De Florença ao ChatGPT vão sete séculos de Renascimento
Por Bruna Ferreira, storyteller e content manager na Quidgest
Num caldeirão cultural e intelectual chamado Florença, que proporcionou ao mundo uma explosão de conhecimento, criatividade e novas possibilidades, figuras como Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Filippo Brunelleschi, Andrea Vesalius, Galileu Galilei, Dante Alighieri ou Nicolau Maquiavel protagonizaram uma série de descobertas nas artes, ciências, astronomia, literatura, anatomia, filosofia ou política.
Sete séculos depois, os investimentos generosos, as rivalidades e alianças estratégicas, as famílias e os mecenas poderosos são outros que não os Medici ou os Pazzi. Os recursos e ferramentas para aprender e aperfeiçoar habilidades e competências, bem como projectar cidades e nações no cenário internacional, deixaram de estar ao alcance só de alguns. O Renascimento do potencial humano faz-se hoje à boleia de uma Inteligência Artificial generativa mais acessível, eficiente e confiável do que as suas predecessoras.
Como humanidade, (re)vivemos um ambiente de efervescência criativa novamente único, com níveis de excelência tecnológica e democratização do conhecimento sem precedentes. Com outro tipo de esplendor artístico e maestria técnica, é certo. Diferentes intercepções de disciplinas para impulsionar o progresso e os desafios que fazem avançar o mundo de agora. Mas, claramente, e como disse o autor de bestsellers Brian Tracy, “Esta é uma era verdadeiramente fascinante para se estar vivo. Nunca antes tivemos à nossa disposição tantas possibilidades e oportunidades para concretizar os nossos objectivos.”
Trabalhar em Marketing, por exemplo, é acolher diariamente nas nossas equipas ChatGPT, Deepl, Bard, Stable Diffusion, Midjourney, Synthesia ou Genio, entre tantas outras plataformas alimentadas por Inteligência Artificial, Machine Learning e Generative AI. Até Leonardo da Vinci acreditava que, para compreender plenamente alguma coisa ou tarefa, era necessário vê-la sob, pelo menos, três perspectivas diferentes. É isto que estes novos “colegas” nos ajudam a fazer: a obter sugestões originais para slogans, a traduzir conteúdos de forma automática, a expandir o leque de argumentos disponíveis, a estimular a nossa criatividade para brainstormings e resolução de problemas, a gerar vídeos a partir de ideias ou a construir sistemas de informação complexos a partir de modelos, bebendo de uma inigualável fonte de conhecimento que transcende as limitações das mentes humanas mais brilhantes.
É tempo de trazer de volta aquilo que Frans Johansson designou de “Efeito Medici”, no livro com o mesmo título. É tempo de redescobrir e dar novo significado aos clássicos, de inverter as premissas, de perspectivar a forma como pensamos sobre nós mesmos, o mundo, o trabalho e o conhecimento. É tempo de renascer para novas formas de aprender sem decorar, de abraçar a realidade virtual e não apenas imaginá-la, de não temer a robótica, mas sim o desperdiçar do talento humano em tarefas que em nada o dignificam, de esculpir com impressão 3D e não apenas com as mãos, de desenvolver soluções digitais sem precisar de escrever uma única linha de código.
Está aberta uma nova temporada de verdadeiras equipas de génios, diversas nas inteligências humanas e artificiais que combinam e nas fronteiras temáticas e espaciotemporais que deixam cair por terra. São elas globais na sua capacidade de descompartimentar disciplinas, idiomas, géneros, idades, culturas, negócios e experiências – e exponencialmente produtivas ao automatizarem 60% a 70% das actividades que perfazem o seu tempo de trabalho, gerando entre 2,6 e 4,4 mil milhões de dólares em produtividade anual, como calculou a Mckinsey & Company num estudo recente.
O legado visionário daqueles que desafiaram geocentrismos, teocentrismos e outros ismos dominantes nos séculos XV e XVI inspira-nos a continuar esta jornada interdisciplinar de polimatia, que inova a partir de ligações improváveis e é diariamente responsável pela criação e disrupção de milhões de profissões (e soluções) que contam com novos aliados tecnológicos super-inteligentes.
Demorámos 5 mil anos para ir da invenção da escrita à imprensa, 500 anos para ir da imprensa até ao e-mail, mas bastou um piscar de olhos de dois meses para colocar mais de 100 milhões de pessoas a utilizarem diariamente um chatbot que escreve, interage, processa informação e responde a desafios mais depressa e, muitas vezes melhor, do que um ser humano. Renascer a partir da vida e da profissão que estávamos habituados a ter parece-me, portanto, o mínimo que se espera de nós como humanidade, a partir de agora.