Quando Dirk Niepoort abre ao enoturismo, fá-lo diferente
Dirk Niepoort é um caso raro na enologia em Portugal. É paciente, como se quer a quem lida com a imprevisibilidade do sol e da chuva, mas desde há muito que gosta de pensar a 20 anos. Diz que aprendeu que não se pode ser «bom treinador se se pensar a três anos» e foi sempre assim que que soube e quis estar, se bem que confessa já lhe ter complicado a vida o facto de não ter soluções à medida ou à vista.
Também foi com tempo, muito tempo, alguns anos, que Dirk esperou para abrir a porta das caves de família, em Vila Nova de Gaia, ao enoturismo. O espaço onde desde sempre ia ao domingo, quase em jeito de culto, passou agora a poder ser local de culto para outros. Em homenagem aos vinhos que a família Niepoort – agora na sexta geração, com os filhos de Dirk já no negócio – faz, bem como a vários outros internacionais.
No dia em que as apresenta a um grupo bem restrito de convidados, confessa-se feliz. Muito feliz. Até pelo facto de ter, também ali, conseguido manter quase intacta a passagem do tempo. Quis que a história se preservasse, que as memórias se coleccionassem e que nada das gerações anteriores fosse descurado.
Depois das enormes pipas e tonéis que guiam quem chega quase que em jeito de passeio, há espaços que remetem para outro tempo. E que projectam para o futuro. Mas mantendo, literalmente, «as teias de aranha» que Dirk fez questão que fossem intocáveis.
Na loja, são mais de 1000 as referências, que também podem ser compradas online – aliás, a apresentação do enoturismo coincide com o lançamento de novo site. Mas é bom saber que, ali, servirá de pouco bater à porta e querer entrar, já que ditam as regras que para bem atender é importante que haja marcação.
Com mais de 150 anos dedicados ao Vinho do Porto, as Caves da Niepoort são de facto lugar mágico, onde os vinhos envelhecem à velocidade de outros tempos. É como entrar e passar a fazer parte da história, de uma história onde os protagonistas são stocks antigos de Vinho do Porto – o mais antigo data de 1863 – em tonéis, balseiros, garrafas e bonbonnes – recipientes de vidro escuro soprado, com capacidade entre os 7 e os 13 litros que foram outrora usados pela indústria farmacêutica e que Eduard Niepoort comprou na Alemanha, no século XIX. Se bem que seria o filho Eduard Marius Niepoort que os viria a encher com os melhores vinhos da vindima de 1931.
O que é que poderá provar por ali? Há quatro provas disponíveis: a Niepoortland, que contempla uma visita às caves com prova de quatro vinhos Niepoort (Douro, Dão, Bairrada, Porto), tem a duração de uma hora e um custo de 35 euros por pessoa; a Wine & Tea Tasting, em jeito de masterclass com prova de seis vinhos e prova de chá, 85 euros por pessoa e a duração de 1h30; há ainda a Niepoort Master, masterclass com prova de 18 vinhos que se estende por três horas e custa 200 euros.
E o clube
O piso inferior, esse é já espaço restrito para alguns. Que o mesmo é dizer para os membros do recém-criado clube. Numa casa e numa família que sempre cuidou dos amigos e que também sempre soube criar momentos de convívio, entendeu Dirk Niepoort que fazia todo o sentido pegar em todo esse legado e traduzi-lo numa espécie de “wine society”: o N Collectors, um projecto cujo propósito é criar como que uma “familía” exclusiva que reunirá no máximo 842 membros, numa alusão à data da fundação da empresa (1842).
A quota anual é de 7000 euros no primeiro ano e de 2500 nos anos seguintes, sendo que o valor reverte na sua totalidade para a compra de vinho.
Funcionando apenas por convite, os primeiros 100 membros são identificados pelo Dirk Niepoort e têm o estatuto “Rolf & The Collectors” (numa homenagem ao pai de Dirk). Numa fase posterior, cada um desses membros poderá propor até três outros potenciais membros, cabendo à Niepoort o aval final individual. O acesso premium aos lançamentos da Niepoort, um almoço para quatro pessoas na Quinta de Nápoles, a presença no evento anual da família Niepoort onde serão partilhadas garrafas especiais da colecação privada, são algumas das regalias.
«Tenho muitas discussões porque nem sempre me entendem, mas continuo a seguir o meu caminho», partilha Dirk, enquanto confidencia querer passar a pasta assim que tiver a “casa arrumada”.
Texto de M.ª João Vieira Pinto