Um Turismo sem caldos de galinha?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
O que é um destino? O que nos faz querer ir a uma região, sonhar com uma cidade, colocar na wish list uma praia ou serra?
Portugal tornou-se um destino. Corrijo, já o era. Mas tornou-se um a querer visitar. Dos que estão nos passaportes de intenções de turistas de todo o mundo. Passou a estar no radar, na vontade, na procura, traduzido num crescimento de voos, pessoas, culturas. O Turismo tornou-se o aluno bem-comportado da aula. No final de Agosto, estimativas do INE apontavam para mais 1,5% de hóspedes, 2,1% de dormidas face a 2023. Até aqui tudo bem. E, acreditem, sou dos que gosta de ver este País com procura – se bem que, confesso, em alguns sítios já incomoda. Mas, isso, não é culpa deles, de quem chega e nos quer. É culpa nossa.
O que já não consigo aplaudir é quando se apresenta restaurantes “para turistas” ou quando se abre hotéis com preços médios a que o português não chega – que os nossos ordenados estão longe dos da Europa, Médio Oriente ou EUA. Muito menos aplaudo quando se atropela o que de bem fazemos – desculpem, mas o pastel de bacalhau nunca na vida teve queijo – e nos vendemos. Isso, vendemos sem aprender com os erros. Nesta edição, a Marketeer andou por terras da Comporta. Volto a corrigir. Por terras entre Tróia e Melides, que agora é mais fácil comunicar como Comporta. Aquela que era uma vila entre os arrozais e um areal imenso tornou-se destino. E destino de luxo. Os faróis do investimento imobiliário há anos que para ali estão virados. Estrelas de Hollywood, cantores do mundo, referências do desporto, passeiam-se pela região e compram. Compram muito. E está tudo bem, volto a dizer.
Promotores e gestores garantem que naquelas terras jamais nascerá um “novo Algarve”. Mas, como se dizia antigamente, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Por isso, não o estraguem, ao caldo, ou ainda cairemos num caldeirão cuja mistura ninguém vai querer repetir.
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 338 de Setembro de 2024