No Soão há um festival de sabores pelo Natal
Ainda não é Natal, é certo, mas o espírito já aí está. Há luzes acesas nas ruas, montras decoradas, bolas e enfeites à venda. E os filmes, que saem sempre nesta época para tocar fundo na nossa alma e nos fazer deixar cair a lágrima. Mas também há, claro, comida, pratos típicos, doces e salgados que evocam a tradição. O bolo-rei e os sonhos, o bacalhau e o peru…
Mas se, em vez destes, fizesse ceia ou almoço com dim sums e caril? Ainda não tinha pensado nisso? Eu também não, mas agora, e depois de ter passado pelo Soão, já não digo nada.
Por ali, naquela taberna asiática na zona de Alvalade, em Lisboa, há uma proposta a analisar. Não há Natal, diz a casa, mas há o Dongzhi Festival! Nem mais que uma tradição ancestral vivida pelos chineses, japoneses e coreanos, muito relacionada com a filosofia Yin & Yang, com o equilíbrio e a harmonia do caos. Quando acontece, traduz-se na celebração do momento em que os dias começam a ficar maiores e “passa a haver mais tempo para que coisas boas aconteçam”, explica o Soão. Por isso, claro que a tradição fomenta o convívio entre família e amigos assim como muito tempo à volta da mesa.
Sim, estivemos algum tempo à volta da mesa do Soão quando fomos experimentar estes sabores do Dongzhi Festival. Mas nem demos por ele passar. O chef pegou em receitas já confirmadas na casa e cruzou-as com algumas menos conhecidas e o resultado foi…
Para começar, um amuse bouche asiático em jeito de boas-vindas e que precedeu o primeiro prato de festa. Uma variedade de três Dim Sum – dim sum de champanhe, lavagante e gambas, chamuça de porco e mel e embrulho de frango e vieiras. Este último de querer pedir mais!
Haveriam de se seguir uns rolos de salmão, abacate e camarão. Se fosse eu a escolher à lista, deixá-los-ia de lado. Não são os meus preferidos, confesso. Mas ainda bem que vieram e estão incluídos neste menu, perdão, festival! São quatro por pessoa e vai ver que não deixa um que seja no prato.
O primeiro prato quente – ou não estivéssemos no Inverno – é em formato de sopa Wonton de pato, aquela que se afirma como um clássico da cozinha chinesa com caldo de pato e wontons com recheio do dito. Como não como a ave, o chef surpreendeu-me com um mimo que valeu a pena: uma sopa de camarão, Tom Yum, temperada com erva príncipe, lima kaffir, chili e cogumelos. Não está a perceber: é divinal, para quem gosta de temperos mais arrojados, sim. Claro que esta está fora da carta de Natal, mas fica a dica. Voltaria lá já hoje, só por ela, a sopa.
E, ainda nos quentes, um caril vermelho de peixe com leite de coco, manjericão, pimentos, lima kaffir e arroz thai. Quando achava que já não tinha estômago para mais – pronto, sou fraquinha, confesso – bastou a primeira garfada para me sentir tentada a continuar. O chef sabe que o sabe fazer e nós ficamos com a certeza de que não nos tínhamos enganado quando aplaudimos o Soão assim que lá fomos pela primeira vez. Aplauso redobrado.
E porque, afinal, todas estas são propostas para servir na quadra festiva, não podia faltar aconchego doce. Aqui, o chef foi buscar uma sobremesa típica durante o festival Dongzhi, a Tang Yuan. Primeiro estranhei, depois sorvi aquela que é uma bola de massa de dim sum recheada com sésamo preto e servida num caldo quente com sabor a canela no ponto.
Foi um bom início de Natal, garanto, e até desconfio que já deixava de lado o bacalhau!
Preço total: 45 euros por pessoa, com vinho, ou cerveja, águas, refrigerantes e chá
Texto de M.ª João Vieira Pinto