A entrada da Shein na histórica loja de departamentos BHV Marais, em Paris, está a gerar uma verdadeira tempestade política e industrial em França. A parceria, revelada pela publicação Jing Daily, prevê que a gigante chinesa do ultra fast-fashion ocupe, já em Novembro, mil metros quadrados no sexto andar da BHV, um gesto desesperado para atrair fluxo de visitantes e recuperar liquidez.
Com mais de 7 milhões de euros em facturas em atraso, a BHV enfrenta uma crise financeira profunda. A colaboração com a Shein surge como um “balão de oxigénio” para a retalhista, mas está a sair cara em termos de imagem. Conforme detalhado pela Jing Daily, marcas francesas como Le Slip Français, Aime e Maison Lejaby anunciaram a sua saída imediata do espaço, acusando a BHV de trair os valores da moda ética ao associar-se a uma marca amplamente criticada por exploração laboral, greenwashing e um modelo de negócio centrado em consumo rápido e descartável.
A reação política também não se fez esperar. A Banque des Territoires, ligada ao Estado francês, retirou o apoio ao processo de aquisição da BHV pela Société des Grands Magasins (SGM), alegando que a parceria entra em conflito direto com os seus compromissos ambientais. A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, pronunciou-se contra o acordo, e segundo a Jing Daily, o Parlamento francês está a preparar uma nova legislação que poderá impor taxas adicionais e restrições publicitárias às marcas de ultra fast-fashion.
Mais do que uma decisão comercial, esta parceria simboliza o declínio dos grandes armazéns tradicionais, escreve a Jing Daily. Durante décadas, espaços como a BHV, o Printemps ou as Galeries Lafayette foram vistos como centros de curadoria cultural, moldando tendências e oferecendo experiências. Hoje, esse papel foi absorvido por formatos mais contemporâneos, como o Dover Street Market, Kith ou estruturas como a Haus Nowhere, que aliam múltiplas marcas sob uma direção criativa coesa e moderna.
No que toca à Shein, a estratégia de globalização da empresa chinesa também enfrenta sérios obstáculos. Apesar de ter registado um aumento de 19% nas receitas em 2024, totalizando cerca de 38 mil milhões de dólares, os lucros da empresa caíram mais de um terço, segundo dados avançados pela Jing Daily. O aumento dos custos logísticos, de marketing e de conformidade regulatória está a afetar as margens, enquanto a UE investiga práticas como “dark patterns” e alegações ambientais enganosas. Nos EUA, discute-se o fim das isenções fiscais que tornaram o modelo de envios em micro-lotes da Shein tão competitivo.














