Conhecimento para responder aos desafios
A entrada de startups no universo dos seguros trará novos desafios aos players do sector e obrigará a repensar as estratégias. Apesar do trabalho desenvolvido, é reconhecido que existe potencial para fazer melhor, especialmente no que respeita ao tratamento de dados, que será determinante para singrar no futuro.
Texto de Rafael Paiva Reis
Fotos de Pedro Simões
Há décadas que as seguradoras recolhem e analisam dados, que são usados para a criação de novos produtos. Mas, na era da Big Data e da Internet of Things, questiona-se se o sector dos seguros estará a explorar ao máximo o potencial dos dados que possuem. Por outro lado, verifica-se o aparecimento de startups a actuar nesta área, que exploram ao máximo os dados que detêm. Estamos perante um novo cenário para seguradoras, que terão um desafio pela frente, tendo como mais–valia as várias décadas (em alguns casos centenas) de anos de experiência e know-how que têm permitido uma adaptação às tendências dos seguros em Portugal.
«O futuro será o seguro on demand, com as pessoas a accionarem seguros apenas quando necessitem dos mesmos. Esse será um dos grandes desafios do sector», apontam os presentes no pequeno-almoço debate do sector dos seguros, organizado pela Marketeer.
À conversa estiveram Carlos Carvalho (Lusitania), Cristina Brandão (Tranquilidade), Ester Leotte (Advance Care), João Gama (Mapfre), José Villa de Freitas (Fidelidade), Mariana Monteiro (Eurovida/Popular Seguros), Marta Vicente (Ageas), Rodrigo Esteves (Liberty) e Susana Fava (Crédito Agrícola), que acordaram que o sector tem muito potencial para explorar e, assim, fazer frente aos futuros desafios do mercado. «Falta uma disrupção no panorama actual. Mas acontecerá, certamente», vincam.
Novos players, novos desafios
Uma das grandes alterações que tem surgido no sector de seguros reside na concorrência vinda de players que não operam nesta área. A Asics, fruto dos seus dispositivos de monitorização de actividade, equaciona a possibilidade de vender seguros, uma vez que tem acesso a indicadores de saúde dos clientes. A Tesla pretende vender os seus modelos com um seguro já incorporado. Isto significa que o aumento de dados pode levar ao aparecimento de novos players na área dos seguros.
Há décadas que as seguradoras trabalham com dados sendo, inclusive, a base dos produtos que disponibilizam. «Aliás, muito poucas indústrias trabalham dados há tanto tempo quanto nós. Hoje fala-se em data scientists como uma nova profissão, mas nós temos os nossos actuários, que desempenham essa tarefa há várias décadas», referem os presentes. Apesar do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, é reconhecido que o sector dos seguros apresenta potencial para alcançar mais resultados. E uma das apostas poderá estar nos produtos acessórios. Trata-se, inclusive, de uma área que já está a ser explorada por startups, que começam a explorar oportunidades e a apresentar propostas que ainda não existem no sector. Os responsáveis presentes no pequeno-almoço acreditam que estas startups estarão atentas à customer journey, detectarão os problemas e entrarão e actuarão no mercado apenas numa vertente específica.
«O futuro do sector passará por produtos on demand, com as pessoas a accionarem seguros em situações específicas e pontuais», referem os presentes. No caso dos drones, por exemplo, já existe uma seguradora norte-americana que disponibiliza um serviço deste género, podendo o utilizador usufruir de um seguro apenas quando está a pilotar este dispositivo.
Perante esta eventual concorrência, o processo de fidelização dos clientes poderá afigurar-se mais problemático. «Será a credibilidade de cada marca que irá fazer com que o consumidor escolha um player em detrimento de outro», vincam os presentes.
Mais tecnologia, mais riscos
No universo dos seguros automóveis, o futuro aponta à condução autónoma, o que se traduzirá num menor número de erros humanos e, consequentemente, na diminuição do risco. E esta situação poderá impactar o negócio das seguradoras, fruto da redução da sinistralidade nas estradas. Por outro lado, criam-se questões que representam novas oportunidades de negócio. «Em termos de seguro automóvel, haverá um conjunto de novos riscos que não estão a ser equacionados, como os ciberataques. Enquanto seguradores e gestores de riscos, vamos começar a olhar para o risco de outra forma. E isto irá reinventar a forma como faremos negócios», afirmam os presentes no pequeno-almoço.
Com o aumento da tecnologia presente nos lares portugueses, e de uma relação ainda mais estreita entre o homem e a máquina, o consumidor terá noção de que, quanto maior for contacto com a tecnologia, maior será o risco de ciberataques. Isto resultará numa mudança de paradigma, levando o utilizador a estar mais atento e consciente para a questão da segurança virtual, o que poderá traduzir-se numa maior procura por soluções de protecção tecnológicas.
No entanto, ao olhar para o perfil do consumidor de tecnologia, este apresenta um nível maior de exigência e ambiciona mais comodidade. «O pensamento é: ao comprar um produto, esse tem de estar preparado para me proteger», afirmam os presentes. Neste caso, caberá às empresas disponibilizar produtos que já sejam dotados de tecnologia que permita proteger o consumidor, sem o mesmo ter de a solicitar.
Este perfil é mais visível nas novas gerações, mais tecnológicas e sedentas de informação, pelo que cedem os seus dados desde que algo de relevante seja retribuído. «Mas há uma carência de legislação para estas tecnologias, pelo que o desafio futuro é ainda incerto», afirmam os responsáveis. Mas antevêem que, num cenário futuro, os players que sobreviverão neste novo contexto serão os que demonstrem a capacidade de se juntar às startups, trazendo, deste modo, novo conhecimento histórico das seguradoras.
Olhar para dentro
Existe uma cada vez maior conjugação entre o Marketing e os Recursos Humanos no sector empresarial em Portugal, assistindo- -se, neste caso, a uma transformação das seguradoras em employers branding.
O papel da comunicação interna tem vindo, assim, a ganhar novos contornos, havendo um número crescente de iniciativas em prol dos colaboradores. «A comunicação interna é importante, pois faz com que os colaboradores sintam a empresa, a sua ideologia e os valores, permitindo fidelizar os próprios colaboradores. Isto gera um espírito de pertença, aumenta a motivação e permite que se atinjam resultados melhores», sublinham os responsáveis no pequeno-almoço.
Com a criação de eventos internos, as marcas conseguem aproximar equipas, estreitar relações entre os trabalhadores e promover um maior espírito de camaradagem.
Resultante desta aposta, as seguradoras obtêm mais reconhecimento, assistindo-se a uma transformação desta área, posicionando- se como um sector capaz de atrair pessoas dentro e fora do universo dos seguros.
Artigo publicado na edição n.º 253 de Agosto de 2017.