Joaquim Cunha (Health Cluster Portugal): «A aposta na prevenção é o verdadeiro ponto de viragem na Saúde»

SaúdeEntrevista
Daniel Almeida
21/10/2025
14:26
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21/10/2025
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É já na próxima semana, entre os dias 28 e 29, que decorrerá a segunda edição da Innovating Health Together Conference (IHT Conference), no Centro de Congressos da Super Bock Arena, no Porto. “Tech-enabled Prevention for a Better Future” é o mote do evento, organizado pelo Health Cluster Portugal, sob a marca Health Portugal.

Ao longo dos dois dias, especialistas nacionais e internacionais, decisores, inovadores e profissionais de saúde vão juntar-se para debater os caminhos da prevenção promovida pela tecnologia e o futuro sustentável dos sistemas de saúde. De acordo com a organização, são esperados mais de 600 participantes de diversas nacionalidades, entre os quais oradores e especialistas internacionais de renome.

Em entrevista à Marketeer, Joaquim Cunha, director Executivo do Health Cluster Portugal, aborda algumas das principais novidades desta segunda edição da IHT Conference e aborda a importância deste evento para o futuro e sustentabilidade do sistema de Saúde e para posicionar Portugal na vanguarda tecnológica do sector.

Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal

A edição deste ano da Innovating Health Together Conference (IHT Conference) tem como mote a prevenção da doença potenciada pela tecnologia. Porquê a escolha deste tema? E de que tipo de discussões e insights estão à espera?

A aposta na prevenção é o verdadeiro ponto de viragem na sustentabilidade dos sistemas de saúde. Num contexto em que o aumento da esperança média de vida e o peso das doenças crónicas pressionam os recursos – materiais e humanos – é fundamental mudar o foco da resposta à doença para a promoção da saúde. A tecnologia assume um papel decisivo nesse processo ao permitir antecipar riscos, personalizar intervenções e envolver o cidadão na gestão da sua própria saúde.

Esperamos, por isso, debates muito ricos sobre como dados, inteligência artificial, plataformas digitais e novas abordagens clínicas podem permitir um sistema mais preditivo, participativo e sustentável.

Quais as principais novidades desta segunda edição em relação à edição do ano passado?

Esta segunda edição da IHT Conference marca uma clara evolução. Em 2024, lançámos as bases da iniciativa, com foco na importância da colaboração e da inovação. Para este ano desenhámos um programa muito orientado para a acção. Além dos debates, destacaria o HealthTech Showroom, um espaço onde os produtos e serviços desenvolvidos no âmbito da Agenda Mobilizadora (PRR) “Health from Portugal” estarão integrados em ambientes simulados e onde startups poderão apresentar as suas tecnologias e interagir com representantes da indústria, key opinion leaders e profissionais de saúde; o “Brokerage Event”, nomeadamente os Thematic Group Meetings onde irão ser debatidos, em pequenos grupos de discussão com experts, temas como a adopção de tecnologia, o financiamento e a expansão para novos mercados; e o “Hospital Innovation Challenge”, a iniciativa lançada a startups para resolver desafios reais de cinco hospitais europeus.

Teremos, por isso, uma maior diversidade de participantes, desde startups e centros de investigação até decisores, e uma forte presença internacional, o que demonstra o interesse por Portugal e a contínua ambição do Health Cluster Portugal, através da marca Health Portugal, de posicionar o País como referência em inovação em saúde.

Que perfis de especialistas e líderes estarão presentes?

Teremos um conjunto muito sólido de oradores nacionais e internacionais, que representam a diversidade do ecossistema da saúde. Estarão presentes líderes de instituições de saúde, responsáveis de políticas públicas, profissionais de saúde, especialistas em inteligência artificial e análise de dados, startups, entre outros.

O programa é muito completo, com destaque para sessões dedicadas ao potencial da IA na medicina preventiva, à integração de dados clínicos e genómicos para diagnóstico precoce. Visionários e pensadores estratégicos internacionais, líderes de instituições de saúde e gestores públicos, que trazem a perspectiva de quem gere serviços de saúde ou do regulador, e especialistas técnicos e de interoperabilidade, padrões e dados.

A que públicos se destina este evento?

A IHT Conference é, sobretudo, um espaço de encontro e partilha e um ponto de convergência entre ciência, tecnologia e sociedade. Destina-se a profissionais e líderes do sector da saúde, investigadores e empreendedores, decisores e empresas tecnológicas que desenvolvem soluções com impacto na saúde.

Os profissionais podem conhecer novas ferramentas e práticas; as empresas identificar oportunidades de colaboração e investimento; os investigadores encontram parceiros para transferência de conhecimento; e os decisores recolhem perspectivas que ajudam a desenhar políticas mais informadas.

Que tecnologias vão ter mais impacto no futuro e na sustentabilidade dos sistemas de saúde?

O impacto mais transformador virá da integração inteligente de várias soluções tecnológicas. A inteligência artificial, pela capacidade de processar grandes volumes de dados e apoiar a decisão clínica, será determinante. O mesmo se aplica à saúde digital, com plataformas de acompanhamento remoto e ferramentas de autogestão do bem-estar. O verdadeiro salto de sustentabilidade acontecerá quando estas tecnologias trabalharem de forma coordenada, orientadas por políticas de valor em saúde e por um ecossistema colaborativo.

Qual o grau de adopção e inovação tecnológica das empresas portuguesas da Saúde? E como compara com o resto da Europa e do mundo?

Portugal tem demonstrado uma evolução muito positiva, com as empresas a revelarem uma capacidade crescente de desenvolver soluções tecnológicas competitivas, muitas vezes em parceria com centros de investigação e hospitais. Temos casos de sucesso em digital health, dispositivos médicos, biotecnologia e inteligência artificial reconhecidos internacionalmente.

Contudo, ainda há caminho a percorrer, sobretudo na escala e internacionalização das soluções e na integração efectiva das tecnologias no sistema de saúde. Em comparação com a Europa, diria que estamos num patamar intermédio, temos o potencial, mas precisamos de acelerar a adopção em contexto clínico. É nesta criação de pontes, remoção de barreiras e reforço da cooperação entre todos os actores que o Health Cluster procura actuar.

Que impacto esperam que esta conferência tenha no desenvolvimento do sistema nacional de saúde?

Procuramos que a conferência funcione como um catalisador de mudança e seja um ponto de encontro entre os vários agentes da saúde. Queremos também posicionar Portugal como um player activo nas discussões de futuro. O impacto mais relevante será a criação de consenso e alinhamento em torno do objectivo comum de tornar o sistema de saúde mais preventivo, tecnológico e sustentável. Esperamos que daqui resultem novas parcerias, projectos colaborativos e políticas públicas mais integradas, assentes em evidência e inovação.

Texto de Daniel Almeida

*O jornalista escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico




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