O vinho português que virou case study
A história da Vidigal Wines começa onde acaba a Quinta do Cónego, em Leiria. A origem do vinho remonta ao ano de 1967, data que marca a compra da propriedade por uma empresa familiar que haveria de instalar aí a primeira zona de adega. Seguir-se-iam vários donos até António Mendes Lopes ter concretizado a compra do projecto em 1994. Isto, já depois de ter iniciado a importação de vinhos na Dinamarca, onde residiu durante vários anos. Em 2001, António Mendes Lopes regressa definitivamente a Portugal e não demora a avançar com a implementação de uma série de melhorias tecnológicas além de ter investido na produção. Em paralelo, acaba também por levar mais accionistas noruegueses para o projecto Vidigal Wines.
Desde essa data, há muitos momentos marcantes na vida da empresa, sendo um dos mais relevantes o lançamento da marca Porta 6 Vinho Regional Lisboa, em 2013.
Apresentada ao mercado durante a crise, destacava-se pela sua proposta de valor e pela rotulagem, da autoria do artista plástico alemão Hauke Vagt, que retrata numa garrafa a imagem da zona histórica de Lisboa, inspirado na linha 28 com um eléctrico amarelo que se tornou num ícone de Lisboa. O Porta 6 acabaria, de resto, por ser anunciado em 2015 na BBC no programa “Saturday Kitchen” pelo Master of Wine e classificado pelo apresentador James Martim como um dos melhores vinhos tintos provados nos últimos 10 anos.
Mas o primeiro marco decisivo para os vinhos da Vidigal Wines foi o Vidigal Reserva tinto Regional Lisboa. Isto porque, ao ser o mais vendido na Noruega durante cinco anos consecutivos, abriria a porta para os vinhos portugueses na Escandinávia.
Aliás, durante muitos anos, a marca posicionou-se com a oferta do melhor vinho ao mais baixo preço possível. Hoje, está a reposicionar-se de forma a fazer face à nova estratégia da empresa.
Como a Vidigal Wines tem forte presença nos mercados externos, preocupa-se em responder às solicitações do mercado e tem em linha de conta a diversificação dos mesmos, entendeu que faria mais sentido que cada marca tivesse o seu posicionamento bem diferenciado e definido.
E é vasto, hoje, o portefólio de marcas, muitas delas endereçadas a mercados específicos. Uma realidade com a qual tem trabalhado e que lhe tem permitido manter o crescimento. «Mas, quando falamos de portefólio reunimos um conjunto de 15 marcas. Trabalhamos vários posicionamentos porque queremos satisfazer diferentes ocasiões de consumo. Proporcionar vinhos certificados a um preço justo, que possam ser uma opção para o consumo diário, como é o caso do Júlia Florista e do Reserva dos Amigos. Ou vinhos que por si só se encaixam bem para beber um copo ao final do dia para descontrair, ou para um evento com amigos, onde se destaca o Porta 6, Vidigal, Boa Noite Lisboa. Por outro lado, também criamos marcas que dão vida a vinhos com personalidade que se revelem uma experiência no seu consumo, como seja, Casa do Cónego, Coragem, 3 Autores.»
Além destes, e quando se olha para um segmento mais premium, a empresa apresenta as marcas Brutalis, Boca de Veludo e Zavial, no fundo, os seus vinhos ícone, de edição muito limitada e que lhes permitem marcar momentos de consumo únicos.
Maior valor e menos volume
Com um volume de facturação actual muito próximo dos 10 milhões de euros, a Vidigal Wines tem vindo a crescer a um ritmo acelerado nos últimos anos. De forma a fazer face a esse crescimento, estão a ser feitos investimentos com o objectivo de alargar a capacidade produtiva, nomeadamente com a aquisição de novas linhas de engarrafamento. «Na Vidigal Wines damos especial atenção ao consumidor, às tendências de mercado. Aqui trabalhamos o mercado desde o primeiro momento até chegar ao produto acabado. Por outro lado, a equipa das Encostas do Atlântico dedica-se ao trabalho das vinhas para a frente, para o vinho acabado. Um trabalho de parceria e confiança entre ambas as partes, de forma a proporcionarmos o melhor produto ao mercado.» Nesse sentido, na Vidigal Wines investiu-se em mais uma linha de engarrafamento e numa maior capacidade de stockagem. Por sua vez, nas Encostas do Atlântico houve a orientação para a sobrecapacidade: «“Sobre” porque precisamos de trabalhar a vindima com tempo e capacidade que chegue para não apressar o que não deve ser apressado. Sobrecapacidade significa melhor qualidade.»
