A luz de Lisboa invadiu o Matiz, mas os sabores são “à portuguesa”

Lembra-se do restaurante AdLib, na Avenida da Liberdade? Já não existe, bem sabemos. No seu lugar, integrado no Hotel Sofitel Lisboa, mas com acesso independente ao hotel (para se tornar mais apelativo para aqueles que ainda acham estranho entrar num hotel para ir a um restaurante), surgiu o Matiz Lisboa.

E, mesmo ainda antes de entrar, salta à vista que não se tratou apenas da mudança do nome. Todo o espaço está bem diferente. Aqui, agora, a luz de Lisboa sente-se em todos os detalhes. Todo o restaurante é mais luminoso com as suas amplas vidraças a dar para a mais imponente avenida de Lisboa. Lá dentro, não faltam detalhes que não permitem esquecer que é em Lisboa que estamos sendo o chão, a imitar calçada portuguesa, um dos mais marcantes. Nas paredes, em vários nichos, a cultura mediterrânica espreita através de diversas peças da portuguesíssima Vista Alegre que está presente, também, na loiça que vai chegando à mesa nos sucessivos pratos.

O serviço de sala prima pela atenção e simpatia, estando todos os profissionais disponíveis para qualquer dúvida que possa surgir ou para fazer sugestões como aconteceu quando comentámos que, sendo almoço, com uma tarde de trabalho a prometer pela frente, nos ficaríamos pelos mocktails a acompanhar a refeição.

Pensado para almoços executivos, mas disponível para quem quiser, há uma opção de dois pratos (22,5 euros) e outra de três pratos (26,5 euros), ambas incluindo couvert, água e chá/café. A combinação pode ser feita como o cliente preferir: entrada e prato, prato e sobremesa, entrada e sobremesa, no caso dos dois pratos, ou um de cada, no caso dos três pratos (mas também podem ser duas entradas e sobremesa ou outra das possíveis combinações). Foi com fé que nos lançámos na opção de três pratos.

Depois do couvert, chegaria à mesa o Gaspacho de melancia com camarão e mexilhão. O calor, lá fora, era abrasador e foi com satisfação que vimos chegar a entrada que nos ajudou a baixar a temperatura corporal. E se for daqueles que torce o nariz só de ouvir a palavra gaspacho, saiba que compreendo as suas dores, mas vá à confiança. Não se arrependerá.

Seguir-se-ia o Carpaccio de polvo. Um polvo da costa algarvia laminado, guarnecido com vinagrete de Jerez e pickles crocantes. Uma reinvenção da tão portuguesa saladinha de polvo, aqui em lâminas e bem saboroso.

Passando aos pratos principais e enquanto quem me acompanhava se deliciava com o pato cozinhado em duas texturas, eu aventurava-me no bife. Bife? – perguntarão alguns. Mas sim, o bife diz-nos sempre tanto sobre um restaurante e a qualidade dos ingredientes que se usa… E as expectativas não foram goradas. Os 200 gramas de carne vinham no ponto pedido – médio mal, sempre! – com a carne a guardar a sua suculência até ao último pedaço. A acompanhá-la, na perfeição, um soufflé de batata e legumes bem grelhados.

Contam-nos que nos pratos principais o mais pedido – até pela procura dos turistas (uma grande parte com origem no Brasil e nos EUA) – é o Bacalhau confit, com crosta de broa e alheira, espinafres, tomate seco e batata salteada. Mas também há opções para aqueles que não comem proteína animal tanto nas entradas como nos pratos principais.

Não podíamos terminar a experiência sem passar pelas sobremesas. Aqui há todo um ritual que se alimenta quando os comensais optam pela Parisienne. São convidados (e fomos) a deslocar-se à vitrina onde está exposta uma selecção de pastelaria portuguesa e francesa clássica. Aí escolhemos, com sugestão do chef Daniel Schlaipfer, quatro para partilhar e experimentar: a tarte merengada é um regalo para a vista e para o palato; o mil folhas de baunilha conquistou-me com a sua leveza e pouca doçura; o semifrio de manga transportou-me para lugares familiares com a sua cremosidade; e, la pièce de résistence do quarteto, o bolo de chocolate de São Tomé que me deixou vontade de voltar sem a overdose anterior de sobremesas para o degustar com a tranquilidade que parece merecer.

Saímos do restaurante, felizes, já depois das 15h e ainda estavam a sentar comensais. Portanto, se é dos que gosta de almoços tardios, este é sem dúvida um espaço a recordar.

Texto de Maria João Lima

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