Cervejaria Ribadouro: Há 75 anos a tratar o marisco como rei

Alberto Mota é mestre marisqueiro há décadas. Na Cervejaria Ribadouro, aquela bem a meio da Avenida da Liberdade, em Lisboa, está há 35. Conhece como poucos a arte de escolher, cozer, os tempos, as colorações e temperaturas. E, claro, de receber, numa casa que celebra este ano o 75.º aniversário, é referência na cidade e fora dela e que promete continuar a ajudar a escrever a história da gastronomia da capital e de Portugal.

Alberto Mota diz que tudo o que aprendeu foi aqui, com o tempo e os anos, com quem por ali passou antes de si: «Quando cheguei, já havia aqui pessoas a trabalhar há 30 anos», recorda. E que se preocupa em passar saber à geração que se segue, desde a escolha dos fornecedores ao estado ou calibre do marisco! Porque quer, claro, que esta casa que também é sua se mantenha por mais 75 anos.

Foi dois anos após o fim da Segunda Grande Guerra, em 1947, não se sabe a data ao certo, que a Cervejaria Ribadouro abriu portas em Lisboa. Já passou por mais do que um proprietário, mas sempre teve testemunhos e clientes fiéis. Muitas famílias, com mesa marcada ao domingo, e muitos clientes do teatro e da música ou não fosse vizinha do Parque Mayer e do teatro São Jorge. Mas mais, muitos mais, como bem se recorda o mestre cervejeiro. «O Salvação Barreto [toureiro] era nosso cliente e sempre que às quintas-feiras havia tourada no Campo Pequeno, ele vinha cá. Antes de falecer disse aos amigos que queria que lhe fizessem uma festa na Ribadouro. E eles cumpriram», conta, enquanto lembra que José Cardoso Pires elegeu a casa como «a universidade do tremoço!».

«Foram 75 anos de muitas histórias e muitas personagens da vida lisboeta. Portugal é hoje um país completamente diferente, mas o gosto por comer bem mantem-se e esta casa e o seu staff continuam com a mesma vontade e o mesmo rigor desde a sua origem. A Cervejaria Ribadouro é uma referência em Lisboa há 75 anos e queremos que continue a ser por mais 75, e outros 75 depois desses», diz o mestre marisqueiro da Cervejaria Ribadouro.

Bem, mas por aqui rei a sério é então o senhor marisco, com uma vitrine enorme e “demoníaca” a tentar-nos assim que se passa a porta de entrada e desce os dois degraus de acesso à sala principal. Lagosta, lavagante, camarão tigre, sapateira, percebes, ostras… Mas para quem prefere outro tipo de aconchego, diz que o lombo de bacalhau à Ribadouro e o Bacalhau à Brás são pratos incontornáveis, assim como os bifes, da vazia ou do lombo, com molho à Ribadouro, trazido para a mesa na frigideira, ou o prego.

Conta o mestre que do que mais vende é lagosta e camarão tigre ou as sapateiras. Mas no final, confessa, por ali «vende-se tudo».

Em antecipação das celebrações, a Cervejaria Ribadouro modernizou o espaço, mantendo-se fiel à sua identidade e destacando-se por ter dois ambientes distintos: a tradicional Cervejaria (com duas salas, a principal e uma mais pequena, ao fundo) e a Esplanada com o seu Quiosque, em pleno passeio interior da Avenida de Liberdade.

Ah, e tem horário às 1h30 (com entrada até à 1h), não vá apetecer-lhe aconchegar o estômago depois de uma saída à noite!

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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