CEO da Altice Arena: «Este projecto servirá como case para poder ser replicado em outros países»

A Altice Arena está mais acessível a pessoas com deficiência. Em conjunto com a Access Lab, a Altice Arena tem vindo a desenvolver, nos meses mais recentes, o projecto Acessibilidade, que visa tornar a cultura acessível a todos.

Denominado AAA – Access All Areas, este projecto tem um posicionamento de inclusão para se aproximar de pessoas com deficiência e surdas. «É um orgulho para toda a equipa em conjunto com a Access Lab estar aqui hoje [ontem, 2 de Maio], a colocar todas estas soluções, que não tínhamos há uns meses, ao serviço das pessoas. É isso que nos move», disse à Marketeer Jorge Vinha da Silva, CEO da Altice Arena.

Para chegar ao momento de apresentação destas novidades foram feitos vários investimentos na Altice Arena: ao nível do edifício, para facilitar ainda mais a entrada de pessoas com mobilidade condicionada; no bar, para oferecer um serviço de bar com melhor acesso a quem está em cadeira de rodas; e perto do palco, uma plataforma ao nível da arena para que, em alguns eventos, as pessoas de mobilidade condicionada possam escolher para que local querem adquirir o seu bilhete. Além disso, também o site teve alterações e responde agora de forma mais optimizada a vários níveis de deficiência, contando com a página Acessibilidade onde se pode encontrar informações pertinentes para esta comunidade.

Ao nível de experiências em concertos foram feitos testes pilotos de audiodescrição, para pessoas com deficiência visual, e coletes sensoriais para pessoas surdas.

A estreia da audiodescrição (uma forma de narração utilizada para fornecer informações sobre elementos visuais chave. O audiodescritor está num espaço próprio a descrever em directo para o auricular que os deficientes visuais têm) na Altice Arena aconteceu a 13 de Novembro de 2022, com um concerto de André Rieu.

A 28 de Janeiro deste ano, num concerto de Michael Bublé, a Altice Arena estreou em Portugal uma tecnologia sensorial inclusiva, recorrendo a coletes sensoriais que permitem sentir a vibração da música e em simultâneo, as músicas são interpretadas por duas intérpretes de Língua Gestual Portuguesa).

«O nosso objectivo sempre foi disponibilizar estas experiências em mais eventos e, por isso, a 2 de Maio, pela primeira vez, juntamos num só concerto todas as melhorias que temos feito para tornar a Altice Arena mais acessível para todos», afirma Jorge Vinha da Silva.

A Marketeer esteve presente, ontem, no concerto dos D’ZRT e assistiu à reacção dos utilizadores dos novos equipamentos (também testámos os coletes e conseguimos ter uma ténue noção do que representará para uma pessoa surda). Em conversa com Jorge Vinha da Silva ficámos a saber mais detalhes de todo este projecto.

Desde o inicio abraçou este projecto. Porquê?

Abracei-o como um projecto da Altice Arena. Envolvi-me desde o primeiro momento. Dá-me um prazer especial poder disponibilizar todas estas soluções a pessoas que já têm, em determinadas circunstâncias, um dia-a-dia com dificuldades arquitectónicas. Basta andar por qualquer cidade do mundo e há sempre barreiras. Todos nós podermos fazer um esforço para obviar a isso, não só para quem tem dificuldades de mobilidade – porque este projecto é muito mais do que isso, incluindo as pessoas cegas e as pessoas surdas. Queremos tentar ser o mais abrangentes possível. É esse bem-estar de estar a ajudar a fazer algo que é positivo e que vai ajudar essas pessoas que me fez envolver também como mais um elemento da equipa – que é o que sou – e dar o apoio máximo a tudo isto que estamos aqui a fazer.

É fácil convencer administrações quando um projecto destes implica custos?

Um espaço como a Altice Arena que recebe mais de um milhão de visitantes por ano, que tem mais de cem eventos, tem que ter espaço para temas como são a sustentabilidade e a inclusão da sua forma mais abrangente. As organizações e as empresas têm de ter a capacidade de devolver à sociedade parte da sua actividade diária, do seu negócio. O devolver à sociedade é também providenciar melhores condições às pessoas que nos vistam. Estamos a celebrar 25 anos este ano e claro que um edifício com 25 anos tem desafios do ponto de vista de arquitectura e temos de continuar a perseguir essa evolução. É um pouco isso que nos move e claro que todo este projecto envolve investimento, mas fazemo-lo com muito gosto. Tanto eu como os meus colegas de administração somos entusiastas do projecto desde o primeiro momento. É um orgulho para toda a equipa em conjunto com a Access Lab (o Tiago Fortuna e a Jwana Godinho têm sido inexcedíveis) estar aqui hoje [ontem, 2 de Maio], a colocar todas estas soluções, que não tínhamos há uns meses, ao serviço das pessoas. É isso que nos move.

Porquê a escolha desta data? Há algum simbolismo?

Não… O trabalho foi progredindo ao longo dos últimos meses. Tivemos o cuidado de testar cada um das soluções. Em Novembro do ano passado, no espectáculo do André Rieu testámos a audiodescrição. Em Janeiro, no Michael Bublé, testámos os coletes sensoriais. Entretanto fizemos as obras, do ponto de vista de arquitectura de adaptação do edifício. E chegámos ao momento em que, estando tudo pronto, avançámos. Lançamos o projecto e disponibilizamo-lo à comunidade.

A Altice Arena faz parte de uma associação europeia de arenas – somos 37 arenas de 25 países e orgulhosamente represento a Altice Arena na vice-presidência – que é um espaço de partilha. E este projecto servirá para partilhar com os colegas da associação, que não o façam ainda de forma tão integrada, como case para poder ser replicado com as devidas adaptações em outros países.

Mas algumas já o fazem?

Sim, claro. A O2 de Londres é um bom exemplo de inclusão. Temos dado esses passos e, no seio da associação, somos hoje já vistos como um bom exemplo e um case a seguir. Quem já está numa fase mais avançada de disponibilizar este tipo de soluções, partilha. O movimento associativo serve para isso mesmo e tentar que, do ponto de vista da associação, todos se posicionem o melhor possível relativamente ao tema da inclusão.

Quantas pessoas com este tipo de limitações consegue a Altice Arena receber por espectáculo?

Com as capacidades que estamos a adicionar hoje, para além das 40 que já existiam,  com a nova plataforma, a audiodescrição e os coletes, quase que duplicamos essa capacidade. Claro que é sempre bom poder providenciar a mais pessoas uma melhor experiência, mas a ideia e o que nos move é que não é só a quantidade, mas também (e muito) a qualidade da experiência. É esse um dos grandes pilares do projecto.

Já foi testado, está implementado, mas poderá ser aumentado se a procura o justificar?

Veremos no futuro. Hoje é o começo. Não é o ponto de chegada. Temos o cuidado de, a seguir a cada um dos testes, fazer a análise. E também vamos fazer a análise desta evada em produção. No futuro vamos, claro, continuar atentos a este tema e continuar a tentar integrar soluções que porventura agora ainda não tenhamos. Este não é um trabalho acabado. Na arquitectura do edifício fizemos alguns melhoramentos como o bar com o balcão rebaixado para as pessoas que se movimentam em cadeira de rodas. Por agora é só na parte de cima, mas também vamos ter na zona de baixo. É um trabalho que está continuamente em evolução e o nosso objectivo é continuar a investir no futuro do edifício.

Texto de Maria João Lima

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