Entre vinhas e tradições, o Douro que me conquista
Deixar as rotinas da cidade e partir rumo ao Douro. A proposta era demasiado tentadora para não a abraçar. Especialmente depois de uma semana que de calma nada tivera. Fui, sem olhar para trás. E aconselho-lhe que faça o mesmo, ainda que lhe pareça uma longa distância a percorrer para dois dias de mudança de ares, como de resto é o que acontece na maioria dos fim-de-semana. Assim que partir já começa a respirar melhor e com a chegada ao Douro, em poucos minutos sentirá que tudo valeu a pena.
O The Vintage House seria, literalmente, a minha casa por uma noite. Num cenário de sonho, na convergência entre o Rio Douro e o Pinhão, o The Vintage House está rodeado de colinas com vinhas a perder de vista, estendendo-se até ao rio. Uma unidade hoteleira que, por um lado, tem cais e serviços de barco com acesso directo a partir dos seus jardins (vista que todos os quartos têm) e, por outro, tem apenas uma porta que na parte mais elevada da propriedade dá acesso à estação de comboios do Pinhão. Seguramente já ouviu falar do mítico comboio, da sua linha ferroviária e das belas paisagens por onde serpenteia. Não foi o meu caso, mas parece-me uma forma bem romântica de chegar ao hotel.
Com 39 quartos standard, 5 suites júnior, 2 suites deluxe e 4 master suites, pode contar com conforto, sofisticação e vistas deslumbrantes em todos os espaços. Quer despachar uns e-mails de trabalho inadiáveis? Tem sossego para isso. Quer sentar-se na sua varanda a ler um livro ou uma revista (sugiro a Marketeer)? Faça favor… Apetece-lhe dar umas braçadas na piscina e bronzear-se um pouco? Vista o fato de banho e não se esqueça do protector solar!
Quando lhe der a fome, não lhe vão faltar opções. Se estiver pela piscina tem uma simpática variedade de snacks e bebidas disponíveis no Pool Bar. Se procurar algo mais complexo, suba ao bar e decida se fica no exterior ou se prefere a frescura do interior do edifício. Se a opção for por pratos mais elaborados ao estilo finedining, no Restaurante Rabelo vai encontrar um serviço à la carte com sabores da região do Douro (queijos, enchidos, cogumelos, carne, legumes da região). Aberto ao almoço e ao jantar, para hóspedes e não hóspede, os comensais poderão contar com um menu diário ao almoço com preço fechado, incluindo entrada, prato e sobremesa.
Ao jantar a experiência quer-se mais formal, tendo a carta sido pensado nesse sentido. Nesse momento vai poder encontrar ente as possibilidades a sopa da vindima, a cavala ou a garoupa (com os seus sabores ricos na boca) e o souflé de pistácio.
A partir do final de Maio estará a funcionar uma nova área exterior (duplicando a existente até aqui) dedicada a servir os clientes do restaurante Rabelo de maneira a conseguir responder às solicitações. Isto porque, com a vista que este espaço exterior tem, em geral, os clientes preferem fazer as refeições aí e os responsáveis do hotel sentiram necessidade de aumentar o número de lugares.
Todas as cartas foram recentemente renovadas com a entrada em funções do chef Carlos Marques que está no Vintage há pouco mais de três meses e imprimiu já a sua abordagem gastronómica aos espaços.
Aproveitando a maré de novidades, estão a ser desenhados para o Verão uma série de eventos informais para aproveitar o jardim como churrascos ou bufet menos tradicional.
O que visitar nas imediações?
No The Vintage House os clientes podem fazer uma série de actividades, dos passeios de barcos aos passeios de todo o terreno ou de bicicleta, sem esquecer, claro, as visitas a quintas.
E aqui as Quintas do Panascal e da Roêda, por pertencerem ao mesmo grupo, têm um lugar especial. A verdade é que não é difícil, para quem reserve duas ou três noites no hotel, ter os dias ocupados.
