Elisa Boin, diretora da Alma do Cacau e Nómada: ‘Estamos a explorar tendências de consumo, como opções mais sustentáveis’
Fundada em 2021 em Oliveira do Hospital, a fábrica Alma do Cacau é um exemplo de como um pequeno negócio familiar pode alcançar o sucesso global. Com um investimento inicial de apenas 35 mil euros, a empresa cresceu rapidamente e exporta hoje quase metade da sua produção para países como França, Estados Unidos, Brasil, Austrália e Coreia do Sul.
A marca, que se dedica ao conceito revolucionário de “bean to bar”, aposta na produção de chocolates bio, vegan e com uma abordagem holística, valorizando a qualidade e a sustentabilidade.
Com mais de 100 referências de produtos disponíveis em grandes superfícies e online, a Alma do Cacau está a consolidar o nome de Portugal no mapa mundial do chocolate.
Elisa Boin, é diretora e responsável pela qualidade da empresa, e em entrevista à Marketeer revela os desafios, as ambições e a visão deste projeto inovador na região Centro.
O que motivou a criação das marcas Alma do Cacau e Nómada, e como descreveria o conceito e a identidade de cada uma?
Criámos a Alma do Cacau com uma missão: voltar às origens do cacau e recuperar a essência do autêntico chocolate. Ao contrário do que muitos pensam, o cacau é um verdadeiro superalimento. Repleto não só de um sabor incrível, como de vários nutrientes e minerais, que deixam a nossa mente e corpo mais felizes.
Com a Alma do Cacau quisemos fazer diferença e trazer às pessoas mais do que um simples chocolate. Quisemos criar um alimento nutritivo, delicioso, ético, justo e sustentável.
A marca Nómada é um conceito diferente da Alma do Cacau. Para a criação desta marca procuramos associar a alegria de ser um viajante à descoberta de novos sabores e experiências. Este conceito reflete a personalidade da marca, onde procuramos mostrar a todas as pessoas que os nossos chocolates são uma celebração desse espírito de aventura e descoberta, em que as convidamos a embarcar numa jornada inesquecível connosco.
Para a criação dos chocolates Nómada procuramos optar por uma técnica mais artesanal, feita em pequenos lotes e onde reforçamos a nossa aposta em ingredientes de qualidade. Aqui, contrariamente à Alma do Cacau, mantemos uma base mais tradicional do chocolate, aquele que é habitualmente conhecido pelas pessoas. Temos opções com chocolate branco, chocolate de leite e chocolate negro, onde para além de versões clássicas, apostamos em sabores originais e combinações de ingredientes diferenciadores.
Quais foram os maiores desafios e conquistas neste processo de internacionalização?
O mercado do chocolate é um mercado que tem vindo a ser dominado por grandes marcas e por vezes, pode ser um desafio para pequenas marcas em crescimento como a nossa poder expressar-se e ganhar dimensão. Contudo, atualmente as pessoas começam a procurar algo mais do que um simples chocolate, procuram uma experiência única. Com a crescente tendência de estilos de vida mais saudáveis, a Alma do Cacau destaca-se claramente entre estes públicos pelas suas características inovadoras, pois trata-se de tabletes de chocolate feitas com ingredientes biológicos, são vegan e adoçadas apenas com açúcar de coco (à exceção da tablete 100% chocolate, que contém apenas ingredientes à base de cacau).
Na marca Nómada proporcionamos uma experiência de sabores, onde algumas das referências que mais suscitam curiosidade são as nossas tabletes de chocolate branco com matcha e hortelã ou mesmo a tablete de chocolate de leite com frutos tropicais. Aqui destacamo-nos dos principais players com a oferta de um chocolate de qualidade premium e sabores disruptivos. Para além disso apostamos fortemente em embalagens emblemáticas, como latas, permitindo dar um novo uso a essa mesma embalagem após o consumo.
A nível internacional essas características que têm sido bastante apreciadas e como tal, temos vindo a crescer bastante nas nossas vendas de exportação. Contudo, para podermos continuar a crescer nesta área é necessário atender a vários requisitos de qualidade, principalmente em termos de certificações e exigências relacionadas com a legislação dos próprios países. No entanto, temos uma equipa jovem e dedicada que tem feito um excelente trabalho e nos permite superar quaisquer desafios que possam surgir.
O conceito “bean to bar” e a vertente bio e vegan são pontos de destaque na Alma do Cacau. Como têm trabalhado para comunicar e diferenciar este posicionamento no mercado nacional e internacional?
Na Alma do Cacau, temos procurado comunicar e reforçar o nosso posicionamento ‘bean to bar’, bio e vegan, de forma autêntica e consistente.
Procuramos ao máximo educar o consumidor, explicando todo o processo artesanal e sustentável por de trás das nossas tabletes, desde a origem dos grãos até a barra final, enfatizando a nossa preocupação com a qualidade e o respeito ao meio ambiente. Utilizamos estratégias como ações de degustação, destaques no ponto de venda e eventos que destacam os valores éticos e saudáveis dos nossos produtos e a presença em lojas que promovem o bem-estar, alimentação saudável e estilo de vida sustentável.
No mercado internacional, temos estado mais focados em feiras internacionais de grande impacto do mercado alimentar e em certificações reconhecidas globalmente, que asseguram os nossos padrões de qualidade. Para além disso, dispomos de uma equipa comercial que procura chegar a novos mercados e novos clientes, dando-lhes a conhecer a nossa oferta.
