Dono do ‘Nascer do Sol’ e do ‘i’ recebeu 45 milhões de euros da Hungria de Orbán para comprar ‘Euronews’
A Hungria investiu 45 milhões de euros na compra da ‘Euronews’, revelou esta quinta-feira uma investigação do ‘Expresso’, em colaboração com o ‘Direkt36’ e o ‘Le Monde’: Pedro Vargas David, o rosto português do negócio e chairman da cadeia europeia de televisão, manteve o negócio em segredo.
O rumor vinha de dezembro de 2021 e dizia respeito a Mário David, antigo eurodeputado do PSD que se tornou conselheiro político do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, e o filho, Pedro Vargas David, dono da Alpac Capital, empresa de gestão de capitais de risco de Lisboa e que liderou a aquisição da ‘Euronews’.
No entanto, a investigação apontou que um fundo, detido a 100% pelo Estado húngaro e com ligações ao Fidesz – partido de Orbán -, investiu 45 milhões de euros no European Future Media Investment Fund (EFMI), fundo criado pela empresa para comprar a cadeia de televisão, um negócio que se concretizou em julho de 2022. De acordo com os documentos do jornal semanário, a empresa do principal produtor de propaganda do Governo de Orbán, a ‘New Land Media’, de Gyula Balasy, emprestou 12,5 milhões de euros a uma subsidiária da Alpac Capital para que esta investisse no EFMI: o que significa que pelo menos 57,5 milhões de euros com ligações a Orbán foram injetados na ‘Euronews’.
Pedro Vargas David reuniu 170 milhões de euros em 2022 para o EFMI – 85 milhões de capitais próprios, a outra metade com recurso a empréstimos bancários. Desses, 150 milhões foram utilizados na aquisição da ‘Euronews’ e 20 milhões de euros para a sua reestruturação.
Esta aquisição coincidiu ainda com a compra em Portugal do semanário ‘Nascer do Sol’ e ‘i’: ambos os jornais são controlados pela mesma empresa que detém a ‘Euronews’, uma holding da Alpac Capital no Dubai.
Guillaume Dubois, CEO da ‘Euronews’ nomeado por Pedro Vargas David, frisou, em entrevista ao ‘Le Monde’, que desconhecia o envolvimento do Estado húngaro. “A diversidade dos investidores do fundo é algo que não me interessa”, apontou, garantindo que o negócio respeitou a lei. “A Euronews SA, da qual eu sou o diretor-geral, tem um conselho de administração e uma cadeia de controlo. O acionista maioritário é o Pedro Vargas David, o resto não me diz respeito.”
A participação do Estado húngaro foi negociada pela Alpac Capital pela Széchenyi Funds (SZTA), empresa de Budapeste de gestão de capitais de risco – Mihaly Varga, atual ministro das Finanças húngaro e uma das figuras do Fidesz, preside à fundação pela qual o Estado húngaro detém a SZTA.
Os documentos do ‘Direkt36’ não têm provas do envolvimento direto de Viktor Orbán no negócio mas tudo indica ter-se tratado de uma decisão política: o mais suspeito dos quais a decisão de a SZTA ter aprovado a participação de 45 milhões de euros no EFMI sem saber quais os outros investidores no fundo gerido por Pedro Vargas David.
Em fevereiro de 2022, indicou o semanário, o diretor de investimentos da SZTA partilhou internamente uma apresentação de 62 páginas sobre o EFMI classificada como “estritamente confidencial”, que pretendeu demonstrar como seria construído “o meio de comunicação social mais influente e informativo da União Europeia, com a missão de responsabilizar Bruxelas”.
A 5 de julho de 2022, a ‘Euronews’ anunciou que tinha sido comprada pela Alpac Capital. A 8 de julho, era a vez de o jornal “Nascer do Sol” indicar que Pedro Vargas David e Luís Santos (filho do ex-selecionador Fernando Santos) tinham fechado a compra do semanário e do jornal ‘i’.
Pedro Vargas David assumiu o papel de presidente do conselho de administração da cadeia de televisão e passou a ter como chefe de gabinete Fernando Soares, que acumulou essa função com a de gestor de investimentos na Alpac Capital e a de administrador na Newsplex, a empresa detentora do ‘Nascer do Sol’ e do ‘i’.