Seguros: boas perspectivas para 2019
O ano de 2018 foi de transformação no sector dos seguros, tendo sido feita uma aposta na automação de processos, a
comunicação com o cliente revela cada vez mais proximidade e o sector em si é cada vez mais atraente para os profissionais. Indícios positivos para que o próximo ano venha a ser ainda melhor.
Texto de Rafael Paiva Reis
Fotos de Carlos Ferreira
O ano de 2018 foi de alguma transformação para o sector segurador, que se depara com diversas solicitações nas áreas da saúde, bem-estar, sustentabilidade e automóvel, resultado de uma sociedade em constante evolução, surgindo novos temas aos quais esta área tem de se adaptar. «Somos uma área muito resiliente, que acompanha a inovação na sociedade e dá respostas às tendências que vão surgindo», referem os presentes no pequeno- almoço de debate do sector de Seguros da Marketeer, que decorreu no Hotel Dom Pedro, em Lisboa.
À conversa estiveram Ana Sereno, (Allianz), André Taxa (Tranquilidade), José Villa de Freitas (Fidelidade), Ester Leotte (Advance Care) e Sandra Santos (Via Directa), concordando que 2018 foi um ano que permitiu saber melhor em que fase se encontra o sector e o que é necessário fazer para estarmos preparados para começar a integrar todas as soluções para dar as respostas necessárias. «O ano de 2018 foi de várias mudanças, não só em termos de processos e estruturas como também se assistiu a uma nova mentalidade. Os players do sector esstão cientes de que é necessário adoptar novos comportamentos para fazer frente aos desafios do mercado », explicam os responsáveis.
O sector está a ganhar uma velocidade de trabalho considerável, traduzindo-se num resultado que não se imaginava possível de alcançar. «Houve muita transformação de fundo, em processos, em equipas… Muito foi feito e isto não se cinge apenas à questão do RGPD. Falamos de novos processos digitais, funcionalidades inovadoras, tudo feito num ano. E isto, num sector que é visto como velho e burocrata, deixa-nos muito orgulhosos», afirmam os responsáveis.
Estas transformações resultam num sector que se mostra cada vez mais atractivo, aumentando o número de profissionais que querem fazer as suas carreiras nos Seguros. E também as marcas apostam mais nesta área. Mas, acima de tudo, há um maior foco no cliente, que abre novas perspectivas futuras.
«Temos boa imagem, uma aura de confiança, beneficiamos de uma conjuntura onde as seguradoras estão mais bem vistas e assiste- se a uma clara modernização. Mas a grande mudança é o foco no cliente. O marketing e a componente de cliente dominam o negócio da seguradora e não a produção. Tudo o resto decorre daqui. Há, também, uma clara percepção de que há vários tipos de cliente e isso obriga a actuar de forma distinta. Continuamos com uma rede de mediação fantástica para um tipo de cliente; começamos a apresentar propriedades digitais para outros perfis e o facto de nos focarmos no cliente permite-nos encarar o futuro de outra forma », vincam.
Para o próximo ano, o mote será dar continuidade à automação de processos, uma vez que há ainda muito por fazer neste âmbito, apesar de se verificarem bons resultados. «Os clientes não se apercebem, mas há determinados processos que estão muito mais rápidos », explicam os presentes.
Menos técnico, mais próximo
Ao nível de comunicação, os players mostram-se, hoje, mais claros, apesar de todo o vocabulário inerente ao negócio. Assiste-se a um maior foco das marcas na saúde e, em geral, sente-se uma maior presença das marcas seguradoras no dia-a-dia das pessoas, seja no desporto, na música, responsabilidade social ou na ligação às startups.
Perante esta maior proximidade com a sociedade, também o vocabulário utilizado pelas seguradoras mudou. «Já não se trata de um estilo de comunicação tão técnico como no passado. Aliás, essa vertente técnica comandava toda a comunicação. Hoje, derivado de uma maior consciência, de que foi fundamental esta mudança de paradigma da comunicação », explicam os presentes.
As seguradoras estão a tentar levar estas mudanças aos mediadores, mas, neste caso, é uma situação mais complicada, pois trata-se de um canal de distribuição que não pertence aos players, à semelhança do que acontece no sector da banca, por exemplo. «É, portanto, mais difícil passar uma mensagem consistente e uniformizada. E envolver os mediadores no processo de digitalização, uma forma de comunicação e abordagem comercial, é um trabalho difícil, pois estamos a falar de uma rede muito vasta e com níveis de formação e expertise diferentes», alertam.
Saúde ganha força
O melhor contexto económico tem-se traduzido em melhorias no negócio, com especial destaque nos ramos obrigatórios. Os acidentes de trabalho, fruto de haver mais emprego, aumentaram, o disparo nas vendas de automóveis também elevou o número destes seguros. Mas o mercado está a apostar na diversificação, nomeadamente nos ramos não-obrigatórios, como a saúde, que representam grandes oportunidades. Aliás, a área da saúde tem vindo a aumentar e perspectiva- se que venham a ganhar um peso ainda mais importante, registando um foco de inovação tremendo. «A saúde é um drive e, perante as notícias sobre o Sistema Nacional de Saúde, longas filas de espera, entre outros problemas, originam uma apetência enorme por seguros nesta área», afirmam os presentes no encontro.