A fábrica em Oliveira do Hospital também serve como sede da empresa. Que papel desempenha a ligação à região na construção da identidade das marcas?
Foi em Oliveira do Hospital que começamos a criação da Alma do Cacau e da Nómada. Começou por ser um projeto de vertente bastante artesanal e manual, onde rapidamente começamos a crescer e a destacarmo-nos pelo sabor, pela qualidade e pelo packaging. Este crescimento levou-nos a mudar de instalações, para um espaço mais amplo e com novos equipamentos, que nos permitisse continuar a crescer.
A presença da fábrica em Oliveira do Hospital transcende a sua função industrial, sendo um reflexo da ligação profunda entre a empresa e a região. Esta relação é central para a autenticidade das nossas marcas, pois permite incorporar nos produtos elementos da identidade local, como a dedicação, o saber-fazer e os valores da comunidade. Além disso, essa ligação cria um impacto positivo tanto na economia local quanto no reconhecimento das marcas, projetando a região para além das suas fronteiras.
Com a presença em grandes superfícies e no mercado online, quais têm sido as estratégias de marketing mais eficazes para alcançar consumidores tão diversos?
Temos apostado na construção de uma forte identidade de marca, que transmite confiança e qualidade. Nas grandes superfícies, destacamo-nos através de embalagens diferenciadas e ações promocionais que chamam a atenção do consumidor no ponto de venda. Já no mercado online, focamo-nos na acessibilidade e na eficiência logística, assegurando que os nossos produtos chegam rapidamente ao cliente final. Além disso procuramos criar conteúdos relevantes e algum investimento em parcerias, o que tem sido essencial para gerar proximidade junto de audiências mais jovens, assim como transmitir melhor as características de cada marca. Esta abordagem, aliada a uma comunicação clara e uniforme, tem permitido conquistar novos clientes, valorizando tanto a experiência de compra tradicional quanto a digital.
A produção de 114 referências é impressionante. Como equilibram a inovação com a consistência e qualidade dos produtos?
O equilíbrio entre inovação e qualidade é alcançado através de um rigoroso controlo de processos e da valorização do know-how da nossa equipa. Antes de introduzir novas referências, investimos em pesquisa e desenvolvimento para assegurar que cada produto mantém os nossos padrões de qualidade. Além disso, priorizamos ingredientes e métodos de produção que garantam consistência, enquanto testamos e aprimoramos constantemente as nossas inovações. Essa abordagem permite expandir o portfólio sem comprometer a confiança dos consumidores nos nossos produtos.
Olhando para o futuro, há novos mercados ou linhas de produtos que estejam a explorar?
Estamos sempre atentos às oportunidades de expansão, tanto em mercados geográficos quanto em novas categorias de produtos. Internacionalmente, procuramos consolidar a nossa presença em mercados emergentes, onde há uma crescente valorização de produtos com autenticidade e qualidade. Em termos de produtos, estamos a explorar tendências de consumo, como opções mais sustentáveis e também soluções específicas que atendam às necessidades de diferentes perfis de consumidores, mantendo sempre a essência de cada uma das nossas marcas.
Como é que o feedback dos consumidores tem influenciado o desenvolvimento das marcas e dos produtos ao longo dos anos?
O feedback dos consumidores é um pilar fundamental para o nosso crescimento. A verdade é que os nossos chocolates têm sido bastante apreciados pelas pessoas. Para que seja possível continuar a ir de encontro às expectativas dos nossos clientes procuramos estar atentos às preferências de sabor, textura ou mesmo à funcionalidade das embalagens, adaptando-nos sempre que possível.
O facto de gerirmos duas marcas tão distintas, permite-nos ir de encontro às necessidades e preferências de diversos públicos, desde aqueles que procuram um chocolate mais focado no seu bem-estar, como aqueles que preferem um chocolate que lhe permita ter uma experiência mais indulgente.
Por fim, o que destaca os vossos produtos no mercado?
Os nossos produtos destacam-se pela combinação de qualidade e autenticidade intrínseca. A atenção que dedicamos a cada etapa, desde a seleção das matérias-primas até à apresentação final, transmite aos consumidores um compromisso com a excelência. Além disso, a diversidade do nosso portfólio permite atender às mais variadas necessidades dos nossos clientes, sempre com a confiança e consistência que nos diferenciam no mercado.
Além disso procuramos destacarmo-nos também pela inovação e pela combinação única de ingredientes e sabores. A Alma do Cacau é um exemplo claro disso, com tabletes de chocolate feitas exclusivamente com ingredientes 100% biológicos, vegan e adoçadas apenas com açúcar de coco. Essa proposta atende à crescente procura por opções mais saudáveis e sustentáveis, sem comprometer o sabor ou a qualidade. Já a marca Nómada oferece uma verdadeira experiência sensorial com sabores únicos, onde apostamos em ingredientes como matcha, hortelã, frutos tropicais e muito mais. Esse enfoque em sabores inovadores e em chocolates de qualidade diferencia-nos dos principais players do mercado. Além disso, destacamo-nos pela aposta em embalagens emblemáticas, como as latas, que além de funcionais, permitem dar um novo uso após o consumo, reforçando nosso compromisso com a sustentabilidade e proporcionando uma experiência de consumo única.