Marcelo Lourenço: «Um resultado como o de 2022 em Cannes pode mudar o mercado inteiro»
Por Marcelo Lourenço, fundador e director Criativo da Coming Soon
O Sasha Martens é um dos melhores headhunters que eu já conheci. Especializado em criativos, ele está sempre a conseguir empregos para copys e directores de arte em agências do mundo todo. Quer ir trabalhar nos States? Fala com o Sasha. China? Sasha é o seu homem. Paris? O Sasha sabe exactamente a agência que precisa de ti. Por isso é sempre muito ilustrativo falar com o Sasha no festival de Cannes – porque o homem é um barómetro humano e barbudo do mercado da publicidade.
«Toda a gente quer ir trabalhar em Portugal», diz-me o Sasha.
E completa: «Imagina então agora.»
O “agora” do Sasha é este fantástico 2022, o ano que Portugal teve um resultado sem igual em Cannes.
Justiça seja feita, o País já saiu outras vezes do Festival de Cannes em braços – mas em geral os bons resultados eram mérito de uma agência ou de uma só campanha.
Este ano o sucesso foi colectivo – foi uma vitória das agências portuguesas. No plural.
Não é só que Portugal ganhou um Grand Prix e vários leões – foram prémios por várias categorias e espalhados democraticamente por várias agências – independentes, multinacionais, nacionais que viraram estrangeira, estrangeiras que viraram nacionais.
Se ganhar um Leão muda carreiras, um resultado como o de 2022 pode mudar o mercado inteiro.
Basta repetirmos este resultado nos próximos cinco anos.
Se isso acontecer, Portugal passa a ser uma grife criativa – e os publicitários do mundo inteiro passarão a julgar o nosso trabalho como julgam as campanhas dos argentinos: se é português, deve ser bom.
Vamos deixar de ser o País que exporta óptimos criativos para ser o País do Grand Prix (palmas para o Edson e os seus rapazes).
E com isso virão os clientes – num mundo que está à distância de um Zoom, porque não deixar os portugueses (que afinal são tão bons) fazer a campanha internacional da marca este ano? E porque não lançar um briefing para aquela agência independente que tem feito tão bom trabalho a partir de Lisboa?
E isso fará o nosso mercado crescer – em importância e em volume de negócios.
Cinco anos. Precisamos repetir este tipo de resultados durante cinco anos.
Não estou a dizer que é fácil. Como diria o grande Cláudio Carillo – se fosse fácil qualquer um faria.
Mas em 2022 a FCB Lisboa, a Stream and Tough Guy, a This is Pacifica, a Bar Ogilvy e a Havas Portugal provaram algo ainda mais importante: que isso não é impossível.