Quanto ao futuro, com o aumento da esperança média de vida, as doenças do foro mental começarão a ter mais peso, uma vez que, anteriormente, a maioria dos seres humanos não vivia tempo suficiente para as desenvolver. «É por esse motivo que há uma maior oferta na prevenção. Porque, há uns anos, eram doenças residuais, até porque a esperança média de vida era inferior. Agora, com o aumento desse número, essas doenças vão ganhar mais expressão», afirmam os responsáveis presentes no pequeno-almoço.
Quanto ao ramo Vida, as seguradoras não têm vindo a desenvolver grandes esforços para promover estes seguros. Os responsáveis reconhecem que deve continuar a existir um esforço por parte das seguradoras, que devem ser cada vez mais claras e simplificar a comunicação. Mas os consumidores, por vezes, não fazem as análises que deveriam fazer. «Há um esforço, dado da comunicação, para que o consumidor fique mais desperto para o seguro de vida e os seus benefícios. Por outro lado, da parte da rede de mediação, devem estar mais focados e, sobretudo, preparados para este produto, pois levanta outro tipo de questões», afirmam.
Automóvel é um desafio
Numa perspectiva de crescimento, em oposição à Saúde, está o Automóvel, não se prevendo que venha a evoluir à velocidade que se espera. «Aliás, é por isso que temos retirado o foco dos mediadores no Automóvel, caso contrário, no futuro, não terão produtos para vender», afirmam os presentes no pequeno-almoço.
Perante a emergência dos veículos autónomos, a questão dos seguros para estas viaturas causará muito impacto. No entanto, ainda é cedo para se traçar um rumo nesta área, até porque a própria indústria automóvel não tem este assunto consolidado. «Não se sabe quem serão os players a ter mais destaque: se serão as marcas automóveis ou as tecnológicas, como a Google ou Amazon, a vender os carros já com os seguros associados. Há uma série de nuances que ditarão o rumo da mudança. Para as seguradoras, nesta fase, resta acompanhar os desenvolvimentos do mercado, pois esse mercado ainda está numa fase com muita indefinição», afirmam.
Quanto à emergência de novas tecnologias, existe a ideia e o medo de que a inteligência artificial possa vir a substituir as pessoas. No entanto, partilhou-se um pensamento que atesta a necessidade de olhar estas tecnologias como ferramentas e não como ameaças. «Há uma ideia interessante que diz que a inteligência artificial não vai substituir os managers, mas os managers que utilizam a inteligência artificial vão substituir os que não a utilizam. Num futuro próximo, vão começar a surgir no mercado soluções de inteligência artificial e de inovação aplicadas ao interface com o cliente», explicam responsáveis presentes, vincando que, quanto a este tipo de tecnologias, como em tudo, o que fundamental fazer é conseguir tirar o máximo partido das mesmas.
Novos planos para a reforma
Actualmente, mais de metade da população portuguesa tem mais de 48 anos. São as pessoas que têm mais dinheiro e mais disponibilidade, que compram produtos e serviços de maior valor e representam um enorme mercado. Mas, a maior parte das marcas não se foca neste segmento, nomeadamente com soluções a pensar na reforma. «Abandonámos o segmento de poupança, focando-nos apenas no Vida. Mas há espaço para ambos», afirmam os responsáveis, que salientam as dificuldades de promover e vender este tipo de produtos.
Actualmente, verifica-se uma falta de atractividade das taxas de produtos de reforma. Os Planos Poupança Reforma (PPR) garantem valores tão baixos, que é quase impossível tornar estes produtos aliciantes. «Investir num PPR não se traduz num grande crescimento, praticamente o cliente apenas coloca aquele dinheiro de lado. Alternativas com potencial? Produtos de risco, mas não é algo que a maioria dos clientes pretenda fazer », referem os presentes.
Os presentes no pequeno-almoço de debate vincaram ainda que assiste-se a uma maior preocupação da população em torno do que irão fazer quando se reformarem. Mas as soluções apontam mais ao empreendedorismo que à poupança.
«Hoje vivemos mais e melhor e há um grande desafio. Esta componente da reforma, de ambicionar ter algum rendimento nessa parte da vida, faz com que nos voltemos a desafiar e a criar projectos pessoais. Ao invés de usufruir de um PPR, muitas pessoas decidem criar um projecto pessoal nessa fase da vida. E essa será uma tendência à qual teremos de nos adaptar e, a partir da mesma, criar novas oportunidades de negócio», finalizam.
Artigo publicado na edição n.º 268 de Novembro de 2018.