Ferrero Rocher e o ‘tomar algo’: O erro que se enraizou em Portugal e que consumidores recusaram correção

São pequenos, dourados e presença habitual – e quase indispensável – na casa dos portugueses por altura do Natal. Os Ferrero Rocher tornaram-se quase tradição, seja comprados para enfeitar as mesas para depois serem saboreados, seja por seremm oferecidos como prenda de Natal, a verdade é que estes bombons tornaram-se símbolo desta altura do ano.

Mesmo estando disponíveis em quase 150 países, Portugal destaca-se por ser o mercado onde estes bombons dominam, segundo Franco Martino, diretor de comunicação do Grupo Ferrero. “O consumo per capita de Ferrero Rocher em Portugal é o mais elevado do mundo”, revelou em entrevista dada ao Observador.

Introduzidos no mercado português no início dos anos 1990, os Ferrero Rocher conquistaram imediatamente os consumidores. Além do apelo visual e do sabor, a ligação emocional também desempenha um papel importante. Quem não se recorda do icónico anúncio do mordomo Ambrósio e da elegante Senhora, em exibição desde 1995? Apesar da passagem do tempo, este anúncio continua a marcar presença na televisão portuguesa, algo único entre os mercados onde a marca opera, e houve até ameaças dos consumidores quando tentaram mudá-lo.

Franco Martino destacou que, na época do lançamento em Portugal, a cultura de consumo de chocolate estava mais desenvolvida no país do que noutros mercados mediterrâneos, o que facilitou a aceitação do produto.

“O Ferrero Rocher já não é património da Ferrero em Portugal. É património do povo português“, garante Franco Martino.

O diretor de comunicação relatou ao Observador que o anúncio, inicialmente com uma gralha, foi corrigido, mas, “por petição popular”, voltou à versão original. Em 1997, quando começou a trabalhar com a marca em Portugal, Franco detetou uma gralha no anúncio que, na altura, era exibido há já dois anos nas televisões durante o Natal.

As personagens seguem no carro quando, de chapéu amarelo, a Senhora confessa a Ambrósio que lhe apetecia “tomar algo”. No entanto, “tomar é beber”, e é esse erro que Franco pediu para que fosse corrigido. No entanto, era tarde demais porque o “tomar algo” já estava enraizado. “Recebemos mais de 600 cartas e não sei quantas chamadas telefónicas a pedir de volta o ‘tomar’”, conta o diretor de comunicação. Assim, ficou decidido manter “a palavra não correta por petição popular”.

O diretor de comunicação garante ainda que os portugueses não querem deixar para trás este popular anúncio, passem os anos que passarem: “Os portugueses não querem renunciar. O Ambrósio e a Senhora já fazem parte da iconografia da comunicação de Portugal”.

Este é talvez o anúncio mais antigo na história e Franco garante que ninguém “poderia acreditar que um anúncio de 1995 ainda é emitido em 2024, mas é a realidade”.

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