Opinião: O impacto do plano de vacinação no Turismo em Portugal
Por Paulo Cavaleiro, director-geral da Upstream Portugal
O plano de vacinação nacional, recentemente anunciado, poderá, sem dúvida, desempenhar um papel crucial na preservação de vidas humanas nos perfis de maior risco, na salvaguarda do sistema de saúde e na contenção da pandemia, mas não será uma ilusão ter a expectativa de que este instrumento possa ser eficaz na retoma da economia, da vida social e do turismo, em particular, já durante o próximo ano?
Com efeito, a complexidade e morosidade do processo só deverá permitir a conclusão das duas primeiras fases da vacinação (2,7 milhões de pessoas de perfis de risco vacinadas) num prazo realista de cerca de nove meses (a um ritmo médio de 10 mil vacinas/dia), e a última remessa de vacinas só está prevista para o 1º trimestre de 2022, pelo que mais de metade da população portuguesa, provavelmente, não estará ainda vacinada nem imunizada no final de 2021.
E esta perspectiva não será, com certeza, exclusivo nacional, replicando-se de forma similar por todo o mundo, nomeadamente nos principais países emissores de turistas para Portugal.
Para o avassalador impacto no turismo e na hotelaria acresce que não há “vacina” eficaz para as empresas, sendo cada vez mais evidente que as sucessivas “doses” que têm vindo a ser injectadas no sector só permitiram protelar a insolvência de algumas e a permanência em coma da generalidade das outras, pressagiando-se a morte súbita de quase todas ao longo dos próximos meses e originando níveis de desemprego galopantes.
A incógnita sobre a duração da imunidade conferida pela vacina, sobre os efeitos secundários ainda não devidamente avaliados, a necessidade de repetição da vacinação e a ocorrência das mais que prováveis mutações do vírus, complementam o lote das más notícias que o turismo vai ter de encarar em 2021.
Da miragem do turismo interno como panaceia, que já se havia esfumado no decorrer deste ano, já ninguém falará em 2021, até porque poucos portugueses vão querer incluir esta rubrica no seu orçamento pessoal em ano de tamanha incerteza…
Mas, e se por um momento excluirmos estas variáveis que não controlamos? E assumirmos que…
– Em Portugal e nos seus principais mercados turísticos, os planos de vacinação aceleram e ultrapassam as expectativas;
– Teremos os familiares idosos e os principais grupos de risco efectivamente imunizados até ao Verão;
– As restrições internas e entre países aliviam a ponto de consolidar a confiança de quem viaja e de quem recebe;
– Os eventos internacionais se voltam a realizar, promovendo a circulação de milhares de participantes;
– A oferta turística do País consolida-se em áreas temáticas e de experiência diferenciadoras;
– Os agentes de toda a cadeia de valor do turismo envolvem-se decididamente em processos colaborativos, que aumentam a qualidade da oferta e da experiência do cliente;
– O Turismo de Portugal incentiva a procura interna e de proximidade (Portugal e Espanha) e a diáspora, através de processos e acções promocionais verdadeiramente eficazes;
– Num quadro de acérrima concorrência internacional pelos turistas, as entidades regionais e municipais responsáveis pela promoção turística articulam-se e cooperam para garantir a maior eficácia do investimento público;
– As CCDR – Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e organismos responsáveis pela avaliação e aplicação dos fundos estruturais decidem sobre os projectos apresentados sem delongas e reembolsam as empresas antes de estas falirem;
– Enfim, e entre muitos outros “se”, que teremos em Maio um sol magnífico que nos convida a sair, a mergulhar no mar, a fortalecer o corpo e o espírito e a dopar-nos com endorfinas que aumentam os nossos agastados níveis de felicidade…
Então, no meio de toda a incerteza há uma dúvida que não temos: é que as pessoas estão saturadas do isolamento, carentes de viajar, de conviver, de sair… E que se fizermos hoje o nosso papel cívico na prevenção, se o plano de vacinação for um sucesso permitindo a contenção da pandemia e o alívio das restrições, e se o sector confirmar a resiliência que sempre o caracterizou, então vai haver de novo turismo em Portugal já no Verão de 2021!
Ou como dizia Aristóteles, a esperança é o sonho do homem acordado…
Vai correr tudo bem?