De Lisboa a Londres e Milão, a vida de uma Publicitária Emigrante

Por Madalena Gonçalves, Directora de Arte na LePub Milan

De acordo com estimativas, uma pessoa muda de casa, em média, entre 4 e 8 vezes ao longo da vida. Eu já ultrapassei as 10 mudanças e acho que ainda tenho algumas pela frente. Vivo há 8 anos fora de Portugal e, ao longo da minha carreira como directora de Arte, já tive o privilégio de trabalhar com marcas como Oreo, Toblerone, Netflix e Heineken.

Apesar de se falar muito sobre carreiras em Marketing, o caminho para a criatividade dentro da publicidade é muitas vezes descoberto por acaso — e comigo não foi diferente. Em 2013, uma conversa inesperada numa noite de verão na Praia da Rocha, com um grupo de estudantes de Publicidade em Londres, abriu-me os olhos para uma área que eu desconhecia. O entusiasmo por um curso prático, sem exames, foi o impulso de que precisava. Dois anos depois, em Setembro de 2015, estava a iniciar os meus estudos na Universidade de Artes de Londres (UAL), um marco decisivo na minha carreira.

Se soubesse o que sei hoje, talvez tivesse escolhido uma escola mais focada na prática criativa, como a Miami Ad School, a School of Communication Arts ou a Brother, que agora também está presente em Lisboa. Estas instituições oferecem uma preparação mais direccionada e prática, com ligações fortes ao mercado de trabalho. Ainda assim, consegui iniciar a minha carreira na Havas London logo após a licenciatura, em 2018.

Londres é uma cidade dinâmica e vibrante, mas apresenta desafios únicos, especialmente no mercado criativo. Ao contrário de outras partes do mundo, onde as agências formam duplas internamente, em Londres é necessário candidatar-se já em dupla criativa — o que pode tornar o processo de encontrar um parceiro de trabalho e, consequentemente, emprego, mais demorado. Contudo, esta experiência ensinou-me a importância da colaboração e da resiliência.

Londres, sendo uma das cidades mais caras do mundo, também me obrigou a conciliar vários trabalhos para me sustentar. Trabalhei como directora de Arte durante a semana, professora de natação ao fim de semana e bartender à noite. Esta fase de multitasking foi dura, mas permitiu-me crescer pessoal e profissionalmente.

Mesmo já dominando o inglês, viver numa cidade cosmopolita trouxe alguns momentos engraçados de adaptação linguística. Lembro-me de uma vez em que, ao pedir direcções, usei “Sorry” em vez de “Excuse me” e a resposta que recebi foi: “What are you sorry for, my love?”. Foi uma das poucas vezes em que fui corrigida em Londres. Por ser uma cidade cosmopolita, com pessoas de todo o mundo, sentia que ninguém me corrigia ao falar inglês. Falar uma segunda língua já é uma conquista que a maioria dos ingleses não tem.

Com a chegada da pandemia, decidi voltar a Portugal temporariamente e aproveitar para melhorar o meu portfólio com um curso online da Miami Ad School Brasil. Foi durante este curso que formei uma parceria criativa com Débora Ferreira e Gabriela Barreira, e juntas ganhámos dois prémios importantes: um no D&AD e outro no One Show, Young Ones. Além disso, fui distinguida com o prémio de um dos melhores Portfólios de Estudantes do Ano de 2021 pelo D&AD.

Foi graças a estas conquistas que recebi uma proposta para trabalhar na LePub Milão (parte do grupo Publicis), uma das melhores agências de publicidade do mundo, onde estou desde 2021. Quando se trabalhar num país onde o inglês não é muito forte, é essencial aprender a lingua, tanto para lidar com questões do dia a dia, como para uma mais fácil integração. Como italiano é uma língua semelhante à nossa, muitas vezes arrisco dizer palavras em português e, às vezes, acerto!

Nestes três anos em Itália, colaborei com marcas como Oreo, Toblerone, Netflix e Heineken. Uma das vantagens de trabalhar com marcas globais é que, ao apresentar o meu portfólio em outras agencias, não preciso de explicar quem são os clientes — as marcas falam por si. Isso facilita a fluidez nas entrevistas e nas conversas com potenciais novos empregadores.

Apesar de nunca ter trabalhado em publicidade em Portugal, viver e trabalhar fora permite-me tirar o máximo proveito das oportunidades internacionais, ao mesmo tempo que valorizo o que o meu país tem para oferecer. Quando se é emigrante nunca se vive completamente “La Dolce Vita”, devido ao ritmo intenso da nossa profissão e estar longe da familia, mas estar num país tão bonito como Itália, com uma culinária fantástica e uma língua que me é familiar, facilita muito a adaptação. Se me perguntarem se prefiro Londres ou Milão, a resposta é, sem dúvida, Milão. Embora Londres tenha sido uma fase importante da minha vida, vivida como estudante e com recursos mais limitados, Milão oferece-me hoje uma experiência mais completa, tanto a nível pessoal quanto profissional.

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