Casa Ermelinda Freitas: Um sonho de família
Com 100 anos de existência, a história da Casa Ermelinda Freitas conta-se pelo trabalho árduo e a gestão continuada de quatro gerações de mulheres, que tomaram nas próprias mãos os destinos desta empresa familiar. É também uma história de superação, inovação, empreendedorismo e ambição, que fazem a produtora da Península de Setúbal, que já arrecadou mais de mil prémios nacionais e internacionais, a levar hoje os seus vinhos a um total de 40 mercados.
A empresa foi iniciada em 1920 por Deonilde Freitas, continuada por Germana Freitas (filha) e, mais tarde, por Ermelinda Freitas (neta). Durante quase 80 anos, sob a alçada das três primeiras gerações, dedicou-se à produção de vinho a granel. «Nesta altura, a empresa era ainda desconhecida, pois não tinha marca própria que a identificasse. Fazia a venda do vinho a granel, que já tinha qualidade, pois suscitava muita procura. Havia uma pequena parte que era vendida à porta, no garrafão, pela minha saudosa mãe [Ermelinda], que acompanhava o negócio e atendia os clientes como se fizessem parte da família. Tudo se passava num ambiente informal e familiar», recorda Leonor Freitas, sócia-gerente da Casa Ermelinda Freitas e bisneta da fundadora.
Só em meados da década de 1990, quando Leonor Freitas regressa a Fernando Pó (Palmela) para assumir os destinos da empresa familiar, após o falecimento do seu pai, Manuel João de Freitas Jr., é que se inicia a produção de marcas próprias. Um passo que viria a moldar o futuro da companhia. «À medida que me ia integrando no sector, fui percebendo as dinâmicas e necessidades do mesmo. Comecei a visitar feiras internacionais e percebi que o vinho da Casa Ermelinda Freitas não estava a ser valorizado nem prestigiado como poderia», recorda Leonor Freitas.
Fruto de um novo investimento na adega, nas vinhas e na enologia, o novo capítulo da empresa seria oficialmente estreado em 1997 com a produção do Terras do Pó tinto, o primeiro vinho produzido e engarrafado com o logótipo da Casa Ermelinda Freitas, do qual seriam produzidas apenas 7000 garrafas, sendo o restante vinho vendido a granel. Logo no ano seguinte, a produtora obtém a primeira medalha de ouro em Bordéus, «o que nos fez ter a certeza de que estávamos no caminho certo», refere.
O novo plano seria apenas o início da modernização da Casa Ermelinda Freitas. Seguir-se-iam, nos anos seguintes, a plantação de novas vinhas, que permitiu diversificar as castas produzidas, além de Castelão e Fernão Pires – incluindo castas estrangeiras, como Syrah ou Merlot, que foram fundamentais para o plano de internacionalização -, a criação de um novo centro de vinificação, a introdução de novas marcas (como Dona Ermelinda, MJ Freitas, Quinta da Mimosa, Leo d’Honor, entre outras) e o lançamento dos vinhos monovarietais. O resto é história.
Da Península de Setúbal ao Douro
Actualmente, a Casa Ermelinda Freitas conta com um portefólio abrangente, que se estende por marcas como Dom Campos, Terras do Pó, Dona Ermelinda, Quinta da Mimosa ou Leo d’Honor; por uma gama de 14 monovarietais (Syrah Reserva, Alicante Bouschet Reserva, Cabernet Sauvignon Reserva, Touriga Nacional Reserva, Trincadeira Reserva, Merlot Reserva e Pinot Noir Reserva); pela gama de espumantes; e ainda pelo CEF Moscatel de Setúbal, um produto icónico da região da Península de Setúbal, entre outras referências. É ainda responsável pela produção dos vinhos de marca própria dos parceiros da Grande Distribuição. «Temos vinhos para todas as ocasiões, todos os momentos de consumo e a uma variedade de preços que proporciona ao consumidor escolher aquele que lhe é mais adequado para cada ocasião», sublinha Leonor Freitas.
