Daniela Agra (Atrevia): «Comprámos já 6 empresas e continuamos a analisar opções, nomeadamente em Portugal»
Uma agência de comunicação com sede espanhola (criada há 25 anos) que quer reforçar a sua posição no mercado portugués, preparando-se para apostar na aquisição de agências de comunicação mais pequenas, mas com implementação consolidada. A cara deste desafio da Atrevia em Portugal é Daniela Agra, profissional que já estava na empresa como coordenadora do escritório do Porto, mas que lidera, agora, a equipa nacional.
Com presença em 15 territórios – Espanha, Portugal, Bruxelas, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Miami, Panamá, Paraguai, Peru e República Dominicana – e empresas parceiras noutros 30 países, a Atrevia é uma empresa global de Comunicação e Assuntos Corporativos que conta com mais de 600 profissionais, de 30 nacionalidades e perfis multidisciplinares.
Para conhecer a realidade da agência em Portugal e aquilo a que a nova directora se propõe fazer, a Marketeer esteve à conversa com Daniela Agra. Acompanhe os detalhes da experiência de três anos no Brasil e como tem sido a gestão nestes primeiros seis meses em funções.
Há seis meses assumiu o cargo de directora da Atrevia Portugal. Quais os principais desafios de lá para cá?
Diria que, neste momento, ao nível do trabalho diário, a grande mudança está na quantidade de viagens realizadas entre o Porto e Lisboa ou até mesmo Madrid. Contudo, não me apercebo de grandes diferenças relativamente ao ritmo, pois mantém-se aceso e dinâmico como habitual. Não sou uma pessoa “morna”, sempre fui bastante inquieta, energética, com muita vontade de “agarrar” todos e mais alguns projectos, com muita persistência e resiliência no trabalho, pelo que essa atitude não se alterou em mim, sendo inclusive uma força vital e propulsora neste novo momento da minha carreira.
O principal desafio é continuar a contribuir para o posicionamento da Atrevia como uma das principais agências do País e internacionais, tanto ao nível da comunicação como dos assuntos corporativos. Num sector com tantas subdisciplinas, os desafios e estímulos são de diversas ordens, e queremos continuar a estar na linha da frente de resposta às transformações que estão e vão continuar a ocorrer nas diferentes áreas em que actuamos.
Nesse sentido, temos trabalhado afincadamente para aproximar e unificar os escritórios de Lisboa e Porto, através de equipas multidisciplinares, bem como operar cada vez mais de forma integrada com Espanha, continuando a realizar projectos internacionais e investindo em novos negócios, tanto no âmbito da captação de talento como na compra de empresas.
Também a necessidade de fomentar, cada vez mais, a integração das ferramentas digitais e da Inteligência Artificial nos nossos processos são alvo de atenção, com o objectivo de apoiar os nossos colaboradores, abrir mais espaço para as tarefas criativas e continuar a entregar um serviço de excelência aos nossos clientes, a nossa principal prioridade.
O que é que a sua liderança imprime de novo à empresa?
Pode não imprimir algo de novo por si só, mas o que procuro é contagiar com a minha energia e positividade o projecto. Trazer novidades e inovação a uma empresa tão dinâmica como a Atrevia não é tarefa fácil! Para mim, é um motivo de superação e estou sempre pronta para, juntamente com toda a equipa, conseguir abrir novos caminhos, criarmos áreas de conhecimento fortes no âmbito da comunicação, sermos capazes de ser audazes, e estarmos envolvidos activamente na mudança e no entendimento constante do mundo.
Há mais de uma década que desempenho cargos de liderança na Atrevia, pelo que, ao longo destes anos, tive a oportunidade de contribuir para o apoio de centenas de empresas de diversos sectores de atividade, em mais de 20 áreas de especialização, no mercado português, brasileiro e espanhol, sobretudo.
Ao ter estado envolvida no desenho e implementação de diversas estratégias de comunicação integradas e de apoio directo ao negócio, acredito que é exactamente este acumular de experiências, a sensibilidade perante a necessidade de cada cliente e a rede de contactos à qual cada desafio abriu portas que permitem hoje liderar uma equipa talentosa e dinâmica com a qual a Atrevia conta em Portugal, para que todos estejamos à altura do projecto de inovação e crescimento da empresa, fortalecendo a colaboração com Espanha e internacional, e para darmos resposta à crescente procura de projectos na Península Ibérica.
