De pequenino se torce o pepino: a alimentação em idade infantil
A idade infantil é, efectivamente, um período-chave do ciclo de vida, na medida em que possibilita a plasticidade dos hábitos alimentares.
Hoje, sabe-se que os cuidados na modulação da saúde da criança iniciam-se desde o momento da pré- -concepção. Entre outros factores, uma alimentação assente nos três pilares da alimentação saudável oferece: o equilíbrio, a variedade e a integridade dos grupos de alimentos da Roda da Alimentação Mediterrânica. De facto, a programação da gravidez facilita uma oferta nutricional mais adaptada para a fase que se avizinha. E é na gravidez que tudo se determina, tanto ao nível do peso ao nascimento da criança, da sua composição corporal, assim como da diferenciação das células do organismo. São estes 273 dias que vão maturando a ligação entre a mãe e o bebé, sendo o apoio da família e de todos os que são próximos crucial para que esta fase seja vivida com a intensidade máxima que pressupõe, proporcionando um momento positivo na vida dos pais.
A etapa da diversificação alimentar inicia- se entre os 4 e os 6 meses, sendo elementar na estruturação de hábitos alimentares saudáveis, os quais se espera que se mantenham ao longo da vida. Nesta fase há aspectos cruciais que não podem ser descurados, tais como a ampla variedade de alimentos, com intervalos de inclusão entre si, que devem ser oferecidos, de forma a potenciar a experiência de texturas, aromas e sabores que potenciam a melhor aceitação dos alimentos no futuro. É, ainda, absolutamente desejável a exclusão de açúcar e sal, nas suas mais variadas formas, no primeiro ano de vida, e idealmente evitados após essa etapa. Segundo os dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física (IAN-AF) (2017), a população infantil apresenta uma prevalência de obesidade e pré-obesidade de 7,7% e de 17,3%, respectivamente. A ingestão proteica excessiva (83,2%), bem como de ácidos gordos saturados (73%) e de açúcares livres (40,7%), a par do tempo de inactividade física, são alguns dos motivos para estes valores.
Note-se que é ao redor da mesa que surgem os primeiros “nãos”. Todavia, compete aos pais/cuidadores incentivar uma nova tentativa e inovar na forma de apresentar os alimentos que não foram bem aceites nas primeiras experiências. Só após vários contactos da criança com o alimento, sob as mais distintas formas de preparação, é que os pais/cuidadores podem ceder e respeitar as preferências da criança. Porém, a sopa, os hortofrutícolas da época e locais, o pescado, as leguminosas e a água não podem ser negociados no âmbito de uma alimentação saudável e cabe aos pais/ /cuidadores dar o exemplo, porque a família é o principal modelo da criança.
Por outro lado, é essencial desencorajar o uso de meios ou materiais lúdicos durante o período da refeição. Com efeito, a criança fica desatenta e não reconhece os seus sinais de fome e saciedade, os quais devem ser respeitados pelos pais/cuidadores. Paralelamente, a oferta de alimentos como forma de recompensa e punição também não deve ser promovida, de modo a não permitir que a criança estabeleça imagens positivas e negativas dos alimentos. Desta forma, o momento à mesa deve ser tranquilo e agradável, assente na partilha do dia-a-dia, da cultura e dos valores relacionados com a refeição.
Saliente-se que a alimentação é um acto de afecto dos pais/cuidadores pela criança e, como tal, optar por alimentos ricos em nutrientes que sustentam o crescimento sadio da criança é oferecer saúde na forma de carinho. Contudo, nos dias de festa não promova restrições excessivas, permita que sejam dias alegres e sem inquietações, para que as crianças reconheçam que há alimentos que só podem incluir, de vez em quando, porque não fornecem os nutrientes que os mantêm fortes e saudáveis.
Portanto, transmitir conhecimento sobre educação alimentar pode, por vezes, ser difícil. E, por isso, é essencial que se procure a ajuda de um profissional de saúde, como o nutricionista, que pode aconselhar os pais/cuidadores na alteração de hábitos alimentares, de maneira a adoptarem um estilo de vida apoiado em práticas mais salutares, porque “saber comer é saber viver”.
Teresa Carvalho