Metaverso… ou será que falamos de metaprosa?
Por Fernando Batista, formador da FLAG e fundador e director executivo da Do It On
Sim, este título é uma provocação ao uso abusivo do jargão “metaverso” nos últimos tempos por parte de todo o sector tecnológico e de marketing. O que temos assistido nos últimos tempos é muita prosa e muito pouca realidade (seja ela qual for)!
O metaverso não é nada de novo, já existe há quase duas décadas. A procura de adopção de novos formatos e criação de novas experiências com recurso ao digital é que está a fazer recuperar um conceito tecnológico que, por uns tempos, parecia ter caído no esquecimento por parte dos comuns mortais. O que se está a passar actualmente com o metaverso faz-me sempre recordar o reactivar da adopção da tecnologia RFID no marketing, como se fosse a última grande invenção do século, porém era uma tecnologia que vinha já do milénio passado.
O quinhão de startups que foram criadas à volta do metaverso já fazem parte de uma lista infindável. Contudo, algo de atractivo sucedeu entretanto: uma pandemia que nos levou a entrar definitivamente numa nova era histórica, a era digital.
A necessidade de criar experiências e mundos digitais que possam recriar a realidade, ou criar um novo metaconceito de construção, onírica ou não, de mundos onde as comunidades se podem encontrar e partilhar valores, ideias e convivências, tornou-se essencial para as marcas. Porém, esta necessidade ainda acarreta custos elevados e que nem todos podem alcançar, mas na sua democratização o metaverso irá permitir a possibilidade a qualquer marca de criar novos canais de comunicação, de venda, de interacção meramente virtuais, ou apostar numa realidade híbrida onde humanos e avatares humanoides irão estabelecer uma nova ordem comunicacional e transaccional.
Mas o metaverso vai muito para além da tecnologia e da criação de plataformas online onde as pessoas podem entrar e experienciar uma nova forma de vida. Hoje mesmo, esta realidade virtual tem contornos bem mais simples e que nem nos apercebermos. Ora vejamos a tendência numa área como o marketing de influência e com a aparição e sucesso de avatares digitais que já começam a ter comunidades de seguidores iguais e até mesmo superiores a muitos dos criadores de conteúdos digitais. É o virtual a ganhar o espaço do real, é o metaverso a criar novas linhas de interacção onde as pessoas querem perceber e sentir o que um avatar sente, esquecendo-se que o algoritmo de Inteligência Artificial está desenhado para agradar a todos.
Mas quem tenha lido este texto até aqui deverá estar a pensar que tenho uma visão que o Armagedão vem com o metaverso. Nada mais errado. Procuro é ver primeiro uma parte mais catastrófica para não me deixar embalar pelo doce cantar das sereias que proclamam que agora o metaverso é que é! Que vamos trabalhar as marcas no phygital e que este se baseará totalmente no metaverso. Não creio que tenham razão, mas também acredito que por detrás dessa postura romanceada, existe uma pitada de verdade.
As marcas cada vez mais estão a apostar na criação de um universo digital com activos próprios, sejam eles mundos próprios, sejam eles NFTs, mas que no final das contas procuram alcançar o objectivo que todos buscamos, que é de relacionar-se com os seus públicos onde quer que eles se encontrem.