Este País já nem é para mais de 35!
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Comentava comigo – uma alta responsável por uma empresa de recrutamento – que a idade máxima até à qual as empresas procuram colaboradores em Portugal é de… 35 anos. Leu bem, 35.
Sabia, de há anos, que este País não é para velhos. Que por aqui não se valoriza o saber e a passagem de testemunho. Que os cabelos brancos, no mercado laboral, voltaram a ser só isso: cabelos brancos. Que a idade se descarta. E, pior, que não se contrata.
Só que este País também não é para novos. E a discussão da fuga de talento continua sentada à mesa. Não se consegue recrutar, dizem. Não há candidatos, comentam. Temos falta de colaboradores, garantem.
A verdade é que se contrata por baixo os jovens que não querem – legitimamente – ir para fora, pelo que a rotatividade passou a ser sinónimo de empregabilidade. Descarta-se para recrutar quem tem mais de 30, porque já estará obsoleto. E dispensa-se quem se aproxima dos 60, porque é velho… numa sociedade envelhecida e onde a taxa de nascimentos de cidadãos não portugueses poderá, em breve, aproximar-se de realidades europeias como a francesa.
Claro que tudo isto, argumentarão alguns, pode acabar por ditar mudanças sociais e do tecido empresarial que não serão necessariamente más, com algumas profissões e ofícios a serem recuperados. Mas num País onde o Estado social está em falência, onde as escolhas de bem-estar para os mais velhos não são, de longe, para todos, não se deveria misturar melhor e voltar a dar todos estes dados? Sabem aquela campanha que a MEO lançou há uns meses, contra a solidão, e onde cruzava jovens estudantes com senhorios de mais idade? E que tal fazer disso uma ideia para outros quadrantes sociais e empresariais? Talvez alguns dos nossos “dramas” ficassem menos isso mesmo, dramas. E talvez, só talvez, ficássemos todos mais ricos. De valores e maior valor. Mas é só uma ideia, digo eu…
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 333 de Abril de 2024