Village By BOA: A Ilha que se tornou oásis no coração do Porto
Chama-se Village by BOA, tem conforto, serviço, bom-gosto e mais algumas razões que nos fazem querer voltar.
Uma antiga ilha degradada, bem no coração do Porto, o Bairro do Silva, deu lugar a um aparthotel com um serviço de um boutique hotel de cinco estrelas. As obras e investimento deram-lhe alma nova, mas o espírito como que se mantém. Aliás, quem começa a descer a Rua do Bonjardim, não percebe o que está por trás da porta n.º 541, com a fachada a manter- -se como se de mais um prédio se tratasse. Só que assim que aquela se abre, e se atravessa o lobby até ao pátio exterior, é todo um outro mundo. Nem mais que 40 apartamentos em que a traça exterior foi respeitada ao pormenor. A exterior, que no interior cada casa é diferente, entre 11 tipologias.
Mickael Passos mostra-nos algumas e partilha o gosto e pormenores de quem, por ali, quis fazer e receber diferente. Por isso é que também vai dizendo, desde o início das negociações, em 2017, que houve sempre vontade por parte dos responsáveis do BOA Hotels de comprar a ilha toda – para garantir que nada se perdia e tudo melhorava. A obra arrancou em 2019, com a abertura de portas, a acontecer a 19 de Maio do ano passado, de um projecto cujo nome – Village – honra a identidade anterior. Ah, e para quem não sabe o que é uma “ilha”, é nem mais que um conjunto de habitações tipicamente operárias agrupadas com outras em forma de bairro, no miolo de quarteirões urbanos. Acredita-se que as “ilhas” do Porto receberam a influência da arquitectura inglesa, ligando as habitações às primeiras back-to-back houses construídas a partir do final do século XVIII até ao início do século XX.
Techno, conforto, estética e serviço
O BOA Hotels assenta em quatro pilares – tecnologia, conforto, estética e serviço. Neste último, trabalha-se «numa fronteira sensível», já que não é um hotel mas também não quer ser um service apartment, antes misturando os dois mundos, o que faz dele um produto único. E o que significa que o conforto dos apartamentos se cruza com os serviços do hotel, como é o caso do pequeno-almoço que chega pela manhã a casa, num cesto e em função do pedido, ou o ginásio que está aberto 24 horas! Distribuídas por cinco edifícios, as casas têm recepção online e comunicação directa com o concierge através de uma app. A tecnologia é de facto relevante, sendo que, na app, cada hóspede pode ver e editar as suas informações de reserva, conversar com a equipa, reservar passeios ou fazer o check-in antes da chegada. A ideia é mesmo ir acrescentando mais e outros serviços, sendo que, depois da abertura de uma pequena loja gourmet, para breve está previsto um espaço de restauração logo ao lado.
Em todas as casas, é notório o alinhamento nos tons escolhidos para a decoração, as peças de cerâmica ou os pequenos domésticos da Create. Tudo culpa de Pablo Pita que, em parceria com o estúdio Heim Balp Architekten, foram os responsáveis pelo trabalho de reabilitação, com a preocupação em «comprometer o programa ao edifício e não o edifício ao programa». Não só foram fiéis à morfologia dos edifícios como fizeram com que fossem sujeitos a «soluções construtivas que sublinham a preocupação com a memória do lugar, com a preservação da madeira mantendo as vigas pintadas». Village by BOA diz-se, por isso, um lugar de memórias!
Papel relevante teve também o Bacana Studio na execução dos interiores, em jeito de recriação de uma sensação de quem entra, se sentir em casa. A totalidade do mobiliário foi desenhada e feita à medida em Portugal e a inspiração viaja até à Escandinávia e Japão, bebendo um estilo sem excessos, de linhas simples e tonalidades suaves (pastéis e tons terra). A madeira, o linho e a corda são marcantes. «O Bacana Studio idealizou todo o mobiliário, que foi inteiramente produzido à medida e fez uma curadoria de objectos, onde se destaca a colaboração com artistas locais», informa Mickael. Todas as habitações têm cozinha equipada para preparar refeições, ou não estivesse o Village num dos bairros mais históricos da cidade, a cinco minutos a pé do mercado do Bolhão.
Já no pátio exterior, que interliga os edifícios, cruzamo-nos com um conjunto de vasos com mais de 300 anos, vindos de Mafra, e uma escultura com três metros de altura, em forma de árvore, assinada pelo artista Zadok Ben-David. Ah, ainda atenção ao arranjo paisagístico exterior, que só apetece fotografar e fotografar, e que foi conseguido em colaboração com o arquitecto paisagista Hugo Carneiro, do Mudita Studio.
Texto de M.ª João Vieira Pinto