Opinião de Gustavo Mendes, Diretor do programa Brand Management da Porto Business School e fundador da Ichika Brand Consulting
Em outubro, Astérix e Obélix, os gauleses mais famosos do mundo, vão trocar a sua aldeia cercada de romanos pela Lusitânia, a terra ancestral de Portugal. Não é apenas mais uma aventura para os fãs dos 400 milhões de livros vendidos em 19 línguas – é uma poção mágica em potencial para o branding de Portugal. E o que será que pode acontecer quando personagens icónicas como estas decidem misturar calçada portuguesa e bacalhau na sua receita de sucesso?
Primeiro, o branding. A capa já exibe a calçada portuguesa, esse padrão geométrico que qualquer turista associa a Portugal, e o desenhista Didier Conrad garantiu que o bacalhau vai dar um toque lusitano à trama narrativa. São símbolos simples, quase clichés, mas nas mãos de Astérix & Obélix tornam-se uma montra global. Portugal ganha um palco para reforçar a sua identidade como um país de tradições únicas, artesanato histórico e uma cozinha que conquista paladares – uma narrativa (visual) que planta a semente: Portugal é charmoso, autêntico e, sim, irresistível. A questão é se o país vai aproveitar esta oportunidade para alavancar a sua imagem ou apenas deixar os clichés falarem por si próprios.
Depois, o soft power – a arte de influenciar sem forçar, como diria Joseph Nye –, e Astérix e Obélix são mestres nisso; levam história e cultura a muitos milhões de leitores, com humor e leveza. Na Lusitânia, a resistência de Viriato aos romanos ganha vida, alinhando Portugal a valores universais como coragem e orgulho. O embaixador português em França, José Augusto Duarte, já celebrou essa “aliança” com os gauleses, um aceno ao potencial diplomático da obra. É a magia do soft power: uma “história aos quadrinhos” pode fazer mais pela percepção global de Portugal do que uma centena de relatórios oficiais. E o alcance é enorme – crianças, adultos e até avós vão folhear esta aventura (idealmente todos em conjunto).
Mas quem mexe na poção é que define o resultado. Este álbum entrega a Portugal mais uma hipótese de brilhar, combinando história, humor e identidade numa fórmula que atravessa fronteiras. Não basta, porém, esperar que o mundo reconheça a calçada ou o bacalhau nas páginas desta aventura – Portugal precisa de transformar essa exposição em ação. Astérix e Obélix já provaram que uma aldeia pequena pode desafiar um império; talvez Portugal consiga usar essa mesma receita para mostrar que um país (pequeno) também pode – e deve – encantar o mundo. A poção está pronta, e cabe a Portugal usá-la para deixar a sua marca.













