8.ª Conferência Marketeer: Como é que as diferentes gerações consomem media (e marcas)
«Ninguém sabe como é que as pessoas de diferentes gerações consomem media. Se o soubéssemos seria talvez muito útil para todos», afirmou esta manhã Ricardo Monteiro, global chairman da Havas Worldwide, durante a 8.ª Conferência Marketeer. Foi precisamente com o intuito de perceber “Como é que as diferentes gerações consomem media e são impactadas pelas marcas?” que a Marketeer juntou à volta da mesa convidados de diferentes faixas etárias (millennials, XYZ e baby boomers), num debate moderado pelo gestor, que está de saída do grupo Havas (e da indústria).
Maria Neffe Leitão (20 anos, estudante de estatística), Tiago Santos (30 anos, consultor de Tecnologias de Informação), Paulo Caldeira (38 anos, militar da GNR), Ana Santos (48 anos, escriturária da Sociedade Portuguesa de Autores – SPA) e Gina Barbosa (59 anos, secretária de uma sociedade de advogados) foram os convidados da Marketeer. Diante de uma plateia repleta de gestores, decisores e marketeers, os cinco comprovaram aquilo que se poderia antever à partida: que diferentes pessoas de diferentes gerações têm formas vincadamente distintas de consumir media e de se relacionarem com as marcas.
No que toca ao consumo de notícias, destaca-se o facto de os três elementos mais jovens do painel preferirem consumir os seus títulos de eleição ou até mesmo agregadores de notícias nas plataformas digitais (web ou apps), com ou sem subscrição, enquanto as duas convidadas acima dos 40 anos confessaram que preferem ler os jornais em papel ou ver os noticiários televisivos. Já no que respeita ao consumo de rádio, as opiniões sugerem uma maior transversalidade deste meio, uma vez que todos os convidados afirmaram ouvir rádio com regularidade (um deles “durante todo o dia”), com a excepção de um elemento, que disse preferir ligar-se ao serviço de streaming Spotify.
Num exercício de memória, os cinco foram convidados por Ricardo Monteiro a revelar qual a marca do último produto que adquiriram e todos eles referiram marca reconhecidas – nas suas respectivas categorias – do público. Ainda assim, os cinco foram unânimes a reconhecer que a publicidade não foi o driver decisivo (pelo menos de forma consciente) para a compra, mas sim a experiência pessoal ou o aconselhamento com amigos/familiares. Os elementos mais jovens revelaram ainda que o processo de pesquisa de informação sobre o produto/marca na Internet é também fundamental para as suas escolhas, enquanto uma das participantes mais antiga chegou a confidenciar que rejeita todos os produtos que são anunciados na televisão, porque “penso sempre que vou comprar aquele produto com um acréscimo de preço que é o custo da publicidade”.
«A publicidade é um meio de notoriedade, e não de credibilidade. O que a publicidade faz é levar os cavalos à água. Depois se eles bebem ou não a água, já é outra questão», recordou Ricardo Monteiro, lembrando que marcas reconhecidas e bem-sucedidas junto do público português, como a Google ou a Apple, «nunca fizeram publicidade em Portugal».
Perante as opiniões veiculadas pelos participantes, Ricardo Monteiro reiterou que «as pessoas são cada vez mais cépticas, e cada vez o poder da media, ao contrário do que se pensa, é menor». E justificou: «A media, como um corpo (jornais e TV), já não existe porque há muito outros substitutos. É mais importante o Twitter ou o New York Times? Ninguém sabe. A Internet trouxe esta grande dispersão de formas de informação.»
Ainda segundo o global chairman da Havas Worldwide, essa perda de influência dos media coloca um problema aos anunciantes, mas não se restringe ao mundo das marcas, como ficou comprovado nas recentes eleições norte-americanas, defendeu. «Se nos EUA se soubesse como é que as pessoas consomem media, provavelmente o resultado eleitoral não teria sido o que foi. Há uma frase famosa do Emídio Rangel que disse que um presidente vendia-se como um sabonete, e que o poder da televisão era capaz de eleger qualquer um para o mais alto cargo da nação. Como vêem, ele estava enganado. Todos os media, dentro e fora dos EUA, não endossaram o Donald Trump para a presidência», afirmou.
Por fim, o gestor deixou a mensagem de que «vivemos num mundo de desconfiança, e temos muita razão para que assim seja, porque a desconfiança é um dos instintos do homem que mais devemos preservar se queremos sobreviver neste mundo de grande dificuldade.»
Texto de Daniel Almeida