De lembrar que, ao nível da produção, a Vidigal Wines tem parcerias nas regiões de Lisboa, Tejo, Douro, Dão e Vinho Verde, em resultado da entrada nos mercados externos, e conquista de novos clientes. «Procurámos parceiros nas regiões onde não temos produção própria, de forma a complementar portefólio com novas referências e marcas. Hoje, as regiões em que claramente nos focamos é a região de Lisboa, onde controlamos a produção, nomeadamente com o parceiro das Encostas do Atlântico, onde a Vidigal Wines participa em 40%», informam. O Douro é a outra região importante, pois a Vidigal Wines é uma das poucas empresas com licença para engarrafar vinhos fora da região, sublinham.
Determinante, neste processo, é garantir a coerência na identidade dos vinhos assim como o controlo de qualidade dos mesmos. «São as próprias especificidades de cada parcela de vinha que nos permitem manter a identidade de cada marca. O controlo de qualidade e os processos de certificação permitem-nos adoptar mecanismos que nos garantam manter a coerência e a qualidade. Estamos dotados de um sistema de Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar adequado, rigoroso e actual, que está em alinhamento com os requisitos da ISO 9001:2015, da ISO 22000:2005, e da IFS dentro do qual se definem as organizações, os sistemas, os processos e os recursos que nos permitem cumprir com todos os compromissos», realçam.
Sempre a inovar
Na Vidigal Wines é ponto de honra lançar produtos novos numa luta de “Darwinismo interventivo”, pois, como dizem os responsáveis da empresa, a experiência ensinou que o sucesso pode bem acontecer sem ser planeado. «Introduzimos o Zavial 100% Syrah, (um D.O.C. Óbidos) que acabou de conquistar o título do Melhor vinho tinto da Região de Lisboa no concurso de vinhos dos melhores da região; introduzimos o “Boa Noite Lisboa”, Vinho regional Lisboa, num espírito boémio como uma sofisticação do vinho regional Porta 6, um tinto com as castas Syrah e Touriga Nacional e um branco com as castas Arinto e Chardonnay que, logo de início, arrancaram com uma medalha de ouro, cada um. Criámos também a marca “Sentada” que deu vida a um vinho de preço competitivo, onde convidámos para o rótulo duas figuras históricas de peso K. Marx – S. Freud, e que se destina praticamente todo ao Reino Unido. Também lançámos um vinho Regional Algarve de qualidade e sem grandes expectativas de quantidades, mas que está a surpreender na região. Um vinho com a assinatura “Yes, Please. Oui, Merci ”.»
Para o próximo ano, o objectivo passa pela apresentação de cerca de três ou quatro novidades na região de vinhos de Lisboa: o Zavial Pinot Noir, para fazer companhia ao Syrah, o Boca de Veludo branco, para fazer companhia ao tinto já à venda. «Um vinho surpreendente com um conceito inovador, resultante de um método de produção distinto. Feito de uvas penduradas/desidratadas, que teve ainda dois anos de estágio em barrica. Por fim, a recentemente marca registada, Terras de Lúcifer.»
Exportação e comunicação
A Vidigal Wines exporta mais de 90% do volume de produção para 40 mercados, mais ou menos activos, sendo que os cinco maiores são responsáveis pela grande fatia: Reino Unido, EUA, Canadá, Brasil, Irlanda e Escandinávia. Segundo a empresa, a curto prazo não há intenção de tentar a entrada em novos. «A estratégia passa pela consolidação dos mercados onde já estamos. No curto, médio prazo, o mercado português vai ser uma das grandes apostas», declaram.
Para já, o que ainda é residual é a venda no canal online. De resto, e de forma directa, não é estratégia da Vidigal Wines trabalhar o e-commerce, acontecendo este apenas através de parceiros. «Por enquanto esta será a nossa aposta. Apoiar quem tem este canal de venda e que selecciona os nossos vinhos para desenvolver o seu negócio. No entanto, no futuro poderemos recorrer directamente a alguns marketplaces que nos permitam chegar a novos consumidores», confirmam.
Na comunicação, o apoio ao desporto tem sido uma das estratégias, em particular da marca Porta 6, com parcerias com atletas como Rodrigo D’Avila (skateboard) ou Ivo Cação (surf), entre outros. «É uma forma de chegar a um público descontraído e que gosta de experiências. O Porta 6 é ele também um vinho posicionado para experiências. É nossa intenção continuar neste segmento, mas também usamos outros meios e suportes de comunicação», reflectem.