Por João Reis, licenciado em Gestão, MBA, estudante doutoramento Marketing e Estratégia U. Aveiro/U. Minho/U. Beira Interior
Um dos casos de estudo mais paradigmáticos no marketing é a apropriação do Natal pela Coca-Cola – um feito extraordinário, eficaz até aos nossos dias. Mas há um detalhe curioso: a maioria das imagens mostra o Pai Natal, em plena entrega de presentes, a beber um refrigerante. E ninguém se pergunta o que ele bebe quando finalmente descansa e se junta com familiares e amigos.
Muito provavelmente – como tantas famílias portuguesas – passará o dia 25 de Dezembro a comer o excesso de elaboração gastronómica do dia anterior. E a harmonizar com um bom tinto, branco ou rosé, antes, durante e depois da refeição.
Há aqui um contraste óbvio: o refrigerante é para consumir rapidamente; o vinho é para desfrutar. Um é mais individual e fugaz. O outro é mais profundo, colectivo e com história.
O vinho, nas suas diferentes formas, com ou sem álcool, atravessa a história moderna da humanidade. Tal como as iguarias regionais, traz para a mesa as tradições e a criatividade das nossas terras: motivos de conversa, debate, aprovação e discórdia.
De Trás-os-Montes à Madeira. Da Negra Mole à Esgana-Cão. Das rivalidades Douro e Alentejo, às mais finas batalhas do Dão e dos Açores. Sem esquecer o engenho dos Verdes e do eterno Vinho do Porto. E brindando sempre com os melhores espumantes do mundo: da Bairrada e de Távora-Varosa.
Existem as grandes marcas e as figuras históricas. E aqueles pequenos produtores de que preferimos guardar segredo – não vão os preços aumentar. Um mundo também influenciado pelas dinâmicas da sociedade: o enoturismo, os investimentos estrangeiros, a tecnologia e a escassez de mão-de-obra. E, claro, o maior escrutínio sobre a verdadeira origem dos produtos.
Como nos lembram os anúncios natalícios, precisamos de mais tempo juntos. Não deveria ser apenas no Natal que juntamos a empresa, o departamento e os amigos de escola. Menos redes sociais e mais conversas reais.
Se o Natal realmente “é quando um homem (ou mulher) quiser”, porque não desacelerar o ritmo e saborear mais ao longo de todo o ano? Como se a vida fosse um vinho e não um refrigerante. Para apreciar com tempo, saborear todas as nuances e compreender que evolui com a idade.
Se não há Dezembro sem prendas, não deveria haver Natal sem fotos de família com copos de vinho na mão. Com moderação, para mais tarde recordar.













