Holmes: “Fake it until you make it” é possível desde que o poder não suba à cabeça
Por Sílvia Correia UpPartner PR & Influencer Marketing manager
Todos dizem que para conseguirmos algo temos de ser os primeiros a acreditar. Certo. Fala-se muito da lei da atracção, que pensar positivo traz-nos coisas positivas. Por isso, adoptar o “Fake it until you make it” é 100% válido.
Foi isso que Elizabeth Holmes fez. A mais jovem empreendedora milionária acreditava (e nos dias de hoje ainda acredita) no que dizia aos investidores, que a sua tecnologia de análises portáteis resultaria e que iria facilitar o sistema de saúde e ajudar os americanos. Isto aliado ao Obamacare tinha o timing perfeito.
É fascinante perceber a persuasão de Holmes, que aliada aos olhos esbugalhados e à voz grossa, cativou investidores e até Joe Biden andou pela fábrica da Theranos na altura em que era vice-presidente. É aqui que considero “Fake it until you make it” a chave do sucesso e não há dúvidas de que ela foi bem-sucedida na reputação que deu à empresa Theranos e à sua marca pessoal, sendo inclusive apontada como o novo Steve Jobs no feminino. O mérito é dela graças ao carisma inegável, mas que pouco a pouco foi roçando, e muito, a manipulação.
Estamos, portanto, entendidos sobre como funciona o mundo dos investidores, dos políticos e do lobby para ganhar nome no mercado e, claro, dinheiro. O twist desta história é o momento em que temos mesmo de ter o “make it”. Gastar milhões de dólares de investidores em investigação e melhorias – OK. Gastar milhões de dólares que não são nossos e dizer ao mercado que fazemos isto ou aquilo quando não acontece – NOT OK. Saber as falhas na nossa tecnologia e continuar em modo “Fake it” – NOT OK. E é aqui que começa a fraude.
E agora passando para o lado de quem faz a comunicação deste tipo de pessoas. Enquanto consultora de comunicação, provavelmente seria manipulada por uma Holmes da vida. Acredito que ela iria facilmente cativar-me (como não? Até Rupert Murdock ficou rendido!) Por outro lado, o meu trabalho diário envolve proximidade com o cliente, mas raramente implica estar inserida no seu ambiente, portanto não teria como confirmar a sua verdade. Iria de certeza construir a melhor estratégia consoante o que me contava, talvez percebesse até que o conteúdo partilhado era vago – como a Forbes a certo ponto percebeu -, mas alegar que a tecnologia é segredo e que não quer partilhar certas informações com o mercado e com a concorrência seriam justificações legítimas a meu ver. Não iria suspeitar e entraria assim na lista dos enganados.
Holmes passou de valer milhões para zero pelas suas mentiras e, neste caso, nenhum consultor de RP podia salvar a sua reputação. Mas, atenção, refiro-me à reputação junto de investidores, que foi fortemente abalada pela sua falta de credibilidade e que impossibilita angariar mais dinheiro. Porque sobre a sua notoriedade não há dúvidas de que ainda a tem. Pois a verdade é que todos continuamos a falar de Elizabeth, que continuará a ser notícia pela startup de sucesso e pelo que conquistou em tão pouco tempo em Silicon Valley. A sua história continuará a ser contada, especialmente depois de 26 de Setembro de 2022, o dia da revelação da sua sentença e o momento em que todos saberemos se é possível sair impune com esta fraude ou se a sua persuasão também chegou ao tribunal.