As notícias da morte dos criativos são manifestamente exageradas
Opinião de Nuno Matos Cabral, Designer
Não tenham medo. A criatividade é um dom exclusivamente humano. Nasce da intuição, das emoções, da cultura, da capacidade de conectar o inesperado, daquilo que cada um de nós já viveu ou vive. É nesse terreno que a IA entra, não como rival, mas como aliada, como um instrumento ou ferramenta. O pensamento criativo é a ignição que dá origem a ideias, e esse vem do criativo/designer, a IA é o motor que pode potenciá-los.
Vivemos uma transformação tecnológica sem precedentes, uma nova “revolução industrial”, onde a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma ferramenta poderosa que desafia e eleva o papel dos criativos. Muitos questionam se a IA ameaça substituir a criatividade humana, eu próprio já fiz essa reflexão. Na verdade, a conclusão a que cheguei, é que a IA amplifica e abre um mundo de possibilidades para designers e criativos, tal como para tantas outras áreas, nomeadamente na investigação científica.
A Inteligência Artificial processa dados e padrões em segundos, acelera simulações e gera múltiplas soluções. Ferramentas como MidJourney ou DALL-E ajudam a produzir conceitos visuais que inspiram novas direções criativas. No design de produto, a IA otimiza formas e materiais, permitindo prototipagem virtual ou “guidelines” visuais, poupando recursos. Menos tempo em tarefas repetitivas significa mais disponibilidade para a verdadeira criatividade e/ou inovação.
A IA não tem intuição ou emoção, não lê entre as linhas, é a sensibilidade humana que transforma os dados em emoções, que confere o ADN a cada projeto, o papel da IA é amplificar possibilidades. Cabe ao criativo liderar o processo, dar significado ao algoritmo e criar soluções com um propósito e com uma história que o próprio experienciou ou que lhe serviu de inspiração. A IA nunca poderá substituir-se às experiências e às vivencias que cada um de nós já viveu e que pretende imprimir em cada projeto que está a criar.
A sustentabilidade é hoje uma exigência, a IA ajuda a prever impactos ambientais, otimiza materiais e processos produtivos, criando soluções mais eficientes e amigas do planeta. Num mundo onde os recursos são limitados, o papel da IA como ferramenta de design responsável torna-se vital, mais que não seja como facilitador de dados e na sua interpretação. Por exemplo, no design biofílico, a IA pode sugerir modelos complexos de integração ou inspirados na natureza, mas só a visão humana é capaz de capturar a essência do que traz bem-estar a quem vive ou trabalha num determinado espaço.
O futuro, certamente, não será sobre designers versus IA, mas designers com a IA. A utilização responsável da IA liberta-nos das tarefas repetitivas e desafia-nos a criar mais, melhor e com maior profundidade. O tema nunca será sobre a substituição da criatividade humana, mas sim, sobre potenciá-la a níveis inimagináveis.
O equilíbrio entre o poder do algoritmo e a sensibilidade humana definirá a próxima era não só do design, mas de tantas outras áreas. A IA veio para ficar, cabe-nos utilizá-la com um propósito, com bom senso e acima de tudo com verdade. Na realidade, a verdadeira inovação já está a acontecer, quando as capacidades da IA vão de encontro à criatividade humana. O futuro já começou e a verdadeira questão não é se estamos preparados para a IA, mas como vamos utilizá-la para criar algo extraordinário. O resto são notícias manifestamente exageradas.