TIP Talk: «Quem lidera comanda, não manda»
Um líder é alguém capaz de tomar decisões, ainda que as mesmas não sejam as melhores ou as mais acertadas. É alguém humilde, que diz que errou e que corrige a situação rapidamente. Um líder é também quem comanda e não manda. Estas são algumas das conclusões da TIP Talk sobre Leadership, realizada ontem, no Jardim de Inverno do Edifício da Fidelidade, no Chiado, com Alexandre Soares dos Santos, fundador do Grupo Jerónimo Martins, e António Simões, antigo capitão do SLB, no papel de oradores.
A Liderança na Gestão para o Sucesso foi o tema proposto a dois convidados com caminhos muito diferentes mas, curiosamente, com visões muito semelhantes. Por meio de analogias futebolísticas, ambos reiteraram que o que faz um líder é a sua capacidade de decidir, nomeadamente nos momentos de maior hesitação até porque, como referiu António Simões, «vale a pena tomar decisões», já que «pior do que não tomar uma decisão acertada é não tomar nenhuma». Alexandre Soares dos Santos aproveita para acrescentar que um líder é um homem que é capaz de motivar as pessoas, de garantir que tenham criatividade e que se queiram levantar da cama de manhã. «É não ficar quieto» e é garantir que o outro olha para cima e vê alguém que está consigo.
Como são aplicadas estas noções em Portugal? O fundador do Grupo Jerónimo Martins afirma que os portugueses têm dificuldade em trabalhar em equipa. Mas apenas em Portugal, uma vez que se os mesmos portugueses forem para fora, já serão capazes de colaborar em conjunto, na perspectiva de Alexandre Soares dos Santos. António Simões vai mais longe e equipara uma equipa a uma família, referindo-se aos tempos em que era capitão do SLB. O antigo jogador garante que o futebol ensinou-lhe que ser líder implica servir uma equipa e que, para isso, é preciso afecto e exigência em doses iguais. É necessário reconhecer o bom trabalho dos membros da equipa perante os outros mas exigir-lhes o suficiente para esse bom trabalho surgir.
É chegada a questão da cultura, seja ela empresarial ou desportiva. Alexandre Soares dos Santos destaca a pontualidade exigida no Grupo Jerónimo Martins, depois de uma intervenção da audiência da TIP Talk ter lembrado a dificuldade dos portugueses em chegar a horas. O fundador do Grupo Jerónimo Martins parte do seu caso concreto para generalizar: «Não temos o sentido de urgência, de cumprir.» Outro problema na cultura empresarial é que «em Portugal, são nomeadas pessoas para as administrações que não têm nada a ver com as empresas», algo que não faz sentido para o empresário porque, desse modo, não conhecem a cultura da empresa. Por seu turno, António Simões destaca o facto de ser necessário ter brio e vestir a camisola, lembrando que futebol e negócio não são incompatíveis, mas é precisa qualidade e credibilidade, dando o exemplo dos Estados Unidos da América.
Futuro da Jerónimo Martins
Perante um cenário de desafios e de utopias, Alexandre Soares dos Santos desvendou ainda qual o seu desejo para o grupo para os próximos 10 anos. Inspirado pelas figuras de liderança do avô e do pai, deseja ver a Jerónimo Martins no outro lado do Atlântico, mas desta vez não é o Brasil o destino. Os Estados Unidos da América cumpririam a vontade do fundador do grupo.
Texto de Filipa Almeida