Pequeno-almoço debate

Cerca de 80% das pesquisas na internet sobre Portugal versam sobre turismo. Tal não muda a situação de  sazonalidade que atinge grande parte do território. O que pode ser feito quanto a esta questão? Ajudaria ter um Ministério do Turismo? Estes temas serviram de base à discussão de ideias no decurso do último pequeno-almoço debate da revista Marketeer.

Que o turismo precisa de adquirir um peso maior na agenda política nacional ninguém tem dúvidas, e que é importante definir uma estratégia que distancie as decisões do sector das oscilações normais da vida e dos ciclos políticos também. A questão, cada vez mais premente, está intimamente relacionada com a resolução de problemas estruturais, como a sazonalidade, que têm vindo a acentuar-se com a ocorrência de novas situações, como o aparecimento de destinos concorrentes e alterações climáticas. Com que medidas governamentais se pode alterar esta situação, qual o papel da sociedade civil e dos intervenientes no sector e até que ponto seria benéfico ou mesmo crucial a existência de um Ministério do Turismo foram as questões que serviram de base a mais um pequeno- -almoço promovido pela Marketeer com um grupo de profissionais de topo, responsáveis pela estratégia, marketing e comunicação de empresas que actuam em diferentes áreas relacionadas com o turismo. Neste pequeno- -almoço, que teve lugar no Hotel Dom Pedro Palace, em Lisboa, estiveram presentes: Pedro Ribeiro (director de Marketing e Comercial do Grupo Dom Pedro Hotels), Nuno Ferreira Pires (administrador do Grupo Pestana), Eduardo Cabrita (director-geral da MSC Cruzeiros em Portugal), Rogério Cardoso (director de Marketing da ES Viagens) e Frederico Costa (presidente da Visabeira Turismo).

Com a finalidade de se alcançar um debate mais aprofundado por parte de todos, foi decidido que nenhuma das intervenções seria atribuída directamente no texto.

Como acabar com a sazonalidade no turismo

É uma evidência que hoje Portugal está na moda. Se esta é uma tendência para se manter ou acentuar não se sabe, mas que hoje Portugal aparece referido nas melhores publicações internacionais do sector do turismo como um destino que é quase obrigatório conhecer é uma realidade. A verdade é que tendo o índice de ocupação mantido níveis elevados durante o período de Verão, nos restantes meses do ano esses índices tendem a descer, deixando muitas zonas do país praticamente desertas de turistas. O que fazer para alterar esta situação é a questão que se coloca. Continuamos a promover sol e praia, mas já não chega. É necessário dar visibilidade a outros aspectos que atenuem a sazonalidade para que possamos ser visitados por turistas durante os 12 meses do ano. Como o conseguir foi um dos temas debatidos, chegando os intervenientes à primeira conclusão de que esta é uma situação que deve preocupar todos e que deve ser colocada como prioritária na agenda dos players que actuam no sector do turismo.

O facto de Portugal estar em voga é algo que nos deve deixar orgulhosos, mas é, sobretudo, Lisboa que está na moda, situação que se revela cíclica, sendo relembrado que «desde 2004 já vivemos três ou quatro picos de estar na moda». Bem aproveitados, estes picos são benéficos, não só para o turismo de lazer mas também para o turismo corporate e de congressos, pois «o nome Lisboa e por associação, Portugal, começa a ficar no radar das pessoas», algo que falta ao País, tal como concluído no pequeno-almoço debate anterior. A questão da sazonalidade ultrapassa largamente estes picos, sendo algo que deve, obrigatoriamente, estar na linha da frente da agenda política relativamente às estratégias e prioridades. Foi referido que «o Verão é uma questão de preço, enquanto o Inverno é uma questão de captação», com a consequente chamada de atenção para a necessidade de se proceder à distinção das diferentes realidades presentes no País. «Uma coisa são as cidades que vivem muito das “short breaks” e do turismo de negócios e, como tal, não são tão afectadas pela questão da sazonalidade», foi referido, «outra, completamente diferente, diz respeito às zonas de lazer, de resort, nomeadamente o Algarve e a Madeira». Representando estas mais de 50% da nossa oferta é premente uma solução, que não se revela fácil. Uma das evidências referidas, e com a qual todos concordaram, é a dificuldade que existe no combate à sazonalidade, «há mil coisas que se podem fazer mas a realidade é que, se olharmos à nossa volta, este é um problema que não se coloca só ao nosso País», sendo referido, como exemplo, a Espanha, cujo turismo de resort fecha no Inverno, solução rejeitada por todos como viável para Portugal. Mas, a verdade é que uma das opiniões ouvidas foi a de que se a situação continuar assim daqui a cinco anos 75% do Algarve vai fechar durante o Inverno, o que, revelando «uma optimização de custos por parte das unidades hoteleiras», vai levar a que a curto- -médio prazo o próprio destino feche.

