Já mergulhou no mar do Algarve sem sair da mesa?

Em Portimão, bem perto da Praia da Rocha, ergue-se um chalé que já foi casa particular mas que agora é um hotel – parte da rede internacional Relais & Chateaux. O Bela Vista, com acesso directo ao areal, já foi ponto de passagem para figuras como Mário Soares ou Marcelo Rebelo de Sousa e, hoje, apresenta uma proposta de luxo para turistas nacionais e internacionais.

Chef João Oliveira, do hotel Bela Vista. Créditos: Paulo Barata

Neste momento, o Bela Vista encontra-se encerrado, mas as portas reabrirão já este mês, com o SPA by L’Occitane e o Vista Restaurante também a postos para receber quem procura uma experiência diferente com vista para o oceano. Com o chef João Oliveira ao leme, o restaurante Vista (Estrela Michelin 2018, 2019, 2020) propõe até um verdadeiro mergulho no mar, sem que para isso seja necessário abandonar a mesa.

Antes da reabertura por terras algarvias, o chef e a sua equipa rumaram a Lisboa para um jantar em que a experiência do Vista foi recriada quase na sua totalidade – foram apresentados algumas das receitas que compõem o menu de degustação e até a loiça em que os pratos foram servidos vieram do Algarve. Num apartamento histórico da capital, foram apresentadas sugestões que representam o melhor que o mar nos pode trazer, respeitando sempre o seu sabor.

Neste jantar, que serviu para abrir o apetite para uma viagem rumo ao Sul, houve espaço apenas para peixe e marisco do Algarve, sendo todos os ingredientes de origem nacional com excepção de um: o caviar Imperial. Mas já lá vamos.

No nosso caso – e vale a pena salientar que estas são apenas algumas das opções disponíveis no menu do Vista e que tudo o que provámos poderá ser encontrado por lá -, a refeição iniciou-se com uma seleccção de iguarias composta por Guacamole fumado | Gamba da costa (ideal para os fãs de abacate), Carapau fumado | Alho negro (a mais surpreendente), Mini Ostra de Alvor | Pêra Nashi (um mergulho no mar) e Tartelete de cebolinhas | Queijo (saborosa até para quem não aprecia particularmente cebola – culpados nos confessamos).

Seguimos para a combinação Cavala | Azeitona galega | Azeite de carvão, que apresenta uma azeitona feita de… manteiga de cacau. No interior, uma azeitona verde e cavala. Mas, atenção, embora possa ser o elemento mais fora da caixa, a azeitona não é rainha perante o filete de cavala com alcaparra frita, no ponto.

Logo depois, como uma espécie de pausa a meio da refeição, surge o Tomate biológico | Manjericão | Camomila, um dos pratos mais icónicos do menu do Vista, segundo nos afiançam. É também o único a marcar presença tanto no menu original como no vegetariano, sugerindo que agrada a gregos e troianos. Confirmamos. Com diferentes tipos de tomate, gel de Yuzu, limão marroquino e, para finalizar, caldo de tomate clarificado com camomila. Um primeiro lugar garantido no top deste jantar.

Depois veio o ravioli reinventado. Lula | Caranguejo | Galanga apresenta-se como um ravioli de lula do Algarve recheado com caranguejo, amores-perfeitos e um molho de sabores tipicamente portugueses mas que são trabalhados a partir de uma técnica asiática. O coco e a erva-príncipe ganham aqui algum protagonismo, mas sem retirar a costa nacional do papel principal.

Por fim, antes de chegar ao momento mais doce da noite, surge a Raia | Couve-flor | Ervas halófitas. A raia, cozinhada a vapor, lascava na perfeição ao lado das têxturas de couve-flor que faziam esquecer que estávamos, de facto, perante este legume por vezes insipiente. A acompanhar, caviar Imperial, carabineiro algarvio e ervas que crescem junto ao mar.

Chegados à sobremesa, não podia faltar o D.O.M Rodrigo 2.0. O nome deixa logo antever que será uma nova versão de um doce tão tradicional desta região do País, que neste caso se apresenta com elementos diferenciadores como creme de ovo com amêndoa tostada, massa folhada de canela e mousse de leite, amêndoa e ovo. Desconstruído no prato, mas uma construção de sabores no palato.

Tudo isto com harmonização de vinhos, numa selecção preparada pela equipa do Vista para realçar os sabores servidos no prato. Com os brancos em destaque, foram apresentadas as seguintes propostas (seguindo a ordem pela qual eram apresentadas as receitas): Ar Lenoble Rosé Terroirs (Cotê de Blanc), Vale da Capucha Fossil 2019 (Fernão Pires Arinto, Doc Torres Vedras), Poeira Desalinhados 2015 (Riesling Douro), Quinta do Ameal Escolha 2017 (Loureiro, Vinhos Verdes), Tira o Véu 2019 (Vinhas Velhas, Alentejo) e, por fim, Vila Oeiras Superior (Doc Carcavelos).

Texto de Filipa Almeida

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