reitera o autarca, já que permite a diferenciação.
Mas, então, seremos ou não autênticos? Não passaremos de cópias? Carlos Moedas responde dizendo que Nuno Gama é um exemplo de como há autenticidade em Portugal e que o País pode ter a ambição de trazer para cá aquilo que de bom se faz noutros locais do planeta, adaptando à realidade nacional. Contudo, para o presidente da Câmara de Lisboa falta ao povo português a capacidade de se vender bem.
O designer, por outro lado, crê que o que falta em Portugal é a redescoberta da sua autenticidade que, afirma, «é a melhor moeda de troca» que o País pode ter. «Temos algo de diferente para oferecer aos outros e com a leitura do passado e os olhos no futuro» é possível potenciar o que há de único por cá.
Texto de Beatriz Caetano
Foto de Paulo Alexandrino