Da tolerância

Editorial
Maria João Vieira Pinto
28/09/2025
11:12
Editorial
Maria João Vieira Pinto
28/09/2025
11:12


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M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

No meu tempo de criança, a minha avó sentava à mesma mesa filhos, netos, genros e noras, e convicções extremadas. Servia-se doses generosas de discussões políticas, conversa e “gritos”. No final, havia riqueza e ganho e partia-se para a sueca, onde as cartas voavam animadas até à mesa. Eu, criança, lembro-me de ficar atenta e muda, a tentar emergir naquele caldeirão efervescente cujas colheradas de ideias me nutriram o querer saber, a formação e informação.

Havia voz alta, sim, e não foram poucas as vezes em que dei pela minha avó a rezar… Só que, por ali, também havia o saber ouvir e o tempo para todos. Por isso, não tardava e a gargalhada chegava.

Vem isto a propósito de uma conversa de amigos onde se falava de tolerância. Ou da falta dela. Onde se comentava que o comentário já não é bem-vindo, que a diversidade de opinião não pode ser diversa, que perfilhar políticas leva, no limite, a quebrar laços. “E no final? Só se fala de futebol?”, diz-se… se bem que esse também é território espinhoso.

A tolerância vai muito para além da cor da pele. Vai para a capacidade de perceber que há ideias, ideais e visões diferentes. Que não se concordando, se pode ouvir. Que mesmo não defendendo, se pode contrapor sem ofensa. Que por vezes se engole em seco, mas sabendo que só assim deve ser.

Conversar ou discutir sem insulto é bem valioso. Coisa já rara, dizem-me, que importaria preservar. Porque, no final, ganhamos todos e bem mais que a simples capacidade de tolerar. Ganhamos informação e conhecimento, concorde- se com ele ou não.

Como chegamos a este degrau? Arriscar- me-ia a aventar hipóteses. Mas não quero criar discussão agreste à volta disso… pelo que me fico por aqui!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 350 de Setembro de 2025




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