Pela sua história, a Casa Ermelinda Freitas é e será sempre uma referência incontornável dos vinhos da região vitivinícola da Península de Setúbal, com a qual tem uma relação simbiótica, ou não procurasse, desde sempre, «comprar todas as uvas que pode na região, bem como ajudar os produtores locais », garante Leonor Freitas.
Não obstante, nos últimos três anos, a Casa Ermelinda Freitas tem vindo a expandir a operação e os horizontes a outras regiões vitivinícolas nacionais, nomeadamente à região dos Vinhos Verdes e ao Douro. O processo iniciou-se com a aquisição da Quinta do Minho, na Póvoa de Lanhoso (distrito de Braga), uma herdade que nasceu em 1990 resultante da fusão de duas das mais antigas quintas da região, a Quinta do Bárrio e a Quinta da Pedreira. A casa principal remonta ao séc. XVIII e tem vindo a ser gradualmente recuperada para apoio a actividades ligadas ao turismo vitivinícola. A quinta dispõe de 40 hectares de vinha e um terroir típico do Alto Minho, onde predomina a casta Loureiro, rainha da região dos Vinhos Verdes. Fruto da parceria entre Leonor Freitas e o enólogo Jaime Quendera, já saíram da Quinta do Minho vinhos como Fugaz, Gábia, Porta Nova e Campos do Minho, todos eles com base nas castas Loureiro e Trajadura; e as referências Fugaz, Porta Nova, Gábia e Campo da Vinha (o topo de gama) na variedade 100% Loureiro.
Em 2018, a Casa Ermelinda Freitas deu outro passo no seu processo de expansão com a aquisição da Quinta de Canivães, na região do Douro Superior, concretizando assim um sonho antigo de Leonor Freitas. Esta quinta localiza-se na margem esquerda do Douro, perto de Vila Nova de Foz Côa, e é também conhecida como “Quinta do Porto Velho”, uma vez que possui um pequeno porto onde pequenas embarcações atracavam. Com a dimensão de 50 hectares, possui 20 hectares de vinha de diversas idades, composta pelas mais nobres castas tintas, e 4,5 hectares de olival. O projecto conta também com o apoio do enólogo Jaime Quendera, sendo que o primeiro vinho deverá chegar «em breve» ao mercado.
Reforçar no mercado asiático
Com uma capacidade de produção que tem vindo a «aumentar de ano para ano», a Casa Ermelinda Freitas responde por um volume de negócios superior a 30 milhões de euros. A empresa afirma-se também como uma marca embaixadora de Portugal no mundo, ou não estivesse presente já em mais de 40 mercados, com destaque para Inglaterra, EUA, Polónia e Luxemburgo. De resto, apesar da pandemia de Covid-19, ao longo do último ano a empresa tem vindo a reforçar o seu plano de internacionalização e a angariar novos clientes em mercados «onde o consumo de vinhos mais cresce», como é o caso do mercado asiático. «Estamos a abrir novos compradores no Japão, Coreia e China », revela a sócia-gerente da Casa Ermelinda Freitas.
De olhos postos no futuro, a produtora de vinhos pretende «continuar com a mesma dinâmica e perspectiva de trabalho que sempre tem tido aos longo das gerações», bem como desenvolver ainda mais o enoturismo, para que os seus consumidores possam conhecer melhor a região da Península de Setúbal e a Casa Ermelinda Freitas.
A empresa tem vindo a preparar a sucessão ao nível da gestão, sendo que os filhos de Leonor Freitas, João e Joana (5.ª geração), já estão envolvidos diariamente no negócio familiar. «Será novamente uma mulher a assegurar a gestão da Casa Ermelinda Freitas, que conta com o apoio do seu irmão», revela Leonor Freitas, referindo que, mais do que uma questão de ADN, esta liderança no feminino deve-se ao «exemplo» que tem sido passado em testemunho pelas mulheres da Casa Ermelinda Freitas.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Empresas 100% Portuguesas”, publicado na edição de Abril (n.º 297) da Marketeer.