Sem poderes especiais e sem conseguir ouvir a voz do pensamento dos seus interlocutores, o mentalista João Blümel afiança que consegue influenciar para que as pessoas pensem em determinadas coisas. «Sou especialista a ler linguagem corporal e a transformar isso em entretenimento.» Em geral, nos seus espectáculos chama pessoas ao palco, pede-lhes para pensarem em determinados temas e tenta adivinhar o que elas estão a pensar. «Tem a ver com analisar a linguagem corporal, a forma como comunicam e utilizar isso para influenciar/manipular com entretenimento.»
Trabalhando nesta área há quase 20 anos, já teve apresentações em vários países e criou o primeiro espectáculo do mundo que combina mentalismo com alta tecnologia, nomeadamente realidade virtual, realidade aumentada, realidade mista e IA. Aliás, nos anos mais recentes tem marcado presença em eventos de cariz tecnológico. «Até há cinco anos aquilo que fazia era um espectáculo de mentalismo muito normal. Até que, em 2018, experimentei pela primeira vez uns óculos de realidade virtual. Foi aí que vi todo um mundo extraordinário que se abria», contou na 24.ª Conferência Marketeer.
Em 2020, João Blümel conheceu Tiago Rodrigues, um programador de realidade virtual que tivera conhecimento que o primeiro ia lançar um espectáculo com tecnologia. Da evolução desse primeiro contacto seria estabelecida uma liga-ção que viria a resultar no nascimento da XYR (Xtend Your Reality), uma empresa de extended reality que engloba realidade virtual, realidade aumentada e IA.
Tiago Rodrigues confessa-se um apaixonado por gaming desde pequeno, tendo começado sozinho a explorá-la, aprendendo 3D, programação e a escrever histórias de jogos. Tinha um sonho escondido de um dia vir a fazer um jogo. «Tive a sorte de, em 2021, ganhar um prémio da PlayStation» e, desta forma, conseguiu levar o seu jogo avante.
Quando conhece o João Blümel, começa a fazer projectos de realidade virtual adaptados a mentalismo. Nesse seguimento esteve na Cinema Makeup School – «a escola número 1 de efeitos práticos (máscaras dos aliens e tudo o que não seja computorizado, que seja maquilhagem, mas que pareça real) em Hollywood» –, criando depois uma empresa nos EUA para o desenvolvimento de metaversos (criou para várias empresas e celebridades). Hoje é fundador da RBI (empresa que desenvolve jogos) e da XYR.
Juntos, João Blümel e Tiago Rodrigues, quiseram apresentar no palco da conferência da Marketeer algo que acreditam vai adicionar uma novidade à indústria, ao marketing e à forma como é feito negócio. Trata-se dos digital twins.
João Blümel volta atrás no tempo e conta que, em 2021, foi convidado para desenvolver uma experiência para o Pavilhão de Portugal na Expo Dubai. Aí fez 21 espectáculos que promoviam a cultura portuguesa através do entretenimento e da tecnologia. Tiago Rodrigues tratou da parte técnica e nesses espectáculos as pessoas podiam interagir com objectos tipicamente portugueses: uma garrafa de Vinho do Porto, um pastel de nata, uma t-shirt do Ronaldo. «No final conseguiam materializar esse objecto e levá-lo para casa», conta o mentalista.
Foi a partir daí, conta, que surgiu a ideia de pegar no conceito de réplicas digitais – os digital twins – e transportar não só para o entretenimento, mas para a indústria.
Por exemplo, um cliente num stand de carros, quer ver um determinado modelo que não existe em exposição. Consegue–se ter os vários modelos dentro da realidade virtual, sendo possível interagir com o mesmo, ver todos os detalhes no interior e no exterior do mesmo. E permite até ir mudando detalhes, como a cor do carro, a dos estofos ou outras variantes.
Se o cliente estiver numa loja de móveis também consegue aceder a todo o catálogo de produtos dessa loja dentro dos óculos, podendo ver como determinado móvel fica no espaço para onde está a adquiri-lo, experimentando diferentes tamanhos e padrões.
«Estamos a usar digital twins, mas em vez de ser em realidade virtual é em realidade mista. Consegue-se pegar nos objectos e colocá-los no ambiente desejado», explica João Blümel.
O seu sócio, Tiago Rodrigues, salienta ainda a possibilidade de os utilizar para treino técnico, sendo possível operar máquinas sem ter os custos de ter a máquina física nem os custos de avaria do material, no caso de o treino correr mal. Ou a hipótese de serem usados em feiras ou eventos, permitindo que a marca que os esteja a usar leve apenas um protótipo, sendo os restantes digital twins que se lhes podem sobrepor. No local consegue-se ver o real, mas dar opções ao cliente para ver em realidade virtual outras possibilidades.
Para culminar a sua intervenção, os responsáveis da XYR demonstraram ainda, perante a plateia no Sagres Campo Pequeno, o funcionamento de um digital twin com IA e forma humana que pode funcionar como guia de um museu (pode ter a aparência de uma artista e ter informação sobre todas as peças do museu acompanhando a visita e explicando cada peça aos visitantes), ou um concierge a vender um carro de luxo (fornecendo todos os detalhes técnicos que o cliente solicitar e alterando cores, materiais ou extras), ou uma casa (terminada, em construção ou por construir). No fundo, pode dar toda a informação com que for carregado.














