Se os relacionamentos têm um impacto importantíssimo na nossa vida, porque é que algumas pessoas clamam estar bem sozinhas?

Por Sara Moreira, fundadora do conceito Mudar com Amor

Experiências passadas de relacionamentos negativos ou traumáticos podem levar algumas pessoas a preferir a solidão como forma de protecção emocional. O medo de ser ferido novamente pode levar a evitar novos relacionamentos e à escolha de um estilo de vida mais solitário como uma forma de autopreservação.

É vital considerar que aprendemos sobre relacionamentos a partir das interacções com os nossos pais ou cuidadores. A maneira como eles se relacionam entre si e connosco exerce uma influência significativa no desenvolvimento da criança, moldando a sua compreensão e abordagem em futuros relacionamentos. 

A observação do comportamento dos pais torna-se um modelo para a compreensão da criança sobre como lidar com conflitos, expressar emoções e estabelecer conexões interpessoais. As interacções parentais influenciam não apenas as habilidades sociais da criança, mas também a sua auto-estima e a percepção de si mesma enquanto ser social.

Os estudos têm consistentemente apontado que os relacionamentos desempenham um papel crucial no bem-estar emocional, cognitivo e na saúde geral das pessoas. A qualidade dos relacionamentos interpessoais está intimamente ligada à felicidade, cognição e memória.

Começando pela felicidade, a presença de relacionamentos positivos está associada a níveis mais elevados de satisfação e a uma sensação geral de bem-estar emocional. A conexão emocional, a partilha de experiências e o apoio mútuo proporcionados por relacionamentos saudáveis podem contribuir significativamente para a sensação de pertencer e a realização pessoal.

Do ponto de vista cognitivo, os relacionamentos desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e na manutenção das funções cerebrais. O envolvimento social activo tem sido associado a uma redução do declínio cognitivo em idades mais avançadas. A estimulação mental proveniente de interacções sociais contribui para a plasticidade cerebral e pode ajudar a preservar a função cognitiva ao longo do tempo.

Além disso, o impacto dos relacionamentos na memória é notável. A partilha de histórias, a construção de memórias compartilhadas e as interacções sociais são de extrema importância.

Em suma, os relacionamentos desempenham um papel vital na promoção da felicidade, na preservação da função cognitiva e na construção de memórias significativas. Valorizar e cultivar conexões interpessoais saudáveis é essencial para um estilo de vida equilibrado e satisfatório.

É comum, convencermo-nos erroneamente de que estar sozinhos é benéfico para o nosso bem-estar, quando na realidade, este comportamento reflecte crenças profundamente enraizadas sobre nós mesmos e sobre como nos relacionamos com os outros. E, como já vimos, têm origem de experiências passadas, traumas, e de uma falta de autoconhecimento. É fundamental reconhecer e abordar essas crenças para cultivar relacionamentos mais saudáveis e alcançar um equilíbrio adequado.

Crenças: Examinar conscientemente as crenças que sustentam a preferência pela solidão é o primeiro passo. Perguntas como “O que eu acredito sobre mim mesmo e sobre os outros que contribui para essa escolha?” podem ajudar a desenterrar as razões subjacentes.

Autoconhecimento: Investir tempo no autoconhecimento é crucial. Isso envolve explorar as próprias necessidades emocionais, preferências e limitações. Quanto mais nos conhecemos, mais capazes somos de estabelecer relações saudáveis e sustentáveis.

Procurar apoio profissional: A terapia pode ser uma ferramenta valiosa para explorar e modificar padrões de pensamento prejudiciais. Um profissional de saúde mental pode ajudar a identificar origens de crenças negativas, oferecer estratégias para mudança e fornecer suporte ao longo desse processo.

Exposição gradual: A exposição gradual a situações sociais pode ser benéfica. Começar com interacções pequenas e de baixa pressão, e progressivamente aumentar a intensidade, pode ajudar a desenvolver habilidades sociais e reduzir a ansiedade associada ao convívio. Este comportamento também nos permite ir ganhando confiança e mudar a atitude em relação aos outros, criando também uma maior possibilidade de conhecer pessoas e de te permitires ter um relacionamento amoroso saudável. 

Cultivar relações significativas: Fomentar relações de qualidade, baseadas em respeito mútuo e apoio emocional, é essencial. Isso pode incluir a construção de amizades sólidas, familiares e conexões comunitárias que proporcionem um senso de pertença e significado.

Reconhecer que a preferência pela solidão pode ser influenciada por crenças limitadoras é o primeiro passo para promover uma mudança positiva. Cultivar relações saudáveis e equilibrar o tempo sozinho com interações sociais significativas pode contribuir significativamente para o bem-estar emocional e a qualidade de vida.

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