Na Quinta do Panascal é de esperar uma experiência tradicional, caseira e intimista. Localizada no vale do Távora (afluente do Douro), no coração da região demarcada do Douro, é a mais importante propriedade da casa Fonseca apelidada, por James Suckling, como o “Bentley” do vinho do Porto. Entre os programas possíveis de fazer na Quinta há uma áudio-tour educativa (disponível em diversos idiomas) ao longo dos vinhedos e dos tradicionais lagares. Aqui consegue-se desfrutar de uma belíssima paisagem podendo-se, depois, fazer uma degustação comentada de vinhos do Porto de categoria especial.
O áudio-tour tem uma duração de 40 minutos, aproximadamente, e a degustação clássica de mais 30 minutos. Durante o passeio na quinta saiba que irá, certamente, cruzar-se com os famosos socalcos e os muros de xisto que os galegos ajudaram a construir no início do século XX.
Aqui é ainda possível, desde que marcado com pelo menos 48 horas de antecedência, fazer almoços e jantares para grupos a partir de 10 pessoas. Consoante o tamanho do grupo poderão ser usados espaços interiores e exteriores da casa principal, havendo menus entre os 45 e os 65 euros (entrada, prato, sobremesa e vinho do Porto), com vinhos do Douro incluídos. Estes eventos são servidos pela equipa do The Vintage House.
No dia em que almocei na Quinta do Panascal sucederam-se as boas surpresas. Antes de mais estava um dia maravilhoso de Primavera. Numa grande mesa colocada no exterior, mas com sombra abundante, esperava-nos o aconchego dos pratos que Mila, a cozinheira, ia fazendo sair da sua cozinha. Começámos com o creme de abóbora que faz lembrar os almoços de domingo em casa da minha avó, mas aqui com um twist da hortelã (da quinta) que casa maravilhosamente. Seguiu-se o cabrito com feijão-verde, cenoura e batatinha. Parecia feito no forno da aldeia, desfazendo-se a cada garfada. Para rematar o leite-creme (um deleite dos deuses!) caseiro e um Towny 20 anos. No final, Mila, confidencia que além do cabrito, os grupos pedem, entre os pratos principais, o lombo, o arroz de pato e as pataniscas com arroz de feijão. Já nas sobremesas a dúvida é entre o tal leite-creme e o típico borrachão.
A Quinta da Roêda, pela sua dimensão está preparada para receber não só grupos maiores como também mais visitantes por dia. Num dia de Verão chega a receber cerca de 300 pessoas por dia, diluídos por diferentes horários, claro!
Esta quinta apresenta desde há poucas semanas um novo percurso pedestre que convida a percorrer as vinhas e a história dos Vinhos da Croft. “À Descoberta da Quinta da Roêda” é uma visita autoguiada que, ao longo de 11 paragens pela quinta duriense (Bem-vindo à Quinta da Roêda; O Solo Xistoso; Filoxera, Vinhas Velhas da Roêda, Vinha Benedita e Sērikos; A Parcela de Rufete; O Rio Douro; Vinha ao Alto; Casa da Viticultura; Castas Tradicionais do Douro; Casa do Alambique; O Barão da Roêda; e a Casa dos Lagares), desvenda alguns dos segredos da Croft, uma das casas mais reputadas de Vinho do Porto, fundada em 1588. Através de uma app os visitantes descobrem não só as suas paisagens e miradouros mais deslumbrantes, como também informações e curiosidades do universo vínico sobre castas, vinhas velhas, lagares e toda a produção de Vinho do Porto.
Com uma duração média de 1h30 (cada visitante demora o tempo que quiser em cada paragem) e o custo de 8 euros por pessoa, a experiência “À Descoberta da Quinta da Roêda” oferece um chapéu de palha da Croft e uma água Earth Water. Os visitantes que quiserem prolongar e complementar a sua visita à Quinta da Roêda, podem fazer degustações de Vinho do Porto na Sala de Provas e piqueniques ao ar livre – que podem ser degustados em vários pontos da Quinta (em mesas de piquenique em lugares pré-definidos). Estes serviços devem ser reservados antecipadamente.
Certo é que sairá com as energias repostas de maneira a regressar à sua rotina habitual até que o chamamento do Douro se volte a fazer sentir.
Texto de Maria João Lima