O próprio clima contribui para esta situação, pois «se antigamente o Verão eram quatro meses durante os quais se facturava e bem, agora são dois, Agosto e Setembro», o que se vem a revelar insustentável para manter uma curva de rentabilidade positiva. As soluções «não dependem só da nossa capacidade em criar produto e ser competitivos em termos de oferta», pois «se tivermos em conta a democratização da aviação, por um lado, e o surgimento de novos destinos, por outro, rapidamente se percebe que não há soluções fáceis». A tudo isto acresce o facto de a um Inverno mais competitivo por parte de outros destinos, se aliar o Inverno do esqui, o qual se tem vindo a prolongar, situação que «leva a que existam operadores a ganhar mais dinheiro no Inverno do esqui do que no Inverno do Algarve, e sem risco», realidade que todos concordaram como extremamente relevante. A própria sociedade influencia esta situação, pois, cada vez mais, as famílias gozam dois períodos de férias, «praia no Verão e neve no Inverno ». Foi ponto assente entre todos que é necessário (re)inventar algo de diferente, «o que pode levar muito tempo a concretizar».

Com vista a minimizar as consequências, foi defendida uma maior atenção ao turismo interno, pois «não são os novos mercados que vão trazer quantidade suficiente de turistas para diminuir a sazonalidade». Depois, todos concordaram em como «é preciso encarar o País não como um todo, mas verificar região a região quais as que têm potencial para receber turismo de Inverno». Um dos intervenientes levantou ainda a questão, pertinente, de «encararmos esta questão integrando Portugal numa espécie de “task force” ibérica ou mesmo europeia», o que não congregou muito apoio, pois foi relembrado que tal já «foi tentado e os resultados foram poucos». Uma das possíveis soluções no combate à sazonalidade poderá passar pelo alargar das estações, ou seja, «é mais fácil alargar as estações nos meses de Abril, Maio e Junho e Outubro e Novembro do que tentar vender os três meses de Inverno». Foi dado como exemplo a ilha da Madeira, onde «apesar de há uns cinco anos a esta parte se começar a sentir uma certa sazonalidade, com picos de ocupação», ainda assim mantém uma curva de ocupação estável durante praticamente todo o ano. Motivos? Além do clima, a realização de eventos que cativam visitantes, nacionais e estrangeiros. Realização de eventos que faz falta, por exemplo, ao Algarve, onde importantes cadeias hoteleiras nacionais os conseguem realizar, mas que, para servirem toda a região, «precisam de mais apoios, de âncoras que os façam crescer para além do universo dos hóspedes». Por outro lado, falou-se que é importante «saber o que é que os clientes querem», ou seja, o que é os turistas procuram encontrar em Portugal no Inverno, o que é que os atrai. Foi aceite por todos que é preciso levar a bom termo uma «engenharia de produto»: detectar o que os turistas querem e depois, região a região, em conjunto com autarquias e demais intervenientes, delinear o produto que vai cativar maior número de visitantes.

Uma das conclusões foi a necessidade de que debates como este e fóruns de discussão tenham maior amplitude e cheguem junto, nomeadamente, do Turismo de Portugal, com ideias e sugestões para que num trabalho conjunto estes problemas possam ser solucionados, pois «uma promoção tem de estar alinhada com a venda para que ambas sejam eficazes», ou seja, a defesa de uma estratégia é fundamental.

Artigo publicado na edição n.º 217 de Agosto de 2014.

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