Não pode valer tudo
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Há umas semanas que me rendi a “Succession”. Ainda vou na temporada 2 mas confesso-me “agarrada”. O título conduz ao tema principal, a sucessão. Mas os episódios são muito mais e vão muito para além disso. Num elenco perfeito, com filmagens rápidas e linguagem ou comportamentos que prendem – até pelo choque –, “Succession” é sobre famílias disfuncionais, relações de poder, controlos e submissões. É sobre negócios, organizações, tramas políticas e financeiras. É sobre amor e ódios. Sobre ambição, liderança e conquista. É sobre o poder, querendo fazer parecer – a páginas tantas – que este, o poder, pode tudo. Mas não, não vale tudo para se chegar ao topo.
Em “Succession”, o território central é ocupado pelos Media. É de um conglomerado de informação e entretenimento, gerido por uma família americana, que se trata. Um conglomerado onde muito se fabrica, quase tudo se manipula, muito e muitos se atropela.
“Succession” faz-me pensar nos Media, no geral. Há um mês escrevi por aqui que não há Plano B, que simplesmente não se pode continuar a fechar títulos e matar redacções. Mas o que não cheguei a escrever é que é fundamental que os mesmos meios acompanhem mudanças: de comportamentos dos leitores ou de investimento das marcas. Porque, além de plataformas de veiculação de informação, os meios são negócio. Têm investidores, accionistas, contas para pagar, resultados a apresentar e, nos dias bons, dividendos a distribuir.
Até se pode equacionar novos modelos de financiamento, como refere a professora Marisa Torres da Silva, que, em entrevista nesta edição, valida a ideia de fundações ou apoios estatais. Mas, vamos lá ser realistas: acreditam mesmo que há marcas que investem em quem não tenha resultados? Não tenha público? Não tenha notoriedade e alcance? Que não seja relevante? Agora, uma coisa é certa, isso não pode valer tudo. E a informação credível, validada, regulada e assinada ainda tem que ter peso de ouro num mercado de conteúdos galopantes.
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 331 de Fevereiro de 2024