Dona Maria tem sabores portugueses com vista para o Porto
Diz-se que é de Gaia que se tem a melhor vista para o Porto. E essa vista fica ainda melhor quando estamos no Dona Maria, o restaurante do The Lodge Wine & Business Hotel, onde se eleva a cozinha tradicional portuguesa para criar experiências que despertam memórias.
Num espaço intimista, com uma decoração elegante mas acolhedora, podemos desfrutar da criatividade do chef Ricardo Simões, que não só promove pratos portugueses como apresenta-os numa lógica de partilha. É por isso que, no Dona Maria, o tacho vem para a mesa, para que possamos descobrir novos sabores mas replicar a intimidade de uma refeição caseira.
Fazendo jus ao conceito de partilha, nada como começar com uma enorme (literalmente) tábua de queijos e enchidos, apelidada “As boas companhias”, a fazer par com o Quinta Monte D’Oiro Reserva 2017, um vinho da região de Lisboa.
De seguida, “Comes caldo…vives alto…anda quente…viverás longamente”. A tradução: uma canja de galinha. Pode parecer simples mas a confecção, essa, denota elaboração. A começar pelo conceito, já que o chef Ricardo Simões pretendeu que o prato representasse um ninho: na base, existe um disco de arroz, previamente cozido até à exaustão e depois frito. Por cima, eis a galinha. Para dar corpo a este ninho, surge alho francês frito e um ovo (aqueles bem amarelos típicos da canja). Falta apenas o caldo, servido à mesa. Os ingredientes unem-se para criar uma experiência que, além de visual, é igualmente apelativa ao paladar, com destaque para o crocante e saboroso alho francês. Acompanhando o prato, pudemos apreciar o Sílica 2019, de Raúl Riba D’Ave, da região do Douro.
Era hora do prato principal. Para a mesa vem um tacho que traz consigo um conjunto de fragrâncias que antevêem clássicos sabores portugueses. E cumpriu. “Bom guisado, mas bem repousado”: vitela estufada com arroz de enchidos. A vitela, cozinhada lentamente durante a noite, tem um sabor intenso e foi bem amaciada pelas longas horas ao lume. O arroz, cremoso, junta os enchidos para criar um prato tradicional que anima as papilas gustativas mas também reconforta a alma. Homenageando a região, o vinho foi novamente do Douro, desta vez um Muxagat 2016.
Por último, as sobremesas. Existem opções mais clássicas, como Pudim de Abade de Priscos e Barriga de Freira, e outras mais técnicas, como as texturas de chocolate. Para bem dos indecisos, vem tudo para a mesa, numa ardósia de sobremesas com o nome “Doces ou travessuras”. Sendo um incondicional fã de chocolate, o destaque tem de ir para as texturas de chocolate, um prato que contempla elementos como mousse, brownies ou um molho de caramelo. Indulgente, sim, mas é uma incrível conjugação de sabores. Quanto ao acompanhamento vínico, desta feita o destino foi Setúbal, com um moscatel DSF Colecção Privada Superior, de 2002.
Findo o jantar, já sem o sol a fazer companhia, mas com as luzes da Invicta a alegrar a vista, só podemos ficar física e mentalmente satisfeitos. As propostas do chef Ricardo Simões transparecem a imensa paixão que tem pela cozinha, com sabores intensos e tradicionais, mas com um rigor que se se exige face ao hotel de 5 estrelas onde está inserido. Os sabores, o espaço e a vista (que nos permitiu contemplar o pôr-do-sol) fazem do Dona Maria um espaço muito agradável aos olhos e ao paladar. Também o staff está de parabéns, nomeadamente a sommelier Joana, que tão bem nos acompanhou nesta noite.
Texto de Rafael Paiva Reis