É uma questão de contas?

M.ª João Vieira Pinto

Directora de Redacção Marketeer

É verdade: não sou de Economia ou Gestão e percebo pouco de Finanças. Mas também não preciso desses cursos para saber fazer contas básicas. E, estas, dizem-me que nunca paguei tanto por tão pouco. Nunca paguei tanto por sair de casa de manhã e ir trabalhar. Para ter um tecto para morar. Ou para fazer aquilo a que os meus pais me habituaram desde sempre: poupar.

É verdade que não é de hoje que os juros pagos não compensam o dinheiro à ordem. Nem a prazo. Assim como é certo que qualquer serviço deve (e tem que) ser pago. O problema é que há cada vez mais players digitais neste barco de titãs (leia-se Banca) que, para ganhar espaço e quota – e porque têm estruturas muito mais leves e, logo, muito menos custos – oferecem igual ou melhor. As transferências não são cobradas, nem as compras no estrangeiro vêm com custo extra. Por isso, é claro que são cada vez mais os portugueses a ir. E já não é com pés de lã!

Como se pode ler na entrevista desta edição da Marketeer, a Revolut chegou a Portugal para ficar. Haverá ainda quem não conheça a marca e os seus serviços financeiros, mas a verdade é que, em quatro anos – e com presença apenas e só digital -, emitiu 300 mil cartões com nomes portugueses. Na Europa, sete milhões. E aquele que começou por ser um serviço facilitador de compras em outros países, estendeu a oferta e não cobra por ela.

Aliás, bastou perceber a onda gigante que a App MB Way da SIBS – entidade que gere a rede Multibanco – navegou em pouco tempo. Está com perto de dois milhões de utilizadores e um registo médio de cinco milhões de operações bancárias por mês. Desde o início do ano, tanto as operações de transferência como as de compra registaram um crescimento de 35%. O que é que a MB Way tem? É prática, user-friendly, facilitadora e… não cobra por este tipo de serviços. Aliás, não cobrava! Porque já são alguns bancos que o passaram a pedir e a própria CGD anunciou que a partir de Janeiro irá taxar o serviço.

Claro que a App da SIBS vai perder utilizadores. Mas não se pense que esses mesmos irão migrar e ficar apenas e só com os “seus” bancos. Porque, repito, há mais players unicamente digitais por aí e não vale a pena assobiar para o lado. Se se notar, ainda, que a actual geração de adolescentes pouco liga à posse e que, quando precisar de “bancarizar” o primeiro ordenado, deverá estar pouco disposta a pagar… valerá a pena fazer contas?!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 279 de Outubro de 2019.

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