O Nunes está mais moderno. Mas o peixe e marisco são iguais aos de sempre!
Na Nunes Real Marisqueira há novos pratos, uma barra e mais petiscos. Nós, atirámos o saudosismo para trás das costas, fomos lá… e ainda bem!
Há anos que, de vez em quando, não resistia ir com amigos ao Nunes, a marisqueira que durante duas décadas foi conquistando, para os lados de Belém, em Lisboa. Claro que pedisse o que pedisse, havia pormenor que não podia faltar: a bela da batata frita que, ali, tem dupla fritura! Uma espécie de ritual que ajuda a construir memórias de um espaço.
A casa tinha dimensão média e encaixava bem na definição de cervejaria-marisqueira. O serviço era atento e cuidado e tudo o que chegava à mesa nunca via a qualidade ser beliscada. Porque sabor e frescura foram sempre lemas do Nunes.
Há cerca de um ano, as portas que eu várias vezes tinha atravessado fecharam… para abrirem uns metros à frente, no mesmo passeio, mas já quase em linha com a Torre, a de Belém! Sempre que passava pela rua e espreitava, achava que o Nunes agora era outro. A tradicional cervejaria tinha dado lugar a restaurante fino e, isso fez-me adiar o regresso por longos meses, até agora.
Sim, a convite voltei ao Nunes. Claro que está diferente. Desde logo está maior ou não tivesse mais de 200 lugares sentados. Tem dois espaços, a sala com vários cantos e recantos, e a barra. Tem dourados e veludos. Tudo isso é verdade. Mas, depois, há coisas que – obrigada – se mantêm como dantes: o bem servir, da equipa de sala e de quem está ao fogão.
O peixe e marisco mantêm frescura irrepreensível e os pratos sabor de sempre. Claro que há novidades, e experimentámos uma ou outra, até porque fomos ao almoço e desde há umas semanas que o casal Miguel e Vanda Nunes – os rostos por trás desta casa – decidiram criar o “Nunes ao almoço”, onde os pratos de cozinha de conforto se vão coordenando com as sugestões mais tradicionais como o linguado ao Meunière ou o cherne grelhado. Só que, dizia, há pratos em jeito de estreia, como a tempura de gamba do Algarve e salicórnia ou a paletilla de cordeiro, arroz de miudezas e grelos.
Bem, nós começar começámos com umas belíssimas e gordas ostras de Setúbal que nos trouxeram todo o mar para a mesa. Seguimos viagem com sashimi de atum rabilho – que Miguel Nunes fez questão que experimentássemos, para percebermos que ali não se brinca com o peixe e a sua qualidade – e descemos ao mar algarvio para umas doces gambas de cozedura perfeita. Ah, ainda fomos à versão da gamba grelhada, que muito agradecemos. E fechámos com o novíssimo spaghettoni de lavagante, em que a pasta é cozinhada rigorosamente al dente, e à qual se junta o sofrito com tomate, segundo a verdadeira receita italiana, e o belo do lavagante.
Miguel Nunes ainda tinha proposto um “fecho” com o prego – que no meu caso seria com sabor a mar – e a grandiosa batata. Mas já não houve “tempo”… Se fiquei com saudades da frita? Mais ainda, mas isso só me vai fazer voltar. Até porque sempre gostei de barra, e ainda não me sentei nesta, onde pode desfilar o pan tomaca, pregos de atum e do lombo, camarão e ostras… ou a lagosta fast food, servida numa caixa de cartão com batatas fritas.
À semelhança do restaurante, a Barra funciona a partir do meio-dia e até à meia-noite, non stop.
Sim, comer peixe fresco, de mar, e marisco não é barato. Mas, antes pagar e ser feliz do que experiências do demo… que é coisa que hoje abunda!
Texto de M.ª João Vieira Pinto