Lembra-se do Snob na rua de O Século, no Bairro Alto? Reabriu
Há lugares que são testemunhas de gerações inteiras e que, se falassem, contariam histórias daquelas de despertar a atenção aos mais distraídos. Neste caso, não é uma parede mas uma emblemática porta verde que assume esse lado de confidente de vários tempos, gerações e, até, de culturas.
Falamos do Snob, o bar situado no nº 178 da rua do Século, no histórico Bairro Alto, no coração da capital alfacinha. Após algum tempo fechado, a inauguração aconteceu e o Snob voltou a abrir a sua porta verde. Uma cuidadosa renovação, que preserva a essência em cada detalhe, promete o regresso às tertúlias e às receitas que o tornaram incontornável ao longo dos últimos 60 anos.
História do Snob
Inaugurado a 16 de novembro de 1964 pelo jornalista Paulo Guilherme D’Êça Leal, o Snob foi adquirido em 1967 por Adriano Oliveira, tornando-se rapidamente um refúgio de liberdade para intelectuais, jornalistas, artistas e políticos. Localizado no Bairro Alto, onde funcionavam muitas redações de jornais, tornou-se um ponto de encontro de jornalistas e um local privilegiado para personalidades políticas e intelectuais. Foi frequentado por escritores como José Saramago e José Cardoso Pires, cineastas como João César Monteiro, músicos e atores como Carlos do Carmo e Simone de Oliveira, além de quase todos os presidentes da República e vários ministros.
A sua decoração, inspirada em bares tradicionais, com a sua meia-luz, constante de livros, candeeiros de latão e pequenas mesas de madeira, criava o cenário perfeito para discussões e conversas que marcavam gerações.
O legado do Snob é indissociável da presença constante do Sr. Albino Oliveira na sala e da D. Mariana na cozinha. Conhecidos pela sua discrição e atenção aos detalhes, fizeram com que todos os frequentadores se sentissem em casa. Ele e a D. Maria, responsável pela cozinha desde 1967, promoveram sempre um ambiente acolhedor e amigável, que fez do Snob um verdadeiro “refúgio de família”. Para Miguel Garcia, do Grupo São Bento, “o Snob é único e irrepetível”.
Com um legado histórico que se cruza com a política e a cultura dos últimos 60 anos em Portugal, o Snob é mais do que um bar: foi uma agência de notícias informal, onde, a partir da mesa 10, se partilhavam novidades e discussões que moldaram a história recente do país. Cada marca nas madeiras das suas cadeiras ou estantes é testemunho desse tempo e das inúmeras conversas que ali se cruzaram e que se manterão no futuro.
Na sua nova fase, o Snob preserva o que tem de mais autêntico, ao mesmo tempo que quer renovar os seus espaços para manter a essência. A decoração privilegia a autenticidade e o ambiente acolhedor, que sempre caracterizou este local, enquanto se adapta às novas exigências do presente.