O que os desejos alimentares nos querem dizer e como ultrapassá-los (segundo a ciência)

Por Isabel Pedroso Silva, nutricionista, formadora e criadora da Escola Ouve O Teu Corpo e do O Podcast Da Isabel

Já todos sentimos uma vontade extrema de comer algum alimento em específico! Desde batatas fritas ou chocolates, passando pela comida da avó, os desejos alimentares têm, geralmente, raízes emocionais. Além de que podem, ou não, levar a um descontrolo alimentar e, se recorrente e em grandes quantidades, ao transtorno da compulsão alimentar.

A maioria de nós olha para os desejos com conotação negativa, mas ao invés de os encararmos como algo a resistir, porque não tirarmos ensinamentos? Afinal de contas, há algo que o nosso corpo está a tentar comunicar.

Embora possam ter várias causas, na maioria das vezes indicam-nos sentimentos profundos que precisam de ser resolvidos.

Primeira estratégia

De acordo com um estudo de 2021 (Jake Linardon et al), a alimentação intuitiva é considerada uma estratégia adaptativa de saúde mental e alimentar que está ligada a vários resultados positivos, como a melhoria da percepção que temos da nossa imagem corporal, aumento da autoestima e bem-estar geral. Por conseguinte, menor incidência de comportamentos alimentares negativos.

A autora e palestrante com foco na compulsão alimentar, Geneen Roth, diz que uma abordagem intuitiva aos desejos alimentares pode ser libertadora, especialmente num mundo em que é difícil não nos sentirmos influenciados e tentados por novas dietas. Além disso, a restrição alimentar aumenta os desejos e o descontrolo. Esses desejos são uma resposta condicionada provocada por sinais aprendidos, e não por défices nutricionais. Ou seja, podem ser desaprendidos!

Podem, também, ser causados por défices nutricionais e, se for o caso, são acompanhados por outros sintomas, como fadiga, cabelo e unhas quebradiços, dificuldade em concentrar… Se for isso, deverás procurar imediatamente ajuda médica.

O primeiro caso geralmente acontece pelo reflexo de um medo (de não sermos amados, dignos, perfeitos ou de não estarmos no controlo). Por essa razão, os investigadores e entusiastas da alimentação intuitiva sugerem que devemos ficar curiosos e ouvirmos os nossos desejos, com calma, curiosidade e respirando fundo.

Segunda estratégia

Percebe o desejo, senta-te, respira e tenta entender quais as sensações e memórias que te vêm à mente, e qual seria realmente a falta que sentes. No fundo, deixar que qualquer informação aflore.

Depois, entende se esse desejo pode ser diminuído de outra forma que não a comida, como beber água, dormir uma sesta, passear, ligar a alguém, tomar um banho… Estas acções irão reduzir a necessidade de um alimento específico.

Mas se o desejo persistir, desfruta a comida, mastigando e aproveitando calmamente. Isto é, ao invés de reprimi-los ou, por outro lado, agirmos impulsivamente, o aconselhado é sentar e tentar entender, primeiro, o que o nosso corpo está realmente a pedir.

Terceira estratégia

A maioria dos clientes que passam pelas minhas mãos ficam com medo de voltar a ter desejos alimentares. Um sentimento perfeitamente normal se levou a alguma falta de controlo no passado. Mas, em vez de sentir medo, porque não celebrá-los?

Celebrar o facto de que essa vontade é uma linha de comunicação directa com o corpo.

De seguida, podemos tentar descobrir se estamos com fome de algo mais.

Imaginemos que nos apetece gelado ao pequeno-almoço: do ponto de vista de saúde, sabemos que não seria a melhor opção para começar o dia. Contudo, se activarmos a curiosidade, sem julgamento, podemos ir mais fundo e perguntar-nos do que realmente se trata – poderá ser uma fome de conforto, validação, prazer, intimidade, descanso…

Quarta estratégia

Mantém os alimentos que consideras proibidos disponíveis em casa. Sei que isto vai contra qualquer estratégia de estilo de vida saudável, mas se queremos resultados permanentes temos que estar dispostos a sair da zona de conforto!

O objectivo é que comeces a olhar para esses alimentos como algo normal. Os desejos intensificam-se quando os limitamos… Se eu tenho programado comer uma sobremesa específica todos os sábados à noite, é possível que passe a semana toda a desejar comê-la.

Quando nos permitimos comer, calma e conscientemente, em qualquer contexto, os desejos tornam-se insignificantes. Depois, quando a tua relação com a comida for positiva, verás que já não terás necessidade de os teres em casa.

No fundo, o que a alimentação intuitiva sugere para aliviar a pressão dos desejos alimentares é desacelerarmos e começarmos, conscientemente, a ouvir o corpo, tratando os sinais que ele nos envia com curiosidade, respeito e confiança.

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