É verdade, fui jantar à Drogaria
Em miúdo, Paulo Aguiar lembra-se de descer a rua e ir vezes e vezes sem conta à drogaria do bairro, do Sr. Albino, fazer compras. Sempre gostou do espaço, mas nunca, nessa altura, pensou que um dia viria a ser seu. Não como drogaria mas antes transformado em restaurante, sonho de há muito. Claro que Paulo fez questão de manter a memória e, por isso, à casa que agora tem o chef David Casaca ao comando, chamou Drogaria. Assim como tratou de garantir alguns objectos e móveis. Para que a história se continue a contar.
O actual interior foi decorado pelo arquitecto Rui Erhart e a história que, agora, por ali se conta, vale a pena folhear.
Entre a Lapa e a Pampulha, com propostas que prestam homenagem aos sabores e ingredientes portugueses, há de facto um prólogo, uma narrativa e o epílogo. David Casaca casou a sua experiência de trabalho – já passou por casas como Bica do Sapato, João Sá, York House, Tágide, Rota das Sedas e Ritz Four Seasons – com as experiências de vida e viagens de Paulo. Desde o início de Julho no restaurante Drogaria, diz que a sua cozinha ambiciona criar pratos que valorizem a experiência contemporânea e criativa da cozinha tradicional portuguesa.
O resultado é uma carta simples, mas complexa. Porque há muito e bom trabalho por ali. É o caso das gyozas de cozido à portuguesa que, diz quem come, é de pedir por mais. Ou o carapau curado com coentros, malagueta, pickles e ervas que, lhe garanto, o vai levar a querer limpar o prato. E, isto, só para começar.
Depois, seguimos com um polvo assado, batata doce e malagueta, no ponto de tenro e saboroso; e acrescentámos peixe do dia!!! A tudo, um obrigado. Claro que há carne – como porco ibérico com xerém de berbigão – e, sempre, uma opção vegan que vai buscar ingredientes do dia. Sim, porque sazonalidade também é palavra cara por aqui.
Agora, a carta de Outono traz novos sabores como ovos com cogumelos e farinheira; polvo com feijão, chouriço e farinha de milho; magret de pato; bochechas de porco; as opções vegan e vegetarianas; e, para, terminar a tarte de framboesa ou a brisa de lis que já por lá constavam e não devem sair tão cedo.
“Fomos longe e tivemos saudades. Voltamos ao bairro, com ideias e sabores. Somos a favor dos produtos locais da época. Gostamos do mar, das hortas e dos mercados. Dos pequenos produtores, dos lojistas, dos vizinhos e das visitas”, refere a equipa do Restaurante Drogaria.
Texto de M.ª João Vieira Pinto