Na última década teve experiência no mercado brasileiro. O que é que essa experiência internacional aporta às suas actuais funções?
Acredito que esta transversalidade de experiências é positiva para qualquer profissional, assim como o facto de termos a possibilidade de estar em contacto directo com 16 países, 12 na América Latina, para além do nosso escritório em Bruxelas. A possibilidade de absorver inovação na comunicação em cada um dos territórios e de trabalharmos desbravando fronteiras entre as diferentes disciplinas numa linha de trabalho multidisciplinar é extraordinária.
Quando fui de malas e bagagens para o Brasil, após ter aceitado o desafio, não conhecia a cidade onde me instalei, São Paulo, e muito menos o país. Tudo foi novo para mim, à excepção da comunicação. Naquela ocasião, esta foi uma decisão que me transportou para uma zona de desconforto enorme, inclusive porque fiquei longe da minha família, com a qual tenho uma ligação fortíssima.
O mercado brasileiro é totalmente distinto do nacional e onde a Atrevia tem objectivos únicos. A cidade de São Paulo, onde vivi durante mais de três anos, tem um número de habitantes superior ao de Portugal inteiro. É uma região do mundo verdadeiramente impressionante pelo dinamismo e pela intensidade, mas eu também assim sou e talvez por isso houve uma conexão imediata. São Paulo não “dorme” e obriga-nos a estar conectados e com sede de uma aprendizagem constante – na larga maioria das vezes, sentimos que tudo é mais difícil que o normal, mas, no final, tudo dá certo e acaba bem. Vivenciamos a máxima tão escutada no país: “no final, tudo dá certo”, e assim é.
Foi um curso intensivo para o desenvolvimento da resiliência e perspicácia. Ao ser um grande centro cosmopolita, o sector da comunicação tem de acompanhar esse mesmo ritmo e estar também à altura. Durante esta fase, desempenhei maioritariamente funções através de consultoria estratégica, desenvolvimento de negócio, disseminação da agência e tive igualmente oportunidade de desenvolver formação em diferentes âmbitos, sobretudo no que diz respeito à sustentabilidade, media training e formação interna.
Como sabemos, o Brasil é um país em que jornalistas e assessores têm uma relação distinta da qual estamos habituados no nosso País, em que as empresas são de enorme dimensão, onde a concorrência é feroz e em que os eventos são uma constante, pelo que esta exigência me obrigou a um crescimento natural, célere e obrigatório.
Que crescimento orgânico registou a empresa em Portugal em 2023? Que prespectivas em termos de crescimento orgânico em Portugal em 2024?
Em 2023, a nossa facturação bruta em Portugal foi de 2,55 milhões face a 2,37 milhões do ano anterior. Em termos globais, a Atrevia facturou, no ano passado, 43,8 milhões de euros.
Para 2024, perspectivamos continuar a crescer a dois dígitos e em termos orgânicos. Pretendemos, com a combinação do crescimento orgânico e inorgânico, alcançar uma facturação global este ano de 50 milhões de euros e, em 2028, de 100 milhões de euros.
O nosso foco está em empresas portuguesas, assim como em empresas ibéricas, e para isso vamos apoiar-nos em múltiplas ferramentas e sectores, desde a comunicação corporativa de marketing, digital, criatividade, passando por Public Affairs. Não obstante, impulsionaremos sectores de especialidade, como é o caso da saúde, alimentação, energia, mobilidade/automação, por exemplo.
Portugal é, para a Atrevia, um mercado muito relevante e estratégico. Este ano, celebramos o nosso 25º aniversário, pelo que prevemos várias novidades e iniciativas ao longo do ano.
Fora de Portugal, a Atrevia tem feito algumas aquisições nos meses mais recentes, crescendo de forma inorgânica. Esta estratégia também chegará a Portugal? Qual o investimento que será feito em Portugal?
Temos estado atentos a todas as oportunidades interessantes que possam surgir. Comprámos já seis empresas em termos internacionais e continuamos a analisar opções, nomeadamente em Portugal. Estamos a analisar o mercado e a fazer prospecção do mesmo. Procuramos áreas que nos ajudem a incrementar o negócio actual da agência – estamos a falar, essencialmente, da área digital, nomeadamente em data, marketing automation, criatividade e não descartamos – de todo – alguma empresa em âmbitos mais maduros, como Public Affairs. Além do objetivo principal, queremos continuar a fortalecer a Atrevia como líder em Portugal e proporcionar uma oferta adaptada a todas as necessidades, através de um serviço global 360º.
Vamos continuar a incorporar novidades, bem como serviços cada vez mais tecnológicos, inovadores, personalizados, de acordo com as necessidades de cada um dos nossos clientes. No fundo, estamos focados em encontrar motores de desenvolvimento do nosso negócio e prevemos investir até 5 milhões de euros na aquisição de novas empresas em Portugal, durante os próximos três anos.
Com 45 pessoas na equipa, neste momento, com quantas deverá a Atrevia Portugal terminar 2024? Por que áreas da agência se repartem?
Hoje, somos mais de 40 colaboradores só em Portugal e mais de 600 profissionais em todo o grupo, na Europa e América Latina, trabalhando de forma sinérgica e colaborativa. Seleccionamos a melhor equipa para cada projecto, em termos de conhecimento local e expertise do nosso talento.
Estamos divididos em duas áreas principais, Agência e Consultoria, ambas baseadas na estratégia e criatividade. Na área de agência, trabalhamos para oferecer aos nossos clientes soluções de marketing e comunicação com equipas ibéricas especializadas em criatividade, marketing digital e social media, social listening, produção audiovisual, eventos e comunicação de produto. Na área de consultoria, trabalhamos com equipas especializadas em comunicação corporativa, sustentabilidade, licença social, comunicação de crise e assuntos públicos.
Prevemos novas contratações, que equilibramos com o nosso objectivo de impulsionar oportunidades internas e de crescimento à actual equipa.
Em termos de perfil de novos elementos a integrar a Atrevia, como está a mudar de maneira a acompanhar a evolução do mercado?
Tem evoluído exactamente como o sector em si nos exige – com uma preocupação cada vez mais vincada num currículo integrado. Estamos numa era de total disrupção, em especial no universo digital, pelo que naturalmente procuramos num novo membro esta capacidade de se adaptar, de estar permanentemente actualizado e de nos ajudar a estar um passo à frente das grandes tendências de amanhã.
É um conceito que se cruza, desde logo, com o próprio trabalho que é característico a uma agência. Num só dia, podemos estar em contacto com várias marcas, para diferentes serviços, com tons distintos e com públicos opostos. É realmente exigente, mas permite-nos uma evolução extraordinária!
Por um lado, temos vindo a incorporar perfis que nos permitem crescer ao nível da análise de dados e comportamentos, de uma forma muito transversal, seja através da incorporação de psicólogos, sociólogos ou engenheiros.
A par, procuramos colaboradores que acreditem no nosso propósito e se tornem em verdadeiros “activistas”, como costumamos designar. Desde o primeiro dia, acreditamos no poder da comunicação como uma ferramenta transformadora. A partir do nosso compromisso com a responsabilidade social, procuramos gerar valor no nosso contexto, desenvolvendo e partilhando conhecimento, construindo redes de diálogo e colaboração ou apoiando iniciativas que fazem a diferença.
Sempre com o foco nas pessoas, para construirmos, juntos, um horizonte sustentável.
Quais os clientes mais antigos trabalhados pela Atrevia e quais os mais recentemente conquistados?
Na Atrevia, pautamo-nos por uma atitude diária que nos permite ser uma extensão dos nossos clientes e parceiros. Procuramos criar laços e relações de longa duração. Assim sendo, a nossa actual carteira de clientes e parceiros evidencia exatamente a solidez das relações que temos vindo a construir, com o objectivo de ser uma peça que ajuda os clientes a evoluir e a continuar o seu trajecto de forma estável. É uma posição fulcral que serve de âncora no trabalho que desenvolvemos com algumas das maiores organizações do País e nos mais diversos sectores de actividade, seja na indústria, serviços, saúde, consumo, banca, seguros, energia, logística, entre outros.
Texto de Maria João Lima