Fomos ao renovado Pinóquio perceber que… está igual!

E ainda bem, dizemos nós.  Até porque para quem tinha por hábito sentar-se na esplanada dos Restauradores para pedir umas amêijoas ou o tradicional pica-pau pode ter a certeza que estão realmente iguais! Por isso, se é dos que defende que não se deve voltar onde já se foi feliz, ponha essa máxima para trás das costas e regresse ao Pinóquio. Foi o que fizemos e fomos felizes de novo.

Há três anos, aquele que é dos restaurantes-cervejaria mais icónicos da Baixa fechou portas para obras de renovação e mudou-se para Santa Justa. Levou consigo saberes e sabores, mas nem todos os clientes. Que esta é casa de fiéis, não só da comida mas também do espaço.

Agora de portas reabertas no local onde tudo começou há 40 anos, Lourenço de Mello Breyner, um dos sócios, garante que está tudo igual: «Há pessoas que cá trabalham há quase 40 anos! Alguns ainda são da primeira geração». Bom, não está tudo igual que o espaço mudou – já lá vamos -, mas a alma do negócio, sim, continua inalterada. Na comida e nos empregados, de simpatia já rara.

Em dia de sol de Fevereiro, sentamo-nos na esplanada (que duplicou o número de lugares) para experimentar o que por ali é conhecido como o “Menu da Bola”.

Antes ainda, chega à mesa a tentação em forma de pão torrado com manteiga e um pires de boa azeitona. Depois, lá vêm as mornas e intocáveis gambas da costa (85€ Kg) e as amêijoas à Bulhão Pato (31€), cuja receita remonta aos primórdios do restaurante e que chegam à mesa servidas numa cafeteira num ritual, também ele, de há anos. A receita, não a sabemos, mas do que não temos dúvidas é que «em equipa ganha não se mexe», como diz Lourenço Mello Breyner!

O Menu da Bola tem como último golo o tradicional pica-pau de bife do lombo (26,50€) servido no ponto pedido e acompanhado de batatas fritas (verdadeiras) às rodelas. Eu, que tenho o “problema” da carne, fui tentada pelo arroz de garoupa mas não resisti ao “demónio” em jeito de batata frita! Ou não estivessem também elas no ponto de fritura e sem gordura.

Claro que por ali continua a haver carta alargada e outros pratos a ser pedidos com repetição, como a paella à Pinóquio, preparada com lagosta, amêijoas, lula e tamboril (32€); a açorda de marisco, com lagosta, gambas e amêijoas (28€) ou a feijoada de marisco, com lagosta, gambas e amêijoas (26€). A cabeça de garoupa continua a ser outro dos ex-libris, em jeito de grelhada, cozida ou na brasa; assim como o marisco, entre as ostras da Ria Formosa (21€), a lagosta (135€ o quilo), a santola e a sapateira (39€ o quilo), ou as gambas da costa (85€ o quilo).

Quanto às mudanças, essas aconteceram no espaço. Agora, o Pinóquio tem 100 lugares, repartidos por três salas interiores em dois pisos. A estes, junta 150 lugares, em três esplanadas. No rés-do-chão, a sala mantém a cor verde nas paredes e o ícone da lagosta bem ao fundo e em destaque. Mas acrescentou o mármore de Estremoz e a cerâmica da Viúva Lamego.

Os responsáveis pelo espaço aproveitaram, ainda, para recuperar a “velhinha” caixa de luz, sinal luminoso identificativo do restaurante, que ao longo do tempo assinalou a presença exterior, bem no canto da praça. «Não quisemos perder a nossa identidade», dizem! E nós garantimos: não a perderam!

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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