Nesta Lota, o peixe é rei

E Vasco Lello um capitão com respeito pelo produto e fazedor de pratos que nos fazem querer voltar. É na Duque d’Ávila, em Lisboa.

Quem me conhece sabe que adoro tudo o que vem do mar. Peixe é eleição de vida. E grelhado é coisa por que me pelo! Mas confesso que me irrita um bocado quando chega demasiado torrado, como se tivesse sido deixado esquecido na brasa. Por isso aplaudo o oposto, a boa grelha. E foi precisamente isso que encontrei no Lota D’Ávila. Um respeito imenso pelo produto e um saber fazer sem estragar.

Fui experimentar o espaço sem ler críticas ou comentários. Estranhei apresentar-se como restaurante de peixe e marisco bem a meio da Duque d’Ávila, junto ao Saldanha, em Lisboa. Mas em jeito de tábua rasa de conhecimento sentei-me e entreguei-me nas mãos do chef. Bendita a hora.

Sabe aqueles sítios onde se vai sem expectativas e se sai a querer repetir e aconselhar a amigos? Este é um deles. Porque tudo o que chegou à mesa nada tinha a apontar, antes a dar vontade de repetir.

A começar pelos croquetes de sapateira que me vão fazer voltar a querer sentar por ali – seja na esplanada exterior, no terraço interior, na barra ou na sala de jantar, que são vários espaços os que compõem o Lota. Os croquetes são de sapateira. Ponto. Nada se inventa e não há mais sabores a confundir. Por isso, para quem gosta da dita, são divinais. Na receita e no ponto de fritura. Aqui me confesso, ainda sonho com eles.

O lírio fumado com amêndoa do Algarve e laranja que chegou a seguir ajudou como que a limpar o palato do croquete anterior, tal a frescura. E se é – como eu – fã de peixe cru e até gosta de sashimis, não deixe de o pedir.

Para prato principal, o chef aconselhou um misto de peixe e marisco grelhado, acompanhado de legumes. Receámos que fosse demais. Mas não só acabou por não ser, como confirmou aquilo que, naquele momento, já sabíamos: por ali não se brinca com o peixe. Há muito que não me cruzava com grelha tão perfeita. O robalo no ponto, branco, suculento, sem vir cru. Obrigada, obrigada e obrigada Vasco Lello. E obrigada por terem insistido que o pedisse.

Ah, há sempre a possibilidade de se optar por uma das mariscadas do chef, com selecções de mariscos feitas pelo próprio – a Maré Baixa, a Maré Alta e a Fora da Caixa. Quem preferir carne tem duas opções, do mais simples prego do lombo com chips a uma paella da terra com cabrito assado.

Para fechar, e mesmo tendo todo este jantar acontecido em semana de festas de Natal, tínhamos de experimentar uma sobremesa que fosse. Até porque este é terreno pouco habitual para o chef, onde quis arriscar e onde até não se saiu nada mal – como testemunhámos com a mousse de queijo, framboesas e cookie crumble.

Mundo de Mar

O Lota D’ávila chegou em Novembro pela mão dos mesmos criadores do Ofício, o restaurante que abriu em 2021 no Chiado, e tem então no chef Vasco Lello – até à altura no Sea Me, no Chiado – o grande capitão deste navio que promete agitar águas na capital da boa comida.

Assim que se entra, é fácil sentirmo-nos longe dali tendo em conta os vários elementos que remetem para o mar, a começar pelos aventais de borracha dos empregados – a aplaudir pela simpatia e alto nível no atendimento, já menos habitual hoje em dia –, a continuar nos tabuleiros de plástico vermelhos recheados de peixes ou nas torneiras de serpentina que remetem para os mercados (e para a lavagem do fresco quando queremos levar para casa).

Por ali há, como dizia, vários espaços para quem procura diferentes momentos e ofertas. Há a lota de entrada, onde, na barra, se podem comer uns camarões, ostras, ou outro marisco. No corredor, há bóias a servir de indicador para duas boxes onde se sentam grupos de quatro pessoas, a que se segue a passagem pela cozinha aberta, até à sala seguinte. À direita, prateleiras quadriculadas guardam os babetes bordados a “Capitão” e “Capitã”, e que servirão de protecção a quem não se quiser sujar com os sucos do marisco fresco.

Chegando à sala principal é como se entrássemos num bar de praia, com tons leves e referências náuticas. Sendo que imediatamente à entrada se destaca o bar que ostenta um néon laranja com a palavra Lotado, e de onde saem cocktails e espumantes gelados.

Ainda uma pequena esplanada e serviço de baby sitting. Não estão todos os ingredientes reunidos?

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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