O Papel das Marcas no Dia da Mulher: Compromisso ou Aproveitamento?
Por Diogo Paixão, Growth Marketing Lead da Wook.pt
O Dia Internacional da Mulher é uma data de extrema importância, marcada pela celebração das conquistas femininas e pela reflexão sobre as inúmeras lutas que foram e, ainda precisam ser, travadas pela igualdade de género. Esta mensagem simples, mas com um profundo impacto, é passada de geração em geração. No entanto, não consigo ignorar a forma como algumas marcas e empresas aproveitam esta ocasião, não para promover uma verdadeira mudança social, mas essencialmente para aumentar as suas vendas através de campanhas de Marketing que, muitas vezes, carecem de um compromisso real com a causa feminina.
Antes de aprofundar este assunto, permita-me abordar ao de leve o conceito de “pinkwashing”. Já ouviu falar? Trata-se de uma estratégia onde empresas se pintam superficialmente com as cores da igualdade de género, promovendo-se como aliadas desta causa sem efectivamente praticar ou implementar mudanças significativas que apoiam as mulheres. Este fenómeno, não só mina os esforços genuínos pela igualdade, como também explora a boa vontade dos consumidores, transformando a luta por direitos fundamentais numa ferramenta de Marketing.
Este fenómeno não é novo, mas a cada ano que passa torna-se mais evidente e, diria até, mais descarado. Vemos uma enxurrada de produtos “edição limitada” e campanhas publicitárias que usam o verniz do empoderamento feminino para, no fim das contas, capitalizar em cima de uma data que deveria ser de reflexão e acção. A Nike, com a campanha “Dream Crazier”, e a Dove, com a “Real Beauty”, são alguns exemplos de marcas que lançaram iniciativas poderosas que, embora tenham o potencial de inspirar, também levantaram questões importantes sobre a congruência entre a mensagem veiculada e as práticas empresariais reais.
Promover a paridade entre os géneros não pode e não deve ser reduzido a uma estratégia de Marketing. Concorda comigo? Deve ser um compromisso enraizado nas práticas diárias das empresas, desde a discrepância salarial até à representação equitativa de mulheres em posições de liderança, passando pelo investimento em programas que apoiam efectivamente as mulheres em todo o mundo. Além disso, as marcas devem utilizar as suas plataformas não apenas para vender, mas para educar e inspirar, trazendo à luz histórias de mulheres reais que estão a fazer a diferença, ao desafiar estereótipos e lutar pelos seus direitos.
Mas, calma, não se trata apenas de criticar. Eu acredito que o Dia Internacional da Mulher deve ser um lembrete da responsabilidade que as marcas têm quando decidem participar nesta celebração. A influência que possuem não deve ser subestimada e, se usada correctamente, tem o potencial de contribuir significativamente para a promoção dos direitos das mulheres. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que haja uma mudança profunda na forma como as empresas encaram o seu envolvimento com esta data.
Existem, de facto, marcas que abraçam este dia com um compromisso autêntico e acções concretas que transcendem o Marketing superficial. Algumas destas marcas implementam políticas internas significativas que promovem a justiça de género, investindo em desenvolvimento profissional para mulheres e garantindo uma paridade salarial, no sentido de promover a diversidade e a inclusão. No meu ponto de vista, estas empresas merecem o nosso reconhecimento e apoio, pois exemplificam como é possível aliar-se à causa feminina de uma maneira impactante, transformando esta data num momento de verdadeira celebração das conquistas internas e reforço do compromisso contínuo com a equidade.
Neste ano, com o objectivo de fortalecer e expressar apoio a todas as mulheres, para além de chamar atenção a diversos problemas sociais, várias marcas criaram acções especiais para esta data, tais como a Perfumes & Companhia, Pandora (em parceria com a UNICEF) e Victoria’s Secret & Co. (associada ao “Women’s History Month”).
Estas iniciativas mostram que, com integridade e acções genuínas, este dia pode ser uma força poderosa para o bem, inspirando não apenas outras empresas, mas também indivíduos a contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Termino com um desafio. Que neste Dia Internacional da Mulher, todas as marcas reflictam profundamente sobre o seu papel na promoção da igualdade de género. Que este dia não seja apenas uma oportunidade para activarem campanhas de Marketing, mas um momento para celebrar verdadeiras conquistas e reafirmar um compromisso autêntico com a mudança social.
E que nós, como consumidores, usemos o nosso poder para apoiar aquelas empresas que demonstram um compromisso real com este dia, através da promoção de um mundo onde a igualdade não seja apenas um ideal, mas uma realidade vivida